Um dinheiro que não é nosso

Fonte: Religión Digital

08 Outubro 2021

 

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Marcos 10,17-30, que corresponde ao 28º domingo do Tempo Comum, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 

 

Eis o texto.

 

Nas nossas igrejas pede-se dinheiro para os necessitados, mas já não se expõe a doutrina cristã que sobre o dinheiro predicaram com força, teólogos e pregadores como Ambrósio de Trier, Agostinho de Hipona ou Bernardo de Claraval.

Uma pergunta aparece constantemente nos seus lábios. Se todos somos irmãos e a terra é um presente de Deus para toda a humanidade, com que direito podemos continuar a acumular o que não precisamos, se ao fazê-lo estamos privando os outros do que necessitam para viver? Não há antes que afirmar que o que sobra ao rico pertence ao pobre?

Não devemos esquecer que possuir algo significa sempre excluir os outros dele. Com a propriedade privada estamos sempre a privar os outros daquilo que desfrutamos.

Por isso, quando damos algo nosso aos pobres, na realidade talvez estejamos restituindo o que não nos corresponde totalmente. Escutemos estas palavras de São Ambrosio: Não dás ao pobre do teu, mas sim devolves o dele. Porque o que é comum é que todos, não apenas dos ricos... Pagas, pois, uma dívida; não dás gratuitamente o que não deves.

Naturalmente, tudo isto pode parecer idealismo ingênuo e inútil. As leis protegem de maneira inflexível a propriedade privada dos privilegiados, ainda que dentro da sociedade haja pobres que vivem na miséria. São Bernardo reagia assim no seu tempo: continuamente se ditam leis nos nossos palácios; mas são leis de Justiniano, não do Senhor.

Não nos deve surpreender que Jesus, ao encontrar-se com um homem rico que cumpriu todos os mandamentos desde a infância, lhe diga que ainda lhe falta uma coisa para adotar uma postura autêntica de seguimento seu; deixar de acumular e começar a partilhar o que tem com os necessitados.

O homem rico afasta-se de Jesus cheio de tristeza. O dinheiro empobreceu-o, tirou-lhe liberdade e generosidade. O dinheiro impede-o de escutar a chamada de Deus a uma vida mais plena e humana. Que difícil vai ser para os ricos entrar no reino de Deus. Não é uma sorte ter dinheiro, mas um verdadeiro problema, pois o dinheiro nos impede de seguir o verdadeiro caminho para Jesus e para o seu projeto do reino de Deus.

 

 

 

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