San Diego Connection: dinheiro e terrorismo do 11 de setembro

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05 Agosto 2016

As 28 páginas do Relatório dos Comitês Parlamentares dos EUA para a Inteligência sobre os inquéritos realizados pelos serviços secretos estadunidenses antes e depois dos atentados do 11 de setembro de 2001 permaneceram em segredo durante 13 anos. A CIA as desclassificou - isto é, liberou para o acesso público - no dia 16 de julho de 2016, por ordem do presidente Barack Obama (depois dos repetidos pedidos dos parentes das vítimas, de muitas associações e de diversos políticos do país) e contêm a Parte 4 do Relatório parlamentar.

A reportagem é de Maria Antoinetta Calabrò, publicada no seu blog Just Out, 01-08-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O capítulo diz respeito ao que foi descoberto sobre "alguns materiais sensíveis em termos de segurança". Tão sensíveis, de fato, a ponto de permanecerem escondidos da opinião pública por tanto tempo. Trata-se, substancialmente, da rede de apoio e dos financiadores estrangeiros dos terroristas suicidas das Torres Gêmeas.

Apesar disso, o documento teve pouco eco nos meios de comunicação, também porque, infelizmente, estavam ocupados em dar conta dos repetidos ataques na Europa por parte de adeptos do ISIS (Estado Islâmico) naquele que se pode dizer que foi um verdadeiro julho de sangue (Dhaka, Nice, Munique, Rouen).

Porém, há um longa fio dourado que liga os atentados do 11 de setembro de 15 anos atrás nos Estados Unidos e a guerra civil na Síria, que, de 2011 até hoje, causou quase meio milhão de mortes, quatro milhões de refugiados e a diáspora do terror em todo o mundo, mas, principalmente, na Europa dos grupos jihadistas, começando pelo ISIS. Tragédias nas quais os poderosos e ricos aliados do Ocidente desempenharam um papel ambíguo: ontem, por causa das relações com os terroristas do World Trade Center, hoje, como defensores dos grupos mais extremistas.

O Relatório desclassificado, em suma, alimenta os posicionamentos do Papa Francisco dos dias 27 e 31 de julho de 2016, nos voos para a Jornada Mundial da Juventude. Ele fundamenta as suas declarações sobre o fato de que, por trás do terrorismo islâmico, existem interesses geoestratégicos e econômicos bem específicos. E que a Terceira Guerra Mundial – que já começou –, na sua raiz profunda, não é religiosa, visto também que – acrescentamos nós –, no Islã, não há uma concepção secular do Estado que preveja a distinção entre o poder político-militar e o religioso.

E, se é verdade que, como afirmou o atual diretor da CIA, John Brennan, em uma entrevista no mês de junho de 2016 à TV de Estado saudita, al-Arabiya, "depois das investigações destes anos, não há nenhuma prova para afirmar que o governo saudita como instituição ou outros responsáveis sauditas individualmente apoiaram os atentados do 11 de setembro", no entanto, Brennan defendeu a oportunidade de que esse Relatório fosse publicado. Para dissipar incertezas sobre o envolvimento estatal saudita (assim como, ao contrário, afirmava explicitamente o Comitê Parlamentar), mas também para mostrar aquilo que emergiu nos níveis mais baixos. Não provas, mas a fumaça do cano de uma pistola que acabara de atirar.

O ex-prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, nos tempos do atentado de 2001 vezes (que tinha se recusado a aceitar um cheque de 10 milhões de dólares dos sauditas para ajudar a cidade atingida), também pediu em alta voz, nos últimos meses, a publicação das páginas agora desclassificadas.

No documento, não está contida a chamada "prova", mas uma infinidade de indícios sobre os contatos e as relações entre os 19 sequestradores suicidas (incluindo 15 sauditas) dos aviões que derrubaram as Torres Gêmeas, não com o governo, mas com pessoal saudita, as provas dos financiamentos aos suicidas e às suas famílias.

Indícios que emergiram apenas graças ao trabalho do Comitê Parlamentar estadunidense, enquanto a inteligência não tinha focalizado o papel saudita. A leitura do documento, por si só, é impressionante.

Por exemplo, são descritas em detalhes as relações entre um agente dos serviços secretos sauditas, Omar al-Bayoumi, que voltou ao seu país um mês antes dos atentados, com dois sequestradores. É afirmado que os financiamentos enviados por uma empresa saudita que trabalhava para o Ministério da Defesa sofreram um grande aumento a partir de abril de 2000, dois meses depois que os dois terroristas das Torres gêmeas chegaram em San Diego (Califórnia) e continuaram até agosto de 2001. A empresa tinha relações com bin Laden. Bayoumi também tinha relatórios com a Holy Land Foundation, suspeita de angariar fundos para o Hamas.

Outro personagem em contato com os agressores e com Bayoumi era Osama Bassnan, descrito como oficial da inteligência pelos muçulmanos de San Diego. Ele e sua esposa receberam apoio financeiro por parte do então embaixador saudita nos EUA e da sua esposa.

Depois, fala-se de um diplomata saudita que, na época, trabalhava no consulado de Los Angeles, al-Thurnairy, e um dos imãs da mesquita Fahad de Culver City, Califórnia. Saleh al-Hussayen, um funcionário do Ministério do Interior saudita, em setembro de 2001, se hospedou no mesmo hotel na Virgínia, onde um dos terroristas se alojou.

A Comissão Parlamentar, além disso, expressa as suas preocupações com um memorando sobre os financiamentos e as relações dos terroristas, encontrado durante as suas investigações entre os arquivos do escritório do FBI em San Diego. E esses são apenas alguns exemplos daquilo que se pode ler.

Ontem e hoje

O mais interessante, porém, é a atualidade daquilo que ficamos sabendo com o Relatório (online, com um bom número de omissões sobre os nomes das fontes envolvidas). Todos os parlamentares estadunidenses que solicitaram a publicação dessas 28 páginas consideram que ela não só lança luz sobre um aspecto fundamental do 11 de setembro, mas também é muito importante para entender e enfrentar os novos dramas do Oriente Médio.

Walter Jones: "Fiquei chocado com o que eu li. Há informações críticas para a direção futura da nossa política externa". Thomas Massie: "Ler essas páginas me irritou e forçou a redefinir a minha percepção da história e daquilo que acontece no Oriente Médio". John Lehman, ex-chefe do Estado Maior da Marinha e membro da Comissão sobre o 11 de setembro: "Essas páginas seriam de grande ajuda aos nossos governantes para entender melhor as ameaças que enfrentamos hoje".

É interessante notar que a desclassificação ocorreu depois da viagem, em abril de 2016, em que Obama pediu ao governo da Arábia Saudita um maior empenho contra o ISIS, e a visita foi organizada perto do quinto aniversário do ataque de Abbottabad, em que o líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, foi morto.

De fato, parece que os EUA cuidadosamente "geriram" o dossiê saudita, tentando usar o "passado" em vista do futuro próximo.

Confira as 28 páginas desclassificadas aqui.

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