Para que todos sejam um. Documento da Comissão Teológica Internacional sobre sinodalidade

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08 Mai 2018

A sinodalidade, no seu desdobramento histórico, tem uma estrutura institucional, normativa, canônica. A forma original em que se manifesta a vocação sinodal do povo de Deus no Antigo Testamento é frequentemente traduzida em grego como ekklesía. É significativo que ela não era constituída apenas pelos homens, mas também pelas mulheres, pelas crianças e pelos forasteiros (cf. Josué 8, 33.35).

A opinião é de Alenka Arko, professora do Seminário Maior Maria Rainha dos Apóstolos, de São Petersburgo, na Rússia. O artigo foi publicado por L’Osservatore Romano, 05-05-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

O “caminho juntos” (em gregos, sýnodos) é o paradigma da história da salvação, o paradigma da aliança que Deus estipula com a humanidade. De fato, Deus cria o ser humano, homem e mulher, à sua imagem, à imagem da comunhão trinitária, porque quer que ele e, nele, toda a criação participem da plenitude de sua vida. Depois, ao longo da história e em todas as suas provações, ele a acompanha com atenção amorosa. Alcançar a meta final do caminho traçado é sempre graça.

O Antigo Testamento testemunha que Deus convoca Abraão e a sua descendência, o povo eleito, para que seja o primeiro fruto e o fermento da comunhão a se expandir para toda a humanidade. O caminho do Povo de Deus, porém, é tortuoso, e é assim por causa da dureza do coração humano que se opõe de muitas maneiras à comunhão.

São, acima de tudo, os profetas que continuamente chamam à conversão e, ao mesmo tempo, encorajam a continuar o caminho, porque Deus é fiel. Na sua misericórdia, ele está sempre disposto a renovar o coração humano, a curá-lo. Ele prepara uma nova aliança, não mais gravada em tábuas de pedra, mas nos corações que ele mesmo transformará (cf. Jeremias 31, 31-34), a aliança que será selada pelo Espírito do Senhor efundido sobre todos (cf. Joel 3, 1-4).

A nova aliança é estipulada em Jesus, Filho predileto do Pai, na sua Páscoa. Da cruz, ele atrai todos para si (cf. João 12, 32) e, ressurgindo, retoma a vida para dá-la como vida filial e fraterna àquele que creem nele. Por isso, Jesus se identifica como “caminho” (hodós). Ele – o mistério da sua pessoa – é a relação estreita com o Pai a quem o Espírito conduz quando dá a possibilidade de entrar na morada de Deus, o cumprimento do caminho de cada indivíduo e de toda a humanidade (cf. Apocalipse 21, 3). De fato, seus discípulos – o novo Povo de Deus, a Igreja – são chamados discípulos do “caminho” (cf. Atos dos Apóstolos 9, 2; 18, 25; 19, 9).

Outra imagem bíblica para a Igreja e significativa para o tema da sinodalidade é a paulina do corpo. O corpo é uma realidade compaginada e ordenada. Nele, todos os membros são necessários, e nenhum deles é superior ou inferior. Todos os membros gozam da mesma dignidade que brota do batismo (cf. Gálatas 3, 28; 1Coríntios 12, 13) e todos são responsáveis pela vida da comunidade de acordo com o próprio dom (chárisma) hierárquico ou carismático recebido, “de acordo com a medida de Cristo” (Efésios 4, 7) em vista da utilidade de todos. É significativo que, entre os dons recebidos, Paulo sempre coloca em primeiro lugar o carisma dos apóstolos, dos quais Simão Pedro é a cabeça (cf. 1Coríntios 15, 5) e considera que o dom maior é o da caridade (cf. 1Coríntios 12, 31).

A Igreja, Corpo de Cristo, é constituída pela participação em um único pão (cf. 1Coríntios 10, 17), na sinaxe eucarística. Não por acaso, a imagem usada pelo apóstolo desde a era patrística inspirou a reflexão sobre a comunhão eclesial. Por isso, podemos dizer que a eucaristia, o sacramento da unidade, é o lugar ordinário da sinodalidade – como evento, processo, mas também incluída no aspecto de sujeitos reunidos, ressaltando a participação estruturada no mistério de Cristo –, celebrada pelos ministros ordenados e distribuídos a todos “na espera da sua vinda”, até o fim dos tempos.

A Igreja tem uma clara consciência disso – a comunhão sacramental é o sinal da comunhão eclesial, mas também o envio à missão para que se cumpra a oração de Jesus: “Para que todos sejam um” (Jo 17, 21).

A sinodalidade, no seu desdobramento histórico, tem uma estrutura institucional, normativa, canônica. A forma original em que se manifesta a vocação sinodal do povo de Deus no Antigo Testamento é quahal/eda, o primeiro termo frequentemente traduzido em grego como ekklesía. É significativo que ela não era constituída apenas pelos homens, mas também pelas mulheres, pelas crianças e pelos forasteiros (cf. Josué 8, 33.35).

O Novo Testamento, em vez disso, nos apresenta um verdadeiro evento sinodal – o chamado Concílio Apostólico de Jerusalém (cf. Atos dos Apóstolos 15 e também Gálatas 2, 1-10) que trata de uma questão relativa à identidade da Igreja – e que condições se deveriam impor aos gentios para serem admitidos entre o povo de Deus. E é significativo que o discernimento de uma questão tão importante seja feito pelos apóstolos na presença de toda a comunidade de Jerusalém.

A história da Igreja, depois desse início, testemunha uma sucessão de sínodos e concílios, tanto no nível da Igreja local quanto universal, convocados para tratar questões teológicas, litúrgicas, canônicas e pastorais. Vemos que tal instrumento eclesial conhece períodos de implementação muito intensos, seguidos por períodos caracterizados por um enfraquecimento da práxis sinodal.

A história também testemunha que, apesar das divisões que feriram e ferem a comunhão eclesial, os processos e os eventos sinodais são tão significativos para a vida da Igreja, que também se conservam nas Igrejas e comunidades eclesiais agora separadas da Igreja Católica.

Por isso, não surpreende que, nos já 2.000 anos da história da Igreja, a práxis sinodal constantemente foi reproposta, tanto por parte dos próprios sínodos e concílios que prescreviam uma certa regularidade da convocação, quanto por parte da vida consagrada (monges de Cluny e as ordens mendicantes) e dos capítulos das igrejas catedrais na Idade Média, quanto ainda pelos bispos individuais (São Carlos Borromeu em Milão, São Turíbio de Mongrovejo em Lima) no período da Contrarreforma, ou por alguns teólogos (John Henry Newman, Antonio Rosmini, Johann Adam Möhler) na intenção de valorizar o sensus fidei fidelium e, portanto, a participação ativa de todos os batizados na vida da Igreja no século XIX.

O Concílio Vaticano II, depois, traçou importantes pressupostos teológicos da sinodalidade: a concepção mistérica e sacramental da Igreja; sua natureza de povo de Deus peregrino na história rumo à pátria celeste; a doutrina da sacramentalidade do episcopado e da colegialidade em comunhão hierárquica com o bispo de Roma.

Os pontífices, por sua vez, nos últimos 50 anos, promovendo a eclesiologia de comunhão, propuseram instrumentos específicos para firmá-la e continuam lembrando, no seu magistério, que uma Igreja sinodal é aquilo que o Senhor deseja e espera.

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