11 Agosto 2017
Tonny Cálices
FREI TITO DE ALENCAR LIMA
Mártir da Tortura
Tito de Alencar Lima, religioso dominicano, perseguido e preso por seu compromisso com o povo oprimido, viveu as mais bárbaras torturas, físicas e psicológicas, sobretudo na Operação Bandeirantes – centro de torturas do exército, em São Paulo.
É um dos casos mais dramáticos da perseguição à Igreja e ao povo nesses anos das ditaduras militares de Nossa América. Tito interiorizou toda as acusações, as solidões todas, tentou evitar de todo jeito comprometer seus companheiros, carregou como uma sombra de pecado a imagem do delegado torturador Fleury, no exílio do Chile e da França e, finalmente, num gesto de expiação extrema se enforcou numa árvore, aos 28 anos, na capina francesa.
Mártir da tortura é considerado mundialmente, vítima dos poderes de repressão. Num poema histórico, que escreveu na França, reproduz com sua agonia a agonia de Jesus: “Pediste a teu Pai tua paz, o sentido de tua paixão e de teu amor. / Meu Pai, meu país: por que me abandonaste?”.
“É preferível morrer do que perder a vida”.
“... Quiseram deixar-me dependurado toda a noite no pau-de-arara. Mas o capitão Albernaz objetou: 'Não é preciso, vamos ficar com ele aqui mais dias. Se não falar será quebrado por dentro, pois sabemos fazer as coisas sem deixar marcas visíveis. Se sobreviver, jamais esquecerá o preço de sua valentia...'
Na cela, eu não conseguia dormir. A dor crescia a cada momento. Sentia a cabeça dez vezes maior que o corpo. Angustiava-me a possibilidade de os outros religiosos sofrerem o mesmo. Era preciso pôr um fim àquilo. Sentia que não iria aguentar mais o sofrimento prolongado. Só havia uma solução: matar-me. Na cela cheia de lixo encontrei uma lata vazia. Comecei a amolar sua ponta no cimento...
Tomei a gilete, enfiei-a com força na dobra interna do cotovelo, no braço esquerdo. O corte fundo atingiu a artéria. O jato de sangue manchou o chão da cela. Aproximei-me da privada, apertei o braço para que o sangue jorrasse mais depressa.
Revestidos de paramentos litúrgicos, os policiais me fizeram abrir a boca “para receber a hóstia sagrada”. Introduziram um fio elétrico. Fiquei com a boca toda inchada, sem poder falar direito.
No sábado, teve início a tortura psicológica. 'A situação agora vai piorar para você, que é um padre suicida e terrorista', diziam eles.
'A Igreja vai expulsá-lo'. Não deixavam que eu repousasse. Falavam o tempo todo, jogavam, contavam-me estranhas histórias.
Percebi logo que, a fim de fugirem à responsabilidade de meu ato e o justificarem, queriam que eu enlouquecesse”.
Quando Secar o Rio de Minha Infância (No exílio, na França, sempre subsistindo à sequelas da tortura, Frei Tito escreveu esta poesia)
Quando secar o rio de minha infância
secará toda dor.
Quando os regatos límpidos de meu ser secarem
Minha alma perderá sua força.
Buscarei, então, pastagens distantes
- lá onde o ódio não tem teto para repousar.
Ali erguerei uma tenda junto aos bosques.
Todas as tardes me deitarei na relva
e nos dias silenciosos farei minha oração.
Meu eterno canto de amor:
expressão pura de minha mais profunda angústia.
Nos dias primaveris, colherei flores
para meu jardim da saudade.
Assim, exterminarei a lembrança de um passado sombrio.
Terra de Santa Cruz - Adélia Prado
Poetisa e escritora. O poema em homenagem a Frei Tito está no livro Terra de Santa Cruz, de 1986, publicado pela Editora Guanabara.
Nas minhas bodas de ouro, esganada como os netos,
vou comer os doces.
Não terei a serenidade dos retratos
de mulheres que pouco falaram ou comeram.
Porque o frade se matou
no pequeno bosque fora de seu convento.
De outras vezes já disse: não haverá consolo. E houve:
música, poema, passeatas.
O amor tem ritmos que não são de tristeza:
forma de ondas, ímpeto, água corrente.
E agora? Que digo ao homem, ao trem, ao menino que me espera,
à jabuticabeira em flores, temporã?
Contemplar o impossível enlouquece.
Sou uma tênia no epigastro de Deus:
E agora? E agora? E agora?
Onde estavam o guardião, o ecônomo, o porteiro,
a fraternidade onde estava quando saíste,
o desgraçado moço da minha pátria,
ao encontro desta árvore?
Meu inimigo sou eu. Os torturadores todos enlouquecem ao fim,
comem excrementos, odeiam seus próprios gestos obscenos,
os regimes iníquos apodrecem.
Quando andavas em círculos, a alma dividida,
o que fazia, santa e pecadora, a nossa Mãe Igreja?
Promovia tômbolas, é certo, benzia edifícios novos,
mas também te gerava, quem ousará negar, a ti
e a outros santos que deixam as bíblias marcadas:
"Na verdade carregamos em nós mesmos nossa sentença de morte".
"Amai vossos inimigos".
O que disse: "Quem crer viverá para sempre", este também
balouçou do madeiro como fruto de escárnio.
Nada, nada que é humano é grandioso.
Me interrompe da porta a mocinha boçal. Quer mudas de trepadeira.
Meus cabelos levantam. Como um torturador eu piso e arranco
a muda, os olhos, as entranhas da intrusa
e não sendo melhor que Jó choro meus desatinos.
Sempre há quem pergunte a Judas qual a melhor árvore:
os loucos lúcidos, os santos loucos,
aqueles a quem mais foi dado, os quase sublimes.
Minha maior grandeza é perguntar: haverá consolo?
Num dedal cabem minha fé, minha vida e
meu medo maior que é viajar de ônibus.
A tentação me tenta e eu fico quase alegre.
É bom pedir socorro ao Senhor Deus dos Exércitos,
ao nosso Deus que é uma galinha grande.
Nos põe debaixo da asa e nos esquenta.
Antes, nos deixa desvalidos na chuva,
pra que aprendamos a ter confiança n'Ele
e não em nós.
Texto elaborado por Tonny da Irmandade dos Mártires da Caminhada.
Rudá Guedes Ricci
Distritão fortalece o Baixo Clero e a política de botequim
Alguns jornalistas me perguntam se só há desvantagens na proposta do Distritão.
Existe uma vantagem no princípio, mas não como está sendo proposto. A vantagem é que aproxima o eleitor do votado.
Ocorre que a representação política brasileira no que diz respeito ao parlamento é territorial e delegada. Representação delegada é aquela em que o eleito fica amarrado ao interesse do eleitor. Como numa representação corporativa (o representante de tal categoria ou tal bairro). Na prática, gera o que se denomina atualmente de Baixo Clero: o parlamentar do favor que alimenta sua base eleitoral com obras e recursos federais e que não tem preocupação ou capacidade para pensar uma agenda nacional (apenas a local, marcada por obras e serviços carreados para seu prefeito de plantão).
No mais, estamos presenciando uma distorção grave do sistema partidário e de representação brasileiros nestes tempos de gestão Temer: eles mandam e desmandam sem consulta ao eleitor. Fazem leilão de seus votos. Com o distritão, radicalizaremos esta situação e criaremos uma casta política.
Se os partidos já não consultam os eleitores, na medida em que o distritão não produz mais discussões gerais (ou agendas gerais), tendo em vista que o voto ficará definido por questões territoriais, o eleito terá ainda mais liberdade para votar em temas nacionais que não serão tema da campanha. Criará o que na teoria se denomina de representante fiduciário (em confiança).
Os partidos, de fato, hoje, já estão nas mãos dos deputados federais. São eles que manipulam verbas federais para prefeitos (os maiores cabos eleitorais, operadores da política)
Portanto, não temos partidos programáticos. Daí o poder do Baixo Clero. No fundo, o distritão fortalece o Baixo Clero e induz governos a serem o que Temer é.
Adriano Pilatti
Com todo o respeito, o "distritão" é puro excremento. E o "distrital misto" é meio excremento. Sistema eleitoral é uma espécie de software que lê votos e os traduz, no caso, em vagas parlamentares. Só há um critério válido para aferir a qualidade de um sistema eleitoral para o legislativo: a correspondência entre distribuição de votos (ou de preferências eleitorais) e distribuição de cadeiras (ou de poder). E o sistema eleitoral que melhor garante essa correspondência é o proporcional (que adotamos desde a Revolução de 1930 para todos os legislativos com exceção do Senado). Por isso mesmo, é o que melhor garante a representação de minorias relativas, da pluralidade, da diversidade.
Por incrível que possa parecer ante o bombardeio midiático, o problema do nosso sistema político não é o sistema eleitoral adotado para escolha de deputados e vereadores: é o sistema de financiamento de campanhas, é o comércio de horário eleitoral pela via das coligações, é o monopólio dos partidos que impede a apresentação de listas independentes etc.
Mas cuidado: a aprovação do distritão para as duas próximas eleições, e do distrital misto para as subsequentes, tá com cara de ser mais uma estratégia "bode na sala": o bode, no caso, é o distritão; todo mundo grita e aí o plenário suprime o distritão e emplaca o engodo misto, que piora pela metade a representação da pluralidade de interesses e opiniões, oligarquizando mais ainda a representação. Ojo. E ovo.
Helena Palmquist
Anonymous France
Gustavo Gindre
Seis quilombolas assassinados e meu feed só fala, contra ou a favor, do ovo no Dória. Há algo de errado por aqui.
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Breves do Facebook - Instituto Humanitas Unisinos - IHU