Uma cruz de Amor!

Mais Lidos

  • “Os israelenses nunca terão verdadeira segurança, enquanto os palestinos não a tiverem”. Entrevista com Antony Loewenstein

    LER MAIS
  • Golpe de 1964 completa 60 anos insepulto. Entrevista com Dênis de Moraes

    LER MAIS
  • “Guerra nuclear preventiva” é a doutrina oficial dos Estados Unidos: uma visão histórica de seu belicismo. Artigo de Michel Chossudovsky

    LER MAIS

Revista ihu on-line

Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

Edição: 552

Leia mais

Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

Edição: 551

Leia mais

Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

Edição: 550

Leia mais

16 Março 2012

A salvação é gratuita. O Amor de Deus por nós é incondicional e as nossas boas obras são inúteis se elas pretendem nos salvar. A única coisa que fica para fazer é crer e esperar.

A reflexão a seguir é de Raymond Gravel, sacerdote de Quebec, Canadá, publicada no sítio Culture et Foi, comentando as leituras do 4º Domingo de Quaresma - ciclo B. A tradução é de Susana Rocca.

Eis o texto.

 

Referências bíblicas: 

1ª leitura: 2 Cr 36,14-16.19-23
2ª leitura: Ef 2,4-10
Evangelho: Jo 3,14-21

Estamos na metade da Quaresma, no domingo da Alegria... Uma parada diante da cruz, não somente do instrumento do suplício e da tortura, mas da cruz como instrumento de salvação... A cruz já transformada pela Páscoa... A cruz que fala do Amor louco de Deus e da sua vitória sobre as forças do mal... A cruz como uma árvore, uma árvore sobre a qual Jesus morre e sobre a qual renasce o primeiro nascido dentre os mortos. Uma árvore que dá fruto; a árvore da vida nova. Mas como pode ser esse domingo de alegria, sendo que São João afirma que a cruz é necessária para a salvação? “É preciso que o Filho do Homem seja levantado. Assim, todo aquele que nele acreditar, nele terá a vida eterna” (Jo 3,14-15). Mas o que fazer para experimentar a Alegria de ser salvo?

Ter necessidade de Deus

O trecho do evangelho de João que temos hoje é a continuação do encontro com Nicodemos, onde Jesus tinha dito a esse notável juiz que, para entrar no Reino dos céus, seria preciso renascer de novo: “Eu garanto a você: se alguém não nasce do alto, não poderá ver o Reino de Deus” (Jo 3,3). E aí Nicodemos não entende o que Cristo lhe diz. O que é renascer? Esse novo nascimento? Ele diz a Jesus; “Como é que um homem pode nascer de novo, se já é velho? Poderá entrar outra vez no ventre de sua mãe e nascer?” (Jo 3,4). Jesus salienta: “Ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nasce da água e do Espírito” (Jo 3,5). E ele acrescenta: “Quem nasce da carne é carne, quem nasce do Espírito é espírito” (Jo 3,6).

No fundo, esse diálogo com Nicodemos nos leva a entender o evangelho de hoje. Renascer da água e do Espírito é nascer de Deus; ter necessidade dele. Então, a primeira atitude a ter para experimentar a Alegria da salvação é, primeiro, saber-se limitado e ter a humildade de reconhecer nossa necessidade de Deus. É o que o evangelista João chama de se aproximar da luz: “Mas, quem age conforme à verdade, se aproxima da luz” (Jo 3,21). Se nós cremos somente em nós mesmos, em nossas forças, em nossas capacidades e em nossas virtudes, sofremos de egocentrismo e de orgulho, e isso deveria bastar para nos julgar nós mesmos. Como Deus pode fazer alguma coisa por alguém que não precisa de nada: “Quem acredita nele, não está condenado; quem não acredita, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho único de Deus” (Jo 3,18).

Não é esse mesmo orgulho que o autor do segundo livro das Crônicas detectou no povo de Israel e que o conduziu ao Exílio? “Javé, o Deus de seus antepassados, enviou seus mensageiros, uns após outros, pois queria poupar o seu povo e a sua habitação. Mas eles caçoavam dos mensageiros de Deus, levavam na brincadeira suas palavras, zombavam dos profetas” (2 Cr 36,15-16). Hoje ainda, será que nós vivemos frequentemente como se nós não precisássemos de nada? Pode ser que estejamos reagindo a más interpretações de Deus? Um Deus autoritário? Um Deus que julga? Que proíbe? Que condena? Em vez de um Deus que ama e que perdoa gratuitamente?

É por isso que nos falta humildemente olhar para a cruz; ela nos revela nossa fé e nossa falta de fé. Em outras palavras, levantar os olhos e olhar a cruz é ver a verdade sobre nós mesmos, sobre nossos limites e nossas fragilidades. Contemplá-la é ousar crer que para ela Cristo pode nos curar, nos salvar. Não por nada que são João faz o paralelo de Cristo na cruz como essa lenda da serpente de bronze levantada no deserto para que os israelitas que se faziam morder pela serpente pudessem recobrar a saúde olhando-a e contemplando-a. No fundo, é preciso olhar o mal em plena luz, para poder ficar curado.

Saber que Deus nos ama

O relacionamento de Deus com o homem não é primeiramente constituído pela reciprocidade. Ela é graça, isto é: dom, bondade, amor, misericórdia. Na sua carta aos Efésios, São Paulo afirma explicitamente: “Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou” (Ef 2,4). E São João acrescenta: “Pois Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único” (Jo 3,16). A salvação que Deus nos oferece é por pura bondade que ele o faz. Isso não vem de nós; é um dom de Deus (Ef 2,8). Isso não vem dos nossos atos, porque é Deus quem nos criou (Ef 2,9). E essa graça da salvação se manifestou em Jesus Cristo, o Filho de Deus: “De fato, Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, e sim para que o mundo seja salvo por meio dele” (Jo 3,17). E para que acontecesse foi preciso a morte do Filho na cruz, mas essa morte nos faz reviver e nos ressuscita: “Na pessoa de Jesus Cristo, Deus nos ressuscitou e nos fez sentar no céu” (Ef 2,6). Isso significa que com a causa do amor, com Cristo, nós passamos no lado de Deus e da Vida. Seja o que for, nós somos salvos. Nós vivemos na luz.

Mas por que a recusa de olharmos para a cruz? Simplesmente porque ela nos remete por si mesma aos nossos limites, às nossas pobrezas e fragilidades. Gostaríamos de passar por cima para chegar à Páscoa... Mas não é possível, pois a cruz é uma parte constitutiva de nossas vidas e do mistério pascal. Por outro lado, existe também a atitude de certos dirigentes de Igreja que assumem atitudes de desprezo no lugar do mundo contemporâneo. Eles querem impor regras inúteis às mulheres e aos homens de hoje, como se as suas realidades fossem más e em vistas à perdição. Esses homens de Igreja têm uma visão negativa da nossa época. É a época da não confiança nesse Deus de Amor que ama apaixonadamente as mulheres e os homens de todos os tempos. É por isso que esses dirigentes de Igreja devem pegar, primeiramente, eles mesmos o caminho da conversão, pois como podem levar uma mensagem de esperança ao mundo de hoje, se eles se desesperam ao ver a humanidade? Se Deus ama apaixonadamente o mundo, nós devemos viver na confiança e na esperança: confiança em Deus e esperança na Vida.

Só uma coisa a fazer: Crer

A salvação é gratuita. O Amor de Deus por nós é incondicional e as nossas boas obras são inúteis se elas pretendem nos salvar. A única coisa que fica para fazer é crer e esperar. E tudo o que nós fazemos de bom e de verdadeiro é Deus que faz em nós, pois nós temos escolhido a luz, e a luz nos faz reconhecer a ação de Deus em nós (Jo 3,21). As nossas boas obras são, então, atos de fé, pois elas surgem do nosso engajamento em crer no Cristo da Páscoa e em esperar a Ressurreição.

Para concluir, podemos dizer verdadeiramente que tudo é graça, como lembra brilhantemente São Paulo aos Efésios. É Deus mesmo que atrai os homens até seu Filho (Jo 6,44), e lhes permite caminhar progressivamente até a plena luz. É, sem dúvida, o que fazia Pascal dizer: “Tu não me procurarias, se tu já não me tivesses encontrado”. 

Leia mais

Comunicar erro

close

FECHAR

Comunicar erro.

Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Uma cruz de Amor! - Instituto Humanitas Unisinos - IHU