26 Setembro 2017
Caio Almendra
Formalmente, Rogério 157 é uma pessoa sem profissão formal(é assim que estará descrito no seu processo criminal). O salário mínimo no Brasil é 937 reais. Se ele economizasse 100% desse salário, ele demoraria 56 meses para comprar os tão anunciados itens de luxo encontrados em sua casa, uma TV, uma geladeira e uma banheira de hidromassagem.
Formalmente, Sérgio Cabral era governador do Rio de Janeiro. O salário de governador é de 21.868,14. Se Cabral economizasse 100% desse salário(o que incluiria não pagar IR retido na fonte), ele demoraria 1004 meses para comprar os itens anunciados no seu leilão judicial, considerando apenas os imóveis e as lanchas(ou seja, desconsiderando jet-skis, joias, relógios, TVs, geladeiras, banheiras de hidromassagem e etc).
Nem na matemática fria a coisa se compara.
Moysés Pinto Neto
Nós vivemos provavelmente o momento mais tenso de indeterminação política depois do início do ciclo da Nova República em 1988. Parcela da sociedade não reconhece o governo atual como legítimo e considera que vivemos um processo golpista em várias camadas sucessivas que vai se aprofundando. Outra parcela considera que, dada a corrupção sistêmica, os políticos não têm mais qualquer função e começa a flertar com o autoritarismo - que inicialmente ganhou uma forma "soft", técnico-jurídica, e agora já ameaça uma "hard", de coloração militar. Os grupos que legitimam o atual quadro político são insignificantes do ponto de vista quantitativo: o sistema está despencando a olho nu enquanto tecnocratas tentam salvá-lo com um plano de austeridade e reformas impopulares. O governismo praticamente inexiste.
Suspensos nesse fiapo, vemos tudo que considerávamos como conquista em risco. Censuras à exposições de arte ou ataque aos direitos LGBTTQ são a expressão de um obscurantismo subterrâneo que ameaça destruir toda retaguarda jurídica e social construída nas últimas três décadas. Usando linguagem chula e populista, ele faz parecer que tudo isso é apenas uma grande conspiração para sustentar parasitas enquanto o pobre indivíduo comum é a grande vítima, o otário que sustenta esse edifício todo de inúteis. Uma política de ressentimento olha para trás em busca do Oásis perdido, a era da segurança, da família e dos bons costumes contra a Modernidade depravada, permissiva e parasita.
Estamos perdidos, então? Há uma ameaça real. Mas é preciso lembrar que na última pesquisa foi publicado um percentual em torno de 50% de rejeição aparecia em relação a todos os candidatos. O que mais cresce no Brasil é o nulismo - a insatisfação de colaborar com o que está aí, a repugnância negativa. Ninguém, nem mesmo aquele candidato fascista que prega pra si estar fora do baralho, consegue se apropriar desse segmento ingovernável.
O que estamos fazendo para mobilizar essa gente toda? Não estamos encarcerados no medo, no ressentimento e no ódio e incapazes de fazer os descontentes sonharem? O nome dessa política cuja matéria é sonho não é utopia? Quem está disposto a mobilizar esses afetos, livrando-se das gaiolas identitárias e buscando construir a partir dessa grande recusa?
Até agora, o conflito que vivemos é só entre duas nostalgias. Estamos presos numa polarização zumbi entre duas forças políticas que nos tornam incapazes de sonhar, nos dividindo em duas grandes identidades que perambulam em linha reta sem pensar, apenas buscando proliferar sua própria forma morto-viva.
Aline Passos
Pessoal lindo deste saite feices e da gloriosa academia brasileira, toda essa comemoração envolvendo o ranking da Capes não é muito bacana, por mais que seu programa tenha melhorado a nota. Todo mundo sabe que, em primeiro lugar, o que está em jogo é financiamento. Os programas que recebem notas mais altas vão ter mais grana. Os que perderam posições no ranking vão amargar sérias dificuldades para produzir. Vocês também sabem que nenhum programa, por melhor que seja, pode dar conta de todas as linhas de pesquisa e temáticas do universo. Então, a destinação dos recursos agenciada pela avaliação também é uma escolha sobre o sentido da produção acadêmica. Sentido que, os Srs. e as Sras. sabem, é político. É claro que vocês podem objetar: "mas os recursos não são infinitos, é preciso critério para alocá-los". tudo bem, eu concordo. agora, que tal estamos de critérios? Vocês têm certeza que os critérios não sofrem uma série de mediações subterrâneas que implicam na nota? As regras para publicações privilegiam inovação? Privilegiam que as pessoas possam assumir os riscos de um debate científico que seja mais do que um chá das 5 entre comadres? Ou será que estes critérios nos mantém de cabeça baixa diante dos "cânones" (seja lá o que isso queira dizer) de sempre? "tem que citar fulano", "tem que dialogar com X", "tem que publicar Y artigos por ano".
Sinceramente, a cada comemoração que vejo, sinto um profundo desgosto pelo que, eventualmente, possa se insurgir contra esta ordem do discurso, e que será sufocado não apenas pela nota da Capes, mas pela conivência, e por que não, pelo protagonismo dos nossos "pares". e não pensem vocês que isto é apenas um problema de "relações exteriores" entre programas. um programa que recebe nota alta (ou que subiu no ranking) também sufocará (como já se faz e muito) dissidências internas em troca do reconhecimento da autoridade da Capes e, repito, da grana que vem daí.
Enfim, eu não sei vocês, mas eu não tenho nada a comemorar. E, sim, meu programa subiu no ranking.
Jornalistas Livres
(Foto de Jairo NCosta)
Gustavo Gindre
Há uma lésbica liderando a extrema-direita alemã e um gay de centro-direita como primeiro-ministro da Irlanda.
Por um lado, isso é bacana porque significa que as pautas identitárias estão ganhando legitimidade.
Por outro lado, isso deveria provar que as pautas identitárias por si só não são capazes de romper o status quo.
Faustino Teixeira
O convite feito pela poupa aos pássaros, de ir em direção ao Mistério Maior, ao Simurgh, vem rebatido por eles, que recorrem com tantas desculpas para não avançar no caminho. O rouxinol argumenta que para ele basta o amor da rosa; o papagaio sugere que sua ambição é unicamente buscar a fonte da água da imortalidade; o pato está satisfeito com a superfície da água; a perdiz com o amor às pedras preciosas; o falcão com a companhia exitosa dos reis; a garça com a beleza da gota d´água.
Outros dão suas desculpas, como o pardal, de corpo frágil, que receia a caminhada por não dispor de energias para tanto. Diante das desculpas, a guia (poupa) argumenta de forma magistral. Tanto assim, que consegue seduzir mais de mil pássaros a seguirem a jornada. Mas como era de se supor, apenas 30 chegaram ao destino, vencendo os sete vales de dificuldades. Numa das argumentações feitas pela poupa, ela concorda com as dificuldades expressas por cada um. Sublinha que pássaro algum é portador da constância necessária para seguir com tranquilidade o caminho. A virtude da constância, argumenta, é coisa muito rara. Se todos fossem puros, diz a poupa, Deus não teria enviado os profetas para sinalizar a riqueza do caminho. E sugere a oração: “Se do fundo de teu coração, manténs acesa a oração, terás um horizonte de paz, e isto lentamente, mas com certeza”.
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