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23 Outubro 2017

Sebastian Kurz, vencedor das recentes eleições na Áustria, é um exemplo eloquente do ranço - o espírito das águas estagnadas, lamacentas da existência - que se apossa do novo, antes mesmo de seu tempo de floração, para expropriá-lo de seu destino, para vampirizá-lo. Sua falta de conhecimento da vida e sua despreocupada irresponsabilidade tornam-no o manequim perfeito de uma tendência coletiva que faz da negação da experiência a sua razão de viver.

O comentário é de Sarantis Thanopulos, psiquiatra e psicanalista, publicado por il Manifesto, 21-10-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.

A dimensão dos fluxos migratórios e a maciça demanda de hospitalidade, de acolhimento, atingem as sociedades democráticas no que é a contradição de fundo de sua constituição: o direito de cidadania. A Pólis, a cidade governada por seus cidadãos, foi constituída a partir de sua contraposição ao oikos, a lei de sangue. No entanto, o que ela empurrou pela porta, permitiu que fosse reintroduzido, em parte, pela janela, inserindo o requisito normativo de ser filhos de indígenas para poder ser cidadãos. A Pólis dos cidadãos e a Pólis dos que têm direito à cidadania não coincidem.

A primeira, realização da verdadeira democracia jamais alcançada até o momento, é governada por aqueles que vivem ali, trabalham ali e faz parte das suas relações de troca. A segunda, fundamento da nossa democracia inacabada, desenha uma linha de demarcação, que é discriminação, não entre si mesma e os seus inimigos externos, os regimes despóticos, mas dentro de sua própria população. Desta autolimitação interna é corolário uma política de trocas desiguais, direcionadas ao seu próprio favor, com as realidades externas.

Nascida para abrir-se à fraternidade universal (o seu horizonte de referência), a Pólis assumiu imediatamente limites definidos. A distinção entre cidadãos e não-cidadãos, a cidadania como o direito restritivo é, sob o princípio da fraternidade - superior a toda necessidade -, arbitrária e injusta. Separa a justiça da legalidade.

As sociedades democráticas são vulneráveis. Seu impulso propulsor está se esgotando. Se falharem no teste dos migrantes, pairará sobre elas o risco de extinção. Em primeiro lugar, porque a incapacidade para gerir os fluxos inserindo-os nas trocas de maneira democrática e, portanto, diluindo cada vez mais a linha de demarcação entre cidadãos e não cidadãos (até a sua abolição), vai deixar espaço livre para os métodos dos regimes autoritários a elas contrapostos que as derrotarão, desta forma, a partir do seu interior.

Em segundo lugar, porque a rejeição ao estrangeiro ou à sua inserção em relações de exploração (que lucram com a rejeição) exila o desejo no sujeito que rejeita/explora e transfere as relações humanas no plano das necessidades, o reino das relações de força.

O desejo é democrático: ama a diferença, a liberdade e a igualdade, dissolve-se na sua ausência.

A necessidade, abandonada si mesma, persegue os automatismos e nos torna presas do despotismo. O futuro da democracia é confiado às trocas entre sujeitos pares, concidadãos, porque participam dela e não por vínculos de sangue ou de terra comum.

O sujeito torna-se cidadão na ágora, cada vez mais uma realidade em movimento, em viagem. São os jovens de toda cor, etnia, credo religioso e língua, que hoje habitam o mundo como cidadãos livres, que trazem em seus corações, em seu sangue, o sonho de uma verdadeira democracia.

Eles são o vento propício da História que dá sentido (significado e direção) para o futuro. Kurz sofre de grave conformismo: a aterosclerose da alma, uma doença que pode ser precoce. A esta doença, que precisamos manter afastada de juventude, não pode ser confiada a tarefa de nos governar.

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