25 Abril 2018
Moysés Pinto Neto
Hoje rolou uma reunião em que participaram Ciro, Bresser, Delfim e Haddad. Nada muito surpreendente, exceto para aqueles que estavam exilados no Alasca nos últimos 15 anos. Delfim esteve sempre bem próximo de Lula, Ciro chegou a ser ministro e Bresser se tornou, recentemente, uma referência econômica para os militantes. Todos são desenvolvimentistas. Atravessando a dicotomia direita/esquerda, consideram que o mais importante é um determinado modelo macroeconômico voltado para a industrialização e crescimento nacional. Não é nada incomum, tanto entre atores de alto quilate (como Lula e Dilma), quanto nas universidades, ouvir-se elogios à política de Geisel quase como se tivessem sido os "anos dourados" brasileiros.
Há outra esquerda que não suporta essas relações e hoje aposta em uma saída mais radical, partindo para o embate da luta de classes como uma saída alternativa, embora ainda não esteja muito claro qual é a plataforma econômica que vai adotar. Essa esquerda paga um custo eleitoral pela decisão de não se misturar ao patrimonialismo e aguarda até que sua base social seja forte ao ponto de levar em frente esse enfrentamento.
Nada contra. Particularmente, acho que fazer política é sujar as mãos, mas respeito quem tem uma posição mais afirmativa de princípios e hostil a alianças com o poder.
O que não dá pra aguentar são aqueles que só veem sujeira nos erros e nas alianças DOS OUTROS. Não dá pra aguentar quem acha que o outro tem marca indelével quando comete erros políticos e faz alianças erradas, mas simplesmente absolve todos do seu lado -- como se, de antemão, tudo já estivesse absolvido por um Bem Maior.
Das duas uma: ou você compra a ideia de que política é negociação e portanto se trata de analisar, sempre, projetos impuros, comparando-os nos seus defeitos e virtudes; ou compra a ideia de que é preciso formar, de baixo pra cima, uma nova maioria capaz de enfrentar as forças políticas poderosas e não negociar. Não dá pra atacar os impuros como se fossem puros e atacar os puros como se fossem ingênuos.
A dança das cadeiras tem seus limites.
Alexandre Araújo Costa
Mesmo tendo Haddad se apressado em negar um caráter eleitoral do encontro entre ele, Ciro, Bresser e Delfim, o referido encontro não é menos simbólico.
Ciro é um desenvolvimentista radical. Disfarçado de esquerda, não hesita em defender o agronegócio, a mineração e a exploração e uso de combustíveis fósseis para impulsionar o crescimento e o "desenvolvimento" econômicos. Para ele, é preciso mais mineração de fosfato para impulsionar a produção industrial de fertilizantes para oferecer custos menores aos ruralistas em suas monoculturas. Para ele, há que se alimentar ainda mas a ciranda do aumento da demanda energética e supri-la à base de termelétricas fósseis e, óbvio, usinas nucleares. É o desenvolvimentismo de Dilma, com anabolizantes e, claro, testosterona.
Bresser foi Ministro da Fazenda de Sarney e Ministro da Administração Federal e Reforma do Estado de FHC, justamente aplicando o receituário neoliberal de "enxugar" o estado via "organizações sociais". Do início da década passada para cá, passou a se dedicar à formulação do que chamam por aí de "Novo Desenvolvimentismo", mas que parece mais uma receita velha de pacto de classes, com algum freio à ultraliberalização, mas sempre na lógica de "crescer o bolo para depois..."
Pois é... E nessa de "crescer o bolo", enfim... Delfim, o icônico ministro da Fazenda da ditadura militar, o mesmo que votou a favor do AI5. Delfim, veja só, era um dos defensores também da política de "desenvolvimento" de Dilma, em especial pela implementação de Belo Monte, empreendimento no qual todos os indícios apontam para interesses além da convicção desenvolvimentista.
Haddad diz que era apenas um diálogo para "atualizar" a situação política, mas a julgar pela decrepitude das ideias de seus interlocutores, um velho e desastroso desenvolvimentismo requentado é o máximo que pode sair da conversa, materializado ou não em chapa presidencial.
Caio Almendra
Sério, gente, de onde vocês tiraram que o triplex não tinha elevador? Fake news é só quando é de direita?
A própria defesa de Lula não contestou a existência de um elevador no apartamento. Tiveram acesso. Teve laudo. A existência do elevador é inconteste.
Não precisa embarcar em mentiras de internet para criticar um processo penal. Juro para vocês que é possível.
Cid Benjamin
O episódio do cancan em Paris, com guardanapos na cabeça, mostra bem como Cabral é um caipira deslumbrado.
Agora os jornais informam que o governo do Rio tinha sete helicópteros. Mas três deles eram mantidos à disposição de Cabral, para transportar amigos, empregados e convidados do governador brega.
Mesmo depois de sair do governo, ele continuava usando os helicópteros, emprestados por seu amigo e comparsa Pezão.
Além de corruptos, esses caras são uns merdas, uns bobalhões deslumbrados.
Gustavo Gindre
Qualquer manifestação popular contra os governos da Venezuela, Nicarágua, Bolívia, Síria, Rússia e Irã é organizada pela CIA.
Eu não tenho provas, mas tenho convicção.
Cid Benjamin
Emenda pior do que o soneto
Diante do fato de a PM de Minas, cujo governador é petista, ter espancado professoras da educação infantil, defensores do partido deram duas respostas.
1. Fernando Pimentel não controla a PM.
Bom, se isso é verdade, ele deve renunciar.
2. Fernando Pimentel abriu um inquérito para investigar "a confusão (sim, confusão!!!) envolvendo as professoras".
Aguardemos, pois. Sentados.
O partido não se manifestou.
E aposto que não vai se manifestar.
Alceu Castilho
"Politizar a prisão de Lula não é a melhor política", escreve Josias de Souza no UOL.
Das duas, uma. Ou um jornalista de tamanha influência é despolitizado (kkkkkk, rarará) ou se está fazendo de despolitizado.
Quem está dizendo que esta é ou não a melhor política está fazendo exatamente o quê? Economia? Culinária? Artesanato?
É o Paradoxo do Josias: "politizar a palavra politizar".
A rigor, qualquer pessoa que reclame que estão querendo "politizar" isto ou aquilo também está fazendo política. De um modo supostamente isentão. Em 99,99% dos casos (apenas para o benefício da dúvida), a favor de quem tem o poder.
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Caso 2: o prefeito de Belo Horizonte justificou a barbárie contra as professoras da rede de ensino municipal - a Tropa de Choque contra mulheres e crianças - dizendo que elas e o sindicato estão querendo "politizar" o tema. Imaginem, né, um sindicato querendo politizar...
(E governantes com as mais diversas camadas de peroba em suas faces dizem isso, indiscriminadamente, enquanto fazem e jorram política.)
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Caso 3: a Elizabeth Lorenzotti lembrou-nos outro dia de uma entrevista que o Jornal do Brasil fez com o Chico Mendes, em 1988, semanas antes de sua morte. O editor Zuenir Ventura recebeu a matéria do repórter, a matéria que era a esperança de vida do acreano, e depois deu a seguinte justificativa (que veio da chefia do JB, Roberto Pompeu e Marcos Sá Corrêa) para não publicar: "Não vamos politizar a questão ambiental".
(Como se ambiente não fosse um tema político. Depois, enterrado Chico Mendes, publicaram a entrevista e surfaram na onda da fama internacional do sindicalista.)
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Essa tentativa de assassinato do verbo "politizar" funciona mais ou menos como aquela adversativa: "Eu não sou racista, mas..."
Só que com várias frases ocultas: "Eu sei bem que estamos numa disputa política, mas eu vou falar aqui que não dá para politizar, muito embora eu saiba bem de que é disso que se trata, mas é um jeito de desqualificar quem não está fazendo a política com a qual eu não concordo, então eu vou dizer que você está fazendo política".
Quase como em um ato falho (como se política fosse algo necessariamente ruim, e não inevitável), já que eles sabem que estão fazendo política da pior espécie: subterrânea, sonsa, traiçoeira.
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Esse povo é irmão siamês do cidadão que diz que não existe - ou não pode mais existir - direita e esquerda.
Que, como sabemos, em 99,99% dos casos, é de direita.
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