Francisco, um pontificado ''radical''. Entrevista com o Patriarca Bartolomeu

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23 Outubro 2017

No novo livro Ho incontrato Francesco [Encontrei Francisco], as vaticanistas Alessandra Buzzetti e Cristiana Caricato entrevistam várias personalidades que narram o pontífice argentino.

O sítio Vatican Insider, 20-10-2017, publicou um trecho do diálogo com o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

Como o senhor viveu a eleição do Papa Francisco?

Assim que soube da notícia, me convenci de que eu deveria participar da missa inaugural do seu pontificado. Pareceu-me evidente que não se tratava simplesmente de uma grande cerimônia em São Pedro, mas que o primeiro ato litúrgico do papa anunciava uma intimidade de relações entre as nossas Igrejas irmãs: a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa. Por isso, fiquei profundamente tocado pelo fato de receber o convite para participar da celebração para trocarmos o tradicional beijo da paz.

O senhor declarou que sentiu “uma íntima confiança” com Francisco desde o momento da sua eleição.

Sempre ficou claro para mim que compartilhamos preocupações e prioridades com o nosso irmão, o Papa Francisco. Ambos buscamos o caminho rumo à unidade entre os discípulos de Cristo em resposta à oração de Cristo mesmo, de que os seus discípulos “sejam um só” (Jo 17, 21). Ambos estamos preocupados com as consequências da injustiça social, cada vez mais generalizada, porque cada vez mais é ignorado o mandamento social do Evangelho. Juntos, insistimos na gravidade do pecado de poluir e destruir o ambiente, dom sagrado e precioso de Deus à humanidade.

Depois da sua participação na missa de início do pontificado, a sua relação com o Papa Francisco assumiu características menos formais, com diversos encontros, por exemplo, na residência Santa Marta, no Vaticano.

A nossa relação não pode deixar de incluir as fronteiras canônicas e teológicas entre as nossas Igrejas, marcadas e modeladas por um milênio inteiro de divisão. No entanto, a minha relação com o Papa Francisco também é caracterizada por uma dimensão pessoal, que teve um papel vital no caminho da reconciliação entre as nossas Igrejas. Encontramo-nos oficialmente em diversas circunstâncias, por exemplo, em Jerusalém e em Istambul, mas também de modo menos oficial em muitas outras ocasiões, na residência Santa Marta e em Assis. Publicamos diversas declarações conjuntas sobre vários temas, como a salvaguarda da criação, e também fizemos juntos gestos concretos de solidariedade para com os pobres e os oprimidos, como, por exemplo, em relação aos refugiados na ilha grega de Lesbos ou aos cristãos perseguidos no Oriente Médio.

O senhor concorda com a definição de pontificado de Francisco como “revolucionário”?

O mundo secular gosta de falar de “revolução”, mas nós preferimos usar a palavra “radical”, porque o seu significado etimológico remete ao retorno às raízes ou à essência do Evangelho. Não há nada mais radical do que um Deus que cria o mundo por amor; não há nada mais radical do que um Deus que se fez carne; não há nada mais radical do que um Deus que se identifica com os mais vulneráveis; não há nada mais radical do que um Deus que julga o ser humano se este dá água aos sedentos e comida aos famintos. Todo cristão e, portanto, todo ministro ordenado são chamados a lembrar e a pôr em prática essas verdades radicais. O Papa Francisco nos recorda isso. Nesse sentido, certamente podemos defini-lo como “radical”.

Em novembro de 2014, a visita de Francisco a Istambul. A imagem destinada a entrar para a história é a do papa que se inclina para ser abençoado pelo senhor. Esperava isso? Qual foi o significado profundo desse gesto?

Não escondemos que ficamos surpresos quando o Papa Francisco inclinou a cabeça diante de nós durante as Vésperas na vigília da festa do padroeiro Santo André, no dia 29 de novembro de 2014, no Fanar. O poder da humildade é sempre surpreendente. A nossa resposta de bênção foi um ato espontâneo de boa vontade e de benevolência, a única resposta adequada ao amor genuíno. É importante recordar que “abençoar” (em grego: eulogia) implica o “falar bem” dos outros. Durante séculos, as nossas duas Igrejas irmãs foram marcadas por hostilidades e por maus sentimentos recíprocos. A bênção é o exato oposto da maldição. A nossa resposta ao benevolente gesto do papa, portanto, foi uma bênção espontânea.

O livro

  • Alessandra Buzzetti, Cristiana Caricato. Ho incontrato Francesco”. Papa Bergoglio raccontato dai protagonisti del nostro tempo (Edizioni Paoline, 200 páginas).

Entre os entrevistados: John Kerry, ex-secretário de Estado estadunidense; Abu Mazen, presidente do Estado da Palestina; Bartolomeu I, patriarca de Constantinopla; Ruth Dureghello, presidente da comunidade judaica de Roma; Carlo Petrini, fundador do Slow Food; Javier Zanetti, vice-presidente da Inter de Milão.

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