Como El Salvador tornou-se uma das nações mais violentas do mundo

Mais Lidos

  • “A destruição das florestas não se deve apenas ao que comemos, mas também ao que vestimos”. Entrevista com Rubens Carvalho

    LER MAIS
  • Povos Indígenas em debate no IHU. Do extermínio à resistência!

    LER MAIS
  • “Quanto sangue palestino deve fluir para lavar a sua culpa pelo Holocausto?”, questiona Varoufakis

    LER MAIS

Revista ihu on-line

Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

Edição: 552

Leia mais

Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

Edição: 551

Leia mais

Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

Edição: 550

Leia mais

18 Agosto 2017

Está sem freio. Os altos índices de assassinato, a falta de controle da criminalidade pelo estado e o impacto da atuação das gangues na população faz de El Salvador uma das nações mais violentas do mundo. Segundo a Organização das Nações Unidas – ONU, foi o país onde mais houve homicídios em 2015, seguido na fila por vizinhos da América Central e da África.

Pequeno em termos geográficos e com baixo crescimento econômico, a nação de 6 milhões de habitantes registrou uma taxa de 103 homicídios para cada 100 mil pessoas. No primeiro trimestre do ano seguinte, foram mais de 2 mil foram assassinadas, 600 apenas em março (uma taxa de 19 por dia). Para efeito de comparação, no Brasil, essa taxa foi de 29,1 em 2014, segundo o Atlas da Violência.


(Imagem: reprodução Observatório de Homicídios)

Embora a violência esteja atrelada historicamente à guerra civil, especialistas identificam que o autoritarismo por parte do Estado está entre as causas da situação. Ainda em campanha política, o presidente Salvador Sánchez Ceren, eleito em 2014, criticou fortemente o diálogo do governo com membros de gangues. Quando no poder, aplicou estratégia de enfrentamento que incluía abusos por parte dos policiais e uso das forças armadas contra as gangues. Mas o efeito foi contrário, e a violência seguiu aumentando.

O site Acuerdos de Paz (iniciativa firmada nos anos 1990 para mudar essa realidade) aponta, como causas deste cenário, intolerância, agressividade, exclusão política, desintegração familiar, emigração, surtos de violência estudantil, atuação de gangues e narcotráfico e falta de políticas integrais.

Joaquín Samayoa, psicólogo especializado em administração escolar e educação, considera que a ausência dos pais para cuidar dos filhos devido às extensas jornadas de trabalho no setor do comércio faz com que muitas crianças fiquem sozinhas em casa e não tenham orientação adequada. O governo, segundo ele, não combate de forma devida.

“A violência é causa e efeito de muitos fenômenos, alguns derivados indiretamente da guerra, mas há também fatores socioeconômicos que são motivadores”, diz Samayoa.

Samayoa acrescenta que as universidades falharam com o país porque não fizeram pesquisas antropológicas sérias e rigorosas sobre o fenômeno da violência e gangues, e as que fizeram foram ineficientes. "O sistema escolar não está voltado à realidade", concluiu.

Estados Unidos e México servem de escape

Por conta dessa situação, muitas famílias (incluindo mesmo menores de idade) acabam deixando o país em direção ao México e aos Estados Unidos. A quase vizinha Belize também é destino certo dessas populações, segundo recente publicação da ONU.

“Na década de 90, Belize acolheu refugiados das guerras civis na América Central. Hoje, o país está recebendo novos deslocados forçados, que fogem da violência do crime organizado”, afirma o texto.

Na última década, os Acordos de Paz travados entre governo e guerrilheiros foram responsáveis por ensaiar tempos melhores. Chegou a existir uma trégua entre as gangues entre 2012 e 2013. Na ocasião, políticos concederam benefícios para os líderes presos em celas de segurança máxima em troca da diminuição das ações de terror.

Eles receberam telefones celulares, TVs de plasma e canal por assinatura, além do direito de fazer festas dentro da prisão. A ação teve efeito imediato, os homicídios diminuíram à época, mas a trégua não se manteve. Desde 2015, as gangues aumentaram a sua escalada de violência contra o estado e a própria população.

Em busca de beatificação

Conhecido por denunciar as violações dos direitos humanos em El Salvador em suas homilias dominicais e por apoiar as vítimas da violência política durante ano país, Oscar Romero foi um sacerdote católico salvadorenho que deve ser canonizado nos próximos anos. O processo está sendo estudado pelo papa Francisco, que vem ao Peru e ao Chile em janeiro de 2018 e tem em seu radar uma possível visita ao país.

Assassinado em 1980 por um membro dos esquadrões da morte – ativos na época da guerra civil salvadorenha, Romero morreu enquanto celebrava missa na capela do Hospital da Divina Providência, em San Salvador. Na homilia, o padre tinha reiterado a sua denúncia contra o governo, que atualizava cotidianamente os mapas dos campos minados enviando crianças na frente, que ficavam dilaceradas pelas explosões.

No funeral presidido nos dias seguintes por Dom Ernesto Corripio y Ahumada, então arcebispo de Cidade do México, o Exército salvadorenho também abriu fogo contra os fiéis, fazendo novo massacre.

Leia mais

 

 

Comunicar erro

close

FECHAR

Comunicar erro.

Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Como El Salvador tornou-se uma das nações mais violentas do mundo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU