26 Setembro 2016
Rudá Guedes Ricci
Neste domingo, Faustão se tornou a ponta de lança das conjecturas sobre queda iminente de Temer. Onde chegamos...
Roberto Romano
Caute! Diria Spinoza. O ministro da justiça anuncia, em ato político em favor de um candidato de sua grei, operação policial espetaculosa. E ela ocorre um dia após. Não quero proclamar inocência de Palocci e de outros. Mas a PF diz, em nota, que a prisão e o nome da Operação (Omertà) vem da "relutância" da Odebrecht em assinar a delação. Prisões foram feitas para forçar colaborações? Onde tal coisa está escrito em termos legais? O preocupante é a simbiose do ministro da justiça, a propaganda política de seu partido, as operações da PF e do MPF. Cautela, diria mesmo Spinoza: quebrar a lei, agir para agradar multidões, terminam ....bem, todos sabem, embora tenham dificuldades para admitir. Recomendo a leitura do Arquipélago Gulag e de 1984, com vagar e atenção. Também Memórias do Cárcere e O Processo. Roberto Romano
Roberto Romano
Dá para entender a causa de eu ser contra delatores pagos, que participam do "lucro"obtido com os processos supostamente contra a corrupção? Não vou desenhar, não. Basta ler sobre o passado recentíssimo e pensar. Só pensar. RR
Adriano Pilatti
Domingo de tarde e chuva a caminho da Serrinha. No fim da Radial Oeste e no começo da 24 de maio, muitos cavaletes improvisados na beira do asfalto, em todos escrito “lava jato 4,99”. Meu camarada e condutor, um verdadeiro sociólogo ao volante do táxi, explica que aqueles homens e aquelas mulheres (tod@s jovens, tod@s negr@s) com mangueiras de compressão nas mãos são recém-desempregados, moradores do morro do mesmo nome. E se emociona: cada um se vira do jeito que pode, lavando carro, vendendo bala, biscoito grobo, água mineral, carregando compra, catando latinha e papelão mas trabalhando, dando duro, tentando viver honestamente. E conta das lojas fechando aos montes também pelo subúrbio afora.
A cada vez que vamos pra lá nos últimos meses, vejo aumentar o número de sem-teto e de vítimas vagantes do crack pelo caminho, meu camarada confirma. Ao passar por Piedade, dois apertos em nossas gargantas passam pela janela molhada: os prédios do Colégio Nossa Senhora da Piedade e da Universidade Gama Filho, de um modo ou de outro dois centros de aprendizado, convivência e agregação preciosos para as comunidades no entorno, agora condenados à inatividade. O primeiro com fechamento anunciado na semana passada, as freiras já não conseguiam dar conta das dificuldades. A segunda já fechada há alguns anos, por força de uma negociata criminosa consumada por criminosa omissão das autoridades federais "competentes". Em contrapartida, multiplicam-se as sedes das neopentecostais apadrinhadas pelos podres poderes armados, que reprimem os cultos afrobrasileiros no Rio além-túnel.
Já em Madureira, meu camarada exulta ao me mostrar a Flaesquina, na Andrade Figueira com Pereira da Costa, galera lá apesar da chuva, já em transe com o jogo. Meu coração botafoguense sorri, solidário. Em toda parte a vida que insiste em viver, a garra das formiguinhas, a vontade de alegria aproveitando cada brecha de uma realidade que é muro, muro, muro alto e áspero que exclui em vez de proteger. Em toda parte uma fé que insiste em não morrer, apesar de hoje falsos “patronos” proibirem que ela seja mencionada até nos sambas do meu querido Império, revoltante absurdo.
Já na casa da minha mãe carioca, o aconchego que vem dela e de meus dindos seus filhos, de suas fieis escudeiras e de meu afilhado in pectore, cada vez mais avançado no cavaquinho. Aconchego que vem também do feijãozinho com farofa, do café quente e bom. Só avisei que ia em cima da hora, pra evitar que ela fosse pro fogão inventar moda, queria mesmo o que tivesse sobrado na panela. Ao chegar soube que ela tinha planejado dar uma passadinha no samba do Jongo, coisa rara, porque o tempo a tornou muito caseira e reclusa. Insisti para que não alterasse seus planos, até porque seria uma chance de eu conhecer a nova sede, coisa que já tardava em acontecer.
Enquanto ela se decidia, ouvimos ao longe e por breve tempo o som de tiros. Seu semblante se contraiu em tristeza e preocupação. Disse a ela que relaxasse, que não tenho medo de tiro porque sei (certeza louca, absoluta e permanente) que não será disso que serei levado pra sei lá. Estratégia errada: seu olhar tornou-se bem mais que uma descompostura e rimos. Antes de descermos para o Jongo, fez questão de me rezar, reza boa e forte, que alivia, conforta e fortalece.
Sua entrada na sede foi uma beleza. Homens e mulheres de muitas gerações, jovens sobretudo, se desdobrando em afeto, gratidão e reverência à sua passagem. Paramos na galeria de fotos - a dela bem perto das de Vó Maria Joana, sua mestra - e ela foi identificando as antigas gerações pra mim.
Quando chegamos perto da mesa onde estavam os músicos, fazendo cantar em coro as centenas de pessoas que lá estavam a cultivar a extraordinária herança d@s bambas da Serrinha, a música parou. Todos os músicos se levantaram sorrindo, em sinal de respeito e carinho, e a homenagem se deu. Pra agradecer, ela e seus filhos cantaram o primeiro samba-enredo do Império do Futuro, a escola das crianças que formou Pretinho e tantos bambas, e que nasceu praticamente no quintal da casa dela.
Na volta, depois de deixar minha mãe carioca em sua casa, meu camarada e eu passamos pelo Cachambi pra deixar uma senhora a quem déramos carona. Por todo o caminho, os sinais evidentes de um "povo oprimido… nas vilas, favelas”, sempre e ainda.
Impossível não sentir ecoar aqui dentro e fundo o poema de mestre Vinicius e de Chico pra música de Garoto, como eu tão próximos e tão distantes daquela realidade: “e eu que não creio peço a Deus por minha gente… que vontade de chorar”. O que só fiz cá em casa, para que meu camarada não visse, tão feliz com o resultado do jogo. E foi por gratidão a tudo que aprendo sentidamente cada vez que vou pra lá que resolvi contar. Quem quiser que conte outra. Axé!
Idelber Avelar
"Quando escuto falar de 'introdução das novas tecnologias em sala de aula' já tenho certeza: a pessoa nem deve ter Facebook, mas se sente autorizada a falar como se estivesse diante de uma grande novidade. Ela não entende patavinas do impacto desses novos dispositivos sobre a cognição. E não entende que faz parte de um passado em vias de extinção, sem possibilidade de conserto, sem chances para permanecer vivendo em uma sociedade em que a concentração desapareceu.
Os decrescimentistas têm outros projetos para substituir o espaço disciplinar escolar, mas deixo isso para outra ocasião. O que não é viável, em um contexto que estamos sendo esmagados pela tendência aceleracionista do capitalismo, é essa visão reativa e conservadora que tem prevalecido, acreditando que disciplinas específicas podem salvar a crítica, especialmente quando são impostas obrigatoriamente diante de estudantes com o repertório embasbacante da biblioteca universal que é a Internet [na maioria dos casos, apenas uma ilusão que confunde quantitativo e qualitativo, mas com efeitos práticos decisivos na vivência escolar].
Com essas armas, certamente vamos perder. Mas parece que a melancolia do momento está produzindo subjetividades masoquistas, com desejo de derrota."
(Moysés Pinto Neto).
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