Na América Latina, um terço das famílias vive em moradias precárias

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Por: Jonas | 18 Mai 2012

Moradias de paredes e tetos de madeirites, montados como quebra-cabeças, que deixam alguma abertura para o frio outonal de Bueno Aires. Piso de terra, como as ruas ao redor que, geralmente, embarreia toda vez que chove, dificultando os acessos. Longa caminhada para se chegar ao ponto de ônibus. Uma latinha que serve para cozinhar ou esquentar o mate e lenha para aquecer o ambiente. Ligação elétrica clandestina. Uma sala de estar e um dormitório com uma cama de casal onde, também, dormem alguns filhos. Além de um banheiro, a poucos metros, feito de plásticos com um buraco para fazer as necessidades básicas. São assim algumas das moradias precárias nos arredores da capital argentina, um drama que afeta toda a América Latina, apesar da última década de crescimento econômico e melhora da equidade.

A reportagem é de Alejandro Rebossio, publicada no jornal El País, 15-05-2012. A tradução é do Cepat.

Segundo uma pesquisa publicada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), mais de um terço das famílias latino-americanas mora numa casa inadequada ou construída com materiais precários ou carentes de serviços básicos. Trata-se de 59 milhões de pessoas com um problema que também diz respeito à saúde, ao desempenho escolar, a discriminação social (muitas vezes os trabalhadores que buscam emprego escondem que vivem em favelas porque são associadas à criminalidade), segurança pessoal, qualidade do transporte e do meio ambiente, segundo o relatório.

Para 2015, o crescimento econômico da região ajudará apenas 36% das famílias que, no momento atual, vivem em moradias precárias. Os programas públicos de moradias provavelmente ajudarão outros 5%. Com estas projeções, dentro de três anos, cerca de 36% das famílias das áreas urbanas e rurais continuarão vivendo em moradias inadequadas, diante dos 37%, em 2009. O banco adverte que a proporção é maior que em outras regiões do mundo, com níveis de rendimentos semelhantes.

Quase dois milhões, dos três milhões de famílias que se constituem a cada ano em cidades latino-americanas, são obrigadas a instalar-se em moradias informais, como nas áreas marginais, segundo relatório elaborado pelo BID a partir de dados oficiais de 18 países da região. A maioria da população, que vive nas principais cidades, carece de suficientes meios econômicos ou não pode aderir a um crédito hipotecário para moradias mais econômicas, oferecidas pelo setor privado. Mais da metade das famílias de Caracas, La Paz, Bueno Aires, São Paulo (foto), Rio de Janeiro, Cidade do México, Quito e Manágua não podem pagar mais do que uma moradia construída por conta própria.

O BID considera que os projetos de moradias sociais, dos governos latino-americanos, deveriam setuplicar-se para satisfazer a demanda. Além disso, adverte que estes programas muitas vezes não favorecem aos mais pobres. “Estes planos começam a ajudar as famílias quando já estão instaladas em terrenos baldios, sem estrutura básica e nem planejamento”, destaca o coordenador do estudo, César Bouillon, em conversa por telefone, de Washington. A urbanização de terrenos, antes de serem ocupados, custa 1.299 euros por família, comparado aos 3.438 euros que custa a melhoria de uma ocupação constituída. Segundo Bouillon, outros problemas enraízam-se na falta de acesso aos títulos de propriedade e na tendência em se desenvolver moradias sociais na periferia ao invés de se recuperar as áreas centrais. Por sua vez, a população tende a construir suas moradias com ladrilho ou cimento, apesar dos materiais estarem mais caros nos últimos anos.

Segundo Bouillon, a ausência de crédito para a classe média baixa constitui outro obstáculo. Muitos trabalhadores não podem justificar seus rendimentos para o banco porque estão empregados informalmente. Acontece, também, de “muitos municípios terem regulações do planejamento da terra, pensados para bairros de classe média ou alta”, segundo Bouillon. Em Bueno Aires, a moradia mais barata custa 34.460 euros ou 45 meses de trabalho assalariado médio, o que contrasta com Bogotá, em que por 9.575 euros se consegue uma, ou seja, com dez meses de renda, segundo o BID.

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