Amor incompreensível - Evangelho de Lucas 15,1-32

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09 Setembro 2016

Todos os cobradores de impostos e pecadores se aproximavam de Jesus para escutá-lo. Mas os fariseus e os doutores da Lei criticavam a Jesus, dizendo: “Esse homem acolhe pecadores, e come com eles!”.

Então Jesus contou-lhes esta parábola: “Se um de vocês tem cem ovelhas e perde uma, será que não deixa as noventa e nove no campo para ir atrás da ovelha que se perdeu, até encontrá-la? E quando a encontra, com muita alegria a coloca nos ombros. Chegando a casa, reúne amigos e vizinhos, para dizer: ‘Alegrem-se comigo! Eu encontrei a minha ovelha que estava perdida’. E eu lhes declaro: assim, haverá no céu mais alegria por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão.”

“Se uma mulher tem dez moedas de prata e perde uma, será que não acende uma lâmpada, varre a casa, e procura cuidadosamente, até encontrar a moeda? Quando a encontra, reúne amigas e vizinhas, para dizer: ‘Alegrem-se comigo! Eu encontrei a moeda que tinha perdido’. E eu lhes declaro: os anjos de Deus sentem a mesma alegria por um só pecador que se converte.”

Jesus continuou: “Um homem tinha dois filhos. O filho mais novo disse ao pai: ‘Pai, me dá a parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu, e partiu para um lugar distante. E aí esbanjou tudo numa vida desenfreada. Quando tinha gasto tudo o que possuía, houve uma grande fome nessa região, e ele começou a passar necessidade. Então foi pedir trabalho a um homem do lugar, que o mandou para a roça, cuidar dos porcos. O rapaz queria matar a fome com a lavagem que os porcos comiam, mas nem isso lhe davam. Então, caindo em si, disse: ‘Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome... ou me levantar, e vou encontrar meu pai, e dizer a ele: - Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço que me chamem teu filho. Trata-me como um dos teus empregados’. Então se levantou, e foi ao encontro do pai.

Quando ainda estava longe, o pai o avistou, e teve compaixão. Saiu correndo, o abraçou, e o cobriu de beijos. Então o filho disse: ‘Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço que me chamem teu filho’. Mas o pai disse aos empregados: ‘Depressa, tragam a melhor túnica para vestir meu filho. E coloquem um anel no seu dedo e sandálias nos pés. Peguem o novilho gordo e o matem. Vamos fazer um banquete. Porque este meu filho estava morto, e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado’. E começaram a festa.

O filho mais velho estava na roça. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança. Então chamou um dos criados, e perguntou o que estava acontecendo. O criado respondeu: ‘É seu irmão que voltou. E seu pai, porque o recuperou são e salvo, matou o novilho gordo’. Então, o irmão ficou com raiva, e não queria entrar. O pai, saindo, insistia com ele. Mas ele respondeu ao pai: ‘Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua; e nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. Quando chegou esse teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, matas para ele o novilho gordo!’ Então o pai lhe disse: ‘Filho, você está sempre comigo, e tudo o que é meu é seu. Mas, era preciso festejar e nos alegrar, porque esse seu irmão estava morto, e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado’.

(Correspondente ao 24° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico) O comentário é elaborado por Ana Casarotti e Maria Cristina Giani, Missionárias de Cristo Ressuscitado.

Amor incompreensível

Em todas as Igrejas e comunidades do mundo inteiro, hoje lemos e meditamos este trecho do capítulo 15 do Evangelho de Lucas. Nele apresenta-se uma atitude fundamental na caminhada de Jesus para Jerusalém. Ternura, misericórdia, alegria, festa de toda a comunidade são alguns dos aspectos mais destacáveis das três parábolas que Jesus relata.

Há uma informação inicial que é muito importante para aprofundar melhor no texto. Disse que as pessoas que se aproximam de Jesus eram cobradores de impostos e pecadores. Jesus sempre está rodeado destas pessoas rejeitadas pela sociedade e pelos fariseus e doutores da Lei. Eles criticam Jesus por esta atitude tão permissiva, que acolhe os pecadores e ainda come com eles!

Não é difícil imaginar os dois grupos de pessoas: os pecadores e os cobradores de impostos que são grupos rejeitados pelos que se consideram os “donos” da Lei, das normativas e oprimem o povo com suas exigências.

Para estes dois grupos de pessoas Jesus narra três parábolas que são consideradas as parábolas da misericórdia. Nelas há um cenário comum que é a perda. No primeiro caso é o homem que tem cem ovelhas e perde uma delas, depois conta o sucedido com uma mulher que perde uma moeda de prata e a busca até encontrá-la, e na terceira parábola narra o caso de um filho que pede a seu pai sua herança e parte para um lugar distante com essa herança que ele considera que lhe corresponde.

Há outro cenário que é a busca ou a espera amorosa e permanente do pai que avista seu filho de longe e sai correndo e manifesta-lhe todo seu amor. Nestas três situações as pessoas não ficam lamentando a cada instante a perda sofrida. Pelo contrário buscam até o encontro, seja da ovelha, da moeda ou o encontro no caso do Pai.

E estes dois cenários confluem num terceiro episódio comum que é uma alegria compartida: “Alegrem-se comigo”. Aquilo que estava perdido foi achado, ou como disse o pai a seu outro filho que fica com raiva: “Era preciso festejar e nos alegrar, porque esse seu irmão estava morto, e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado”.

Neste ano estamos no Ano da Misericórdia e quando o papa Francisco entregou a Bula da Misericordiae Vultus expressou que: "A Igreja é chamada, neste tempo de grandes mudanças epocais, a oferecer mais vigorosamente os sinais da presença e proximidade de Deus. Este não é o tempo para nos deixarmos distrair, mas para o contrário: permanecermos vigilantes e despertarmos em nós a capacidade de fixar o essencial. É o tempo para a Igreja reencontrar o sentido da missão que o Senhor lhe confiou no dia de Páscoa: ser sinal e instrumento da misericórdia do Pai".

Lucas hoje nos apresenta esse rosto amoroso do Pai que movido pela misericórdia aguarda seu filho.  Esse filho esperado pelo Pai pode ser cada um e cada uma de nós. Ele deseja que voltemos a seu lado.

O filho decide sair da casa do Pai e a decisão faz parte da liberdade que Deus nos oferece. Ninguém fica ao lado do Pai por obrigação, pelo contrário é a sensibilidade desse amor que nos leva a estar junto dele.

Quando o filho abandona sua casa carrega aquilo que considera que lhe pertence, possivelmente com a ilusão de desfrutar de tudo isso... mais longe da casa do Pai e da Mãe. Ele ainda não tem compreendido que a herança do Pai é desfrutar de sua presença, receber seu amor gratuito e permanente que ama além dos erros.

Mas como o filho, apesar de separar-se do Pai, nunca deixa de ser filho. sua condição de filho nunca será perdida: sempre é filho, mesmo estando como um escravo entre os porcos!!

E assim é o amor do nosso Deus! Ele sempre está ao nosso lado como um Pai que respeita as decisões de cada um, mas aguarda sempre o regresso a seu lado para desfrutar da sua Presença!

Ele vai ao encontro do que estava perdido não para condená-lo, senão para manifestar-lhe seu carinho, sua ternura. No Angelus do dia 10 de setembro do ano 1978 o papa João Paulo I fez uma afirmação que foi muito discutida quando ele disse que “Deus é pai e mais ainda é mãe”.

Em várias oportunidades Francisco refere-se a esse amor de Deus que ama as pessoas como uma mãe.

Esse Amor de Deus experimentado manifesta-se nas ações concretas.

Na terceira parábola aparece também a figura do outro filho que está sempre na casa do Pai, mais não tem muita afinidade com ele. E por isso fica com raiva porque seu irmão retornou e como o pai está taõ contente que manda celebrar uma festa em sua honra.

Aparentemente está ao seu lado, mais não desfruta da sua Presença, nem conhece sua dor pela ausência do seu irmão. Passou o tempo e não percebeu que o pai estava sempre o aguardando!!

Agora é o pai que deve sair da sua casa na procura deste outro filho que não deseja entrar e ainda menos celebrar o retorno do seu irmão.
O amor do Pai manifesta-se em todo momento e na situação mais diversa e às vezes até oposta. Sempre está atento ao sofrimento dos filhos e filhas.

No domingo passado o Papa Francisco santificou a Madre Teresa de Calcutá. Uma mulher extraordinária que com seu carisma ia aos marginalizados, às periferias da existência humana, aos mais pobres dentre os pobres.

Sua vidam, entregue aos mais pobres dentre os pobres, é o rosto da misericórdia do tempo atual.

Peçamos pela sua intercessão ter um coração sensível e aberto a toda pessoa que esteja no nosso caminho e tenhamos um espírito aberto para deixar-nos tocar pela sua dor e/ou marginalização.

Junto com toda a Igreja nos unimos à oração de Francisco e pedimos ao Senhor que "Neste Ano possamos dar conta do calor do seu amor, quando nos carrega aos seus ombros e nos traz de volta à casa do Pai. “ Que sejamos tocados pelo Senhor Jesus e transformados pela sua misericórdia para nos tornarmos, também nós, testemunhas de misericórdia. Eis o motivo do Jubileu: porque este é o tempo da misericórdia. É o tempo favorável para tratar as feridas, para não nos cansarmos de ir ao encontro de quantos estão à espera de ver e tocar sensivelmente os sinais da proximidade de Deus, para oferecer a todos o caminho do perdão e da reconciliação.”

Oração do Ano da Misericórdia

Senhor Jesus Cristo que nos ensinastes a ser misericordiosos como o Pai do Céu,
e que dissestes quem te vê, vê também o Pai.
Mostra-nos o teu rosto e seremos salvos.
Teu olhar amoroso libertou Zaqueu e também Mateus da escravidão do dinheiro;
a adúltera e a Madalena de buscar a felicidade somente nas criaturas;
fez chorar a Pedro da sua negação,
e deu o Paraíso ao Bom ladrão arrependido.
Faz que cada um de nós escute, como própria,
a palavra que tu disseste à Samaritana:
Se tu conhecesses o dom de Deus!
Tu és o rosto visível do Pai invisível,
do Deus que manifesta sua onipotência
sobre tudo no perdão e na misericórdia:
Faz com que, no mundo, a Igreja seja o rosto visível de Ti,
seu Senhor ressuscitado e glorioso.
Tu quiseste também que os teus ministros fossem revestidos de debilidade,
para que sintam sincera compaixão
dos que se encontram na ignorância ou no erro:
Faz com que quem se aproximar a um deles se sinta acolhido,
amado e perdoado por Deus.
Manda teu Espírito e consagra-nos a todos com a sua unção,
para que o Jubileu da Misericórdia seja um ano de graça do Senhor
e tua Igreja possa,
com renovado entusiasmo,
levar a Boa Nova aos pobres,
proclamar a liberdade aos prisioneiros e oprimidos
e restituir a vista aos cegos.
Te o pedimos por intercessão de Maria, Mãe da Misericórdia,
a ti que vives e reinas com o Pai e o Espírito Santo, pelos séculos dos séculos.

Referências 

KONINGS, Johan. Espírito e mensagem da liturgia dominical. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindis, 1981.

MESTERS, Carlos e LOPEZ, Mercedes e PIA SOCIEDADE FILHAS DE SÃO PAULO.O Avesso é o lado certo. Cursos bíblicos sobre o Evangelho de Lucas. São Leopoldo/RS: CEBI e São Paulo/SP, 1998.

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