“Acredito que Francisco será o último chefe de Estado do Vaticano”, afirma Pagola

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Por: Jonas | 30 Mai 2013

Para estourar. Assim estava, na noite passada, a capela do Colégio Maior Chaminade. Mais de 600 pessoas lotaram o recinto para assistir a conferência que, organizada por PPC, José Antonio Pagola deu. Sentados, em pé, no chão, a multidão não quis perder a convocação do teólogo vasco: “Voltar para Jesus, o Cristo”. E Pagola não desapontou: “É o momento do povo simples reivindicar o Evangelho para a hierarquia, que se apodere dele”. Uma tarefa para a qual o Papa parece estar disposto: “Acredito que Francisco será o último chefe de Estado do Vaticano”, profetizou.

A reportagem é de Jesús Bastante, publicada no sítio Religión Digital, 29-05-2013. A tradução é do Cepat.

 
Fonte: http://goo.gl/wGrpr  

O teólogo iniciou com o relato de uma realidade, a da Igreja atual, puramente pessimista. E real. Uma Igreja “com atitudes de nervosismo e medo, de autodefesa, que vê o mundo como um adversário, que faz da condenação e a denúncia todo um programa pastoral”. Uma instituição marcada pelo restauracionismo, passividade generalizada, sem atitudes de renovação, com o pecado da autorreferencialidade à flor da pele. “Existe muita gente comprometida, mas a massa de 1,2 bilhão de católicos vive na submissão, obediência e silêncio, em meio a uma religião de autoridade, e não de chamado”. Onde “o pessimismo cresceu”.

Frente a isso, Pagola evocou a necessidade, a urgência, de retornar para Jesus. “Não apenas uma reforma religiosa, sim uma conversão ao Espírito de Jesus. Não apenas adesão doutrinal, mas seguimento. Não apenas mudanças, mas atualização da experiência fundante”, criticou o teólogo, diante do aplauso da multidão reunida.

E precisa vir do povo, pois “a hierarquia, hoje, não pode liderar uma conversão a Jesus”. “Devemos retornar ao que é a fonte e a origem da Igreja. Deixar que o Deus encarnado em Jesus seja nosso único Deus”. Para Pagola, “é preciso reformar a Cúria, claro que sim, e mudar a doutrina, mas, primeiro, é preciso voltar para Jesus. Invocar um clima mais humilde, mais prazeroso, porque, caso contrário, seremos cada vez mais uma instituição decadente, mais sectária, mais rara, mais triste, mais distante do que Jesus quis”.

Jesus. Um projeto, quase uma obsessão, uma necessidade imperiosa. “É tarde. Deixamos morrer a Ceia do Senhor, porque a Igreja não se questionou seriamente sobre a razão das pessoas saírem”, proclamou Pagola, denunciando que, para além da crise vocacional ou do sacerdócio para a mulher, é preciso voltar a entender Jesus, “não como um Pai ou como um Rei, mas, fundamentalmente, como o que foi: um Profeta”.

Neste ponto, o teólogo – que constantemente citou Francisco: “Antes não me atreveria a dizer algumas coisas, mas é o Papa que está dizendo-as, toda manhã, nas missas em Santa Marta” – chamou para “reconhecer nosso pecado como Igreja, e se responsabilizar por ele. Questionar nossas falsas seguranças, a santidade da Igreja, porque santificamos tudo e não vemos as traves que há dentro de nossa Igreja”.

É que “se a Igreja não escuta os clamores dos pobres, será surda. E, em seguida, ficará surda e muda, e não será capaz de anunciar a Boa Notícia”, acrescentou o teólogo vasco, que propôs algumas tarefas urgentes. Em primeiro lugar, “reavivar o espírito profético do movimento de Jesus. Não podemos nos resignar a viver uma religião cristã sem profecia”.

Em segundo lugar, “uma presença mais ativa, indignada e atualizada”. Uma renovação na qual “a Igreja não é a mais importante, mas, sim, o Reino”. “Esta renovação não pode vir apenas do Vaticano. Chegou o momento de rememorar que o Cristianismo não é uma religião a mais, é uma religião profética, para construir um mundo mais justo, mais solidário, mais santo”.

E, em terceiro lugar, “recuperar urgentemente a compaixão. Pois ser compassivos é a única maneira de seguir Jesus e de nos parecermos com o Pai”, acrescentou. “A Igreja cristã perdeu a capacidade de atrair as pessoas, porque não levou a sério o sofrimento dos inocentes”.

“Precisamos continuar buscando caminhos, a partir de Igreja que cada vez tem menos poder de atração, ou devemos recuperar o Evangelho de Jesus como única força para transmitir e engendrar a fé?”, questionou-se Pagola. A resposta foi clara: “Hoje, o Evangelho se encontra aprisionado no interior de uma Igreja em crise”, razão pela qual “é preciso recuperar o protagonismo do Evangelho”.

E fazer isto entre todos. “As pessoas devem reivindicar o Evangelho para a hierarquia. O povo simples deve se apoderar do Evangelho”, pois “Jesus é muito mais atual do que os sermões que nós, padres, damos. Deus não está em crise, nem está bloqueado. Jesus não deu todo o melhor que tem”.

Este é o futuro da Igreja, um futuro “apaixonante” depois da nomeação do novo Papa. “Francisco está inaugurando um tempo novo. Um novo estilo de Igreja simples, pobre, humilde, próxima e dialogante, que se preocupa com a felicidade do ser humano”.

Neste transe, “o Papa deve encontrar um apoio total em nós. Se ele promove a mudança a partir de cima, nós devemos promover o Reino a partir de baixo”, concluiu, entre fortes aplausos.

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