Jesus nos faz partícipes de sua experiência de filiação com Deus

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26 Julho 2019

Um dia, Jesus estava rezando em certo lugar. Quando terminou, um dos discípulos pediu: “Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou os discípulos dele.” Jesus respondeu: “Quando vocês rezarem, digam: Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Dá-nos a cada dia o pão de amanhã, e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos aqueles que nos devem; e não nos deixes cair em tentação”.

Jesus acrescentou: “Se alguém de vocês tivesse um amigo, e fosse procurá-lo à meia-noite, dizendo: ‘Amigo, me empreste três pães, porque um amigo meu chegou de viagem, e não tenho nada para oferecer a ele’. Será que lá de dentro o outro responderia: ‘Não me amole! Já tranquei a porta, meus filhos e eu já nos deitamos; não posso me levantar para lhe dar os pães’?

Eu declaro a vocês: mesmo que o outro não se levante para dar os pães porque é um amigo seu, vai levantar-se ao menos por causa da amolação, e dar tudo aquilo que o amigo necessita. Portanto, eu lhes digo: peçam, e lhes será dado! Procurem, e encontrarão! Batam, e abrirão a porta para vocês! Pois, todo aquele que pede, recebe; quem procura, acha; e a quem bate, a porta será aberta. Será que alguém de vocês que é pai, se o filho lhe pede um peixe, em lugar do peixe lhe dá uma cobra? Ou ainda: se pede um ovo, será que vai lhe dar um escorpião? Se vocês, que são maus, sabem dar coisas boas aos filhos, quanto mais o Pai do céu! Ele dará o Espírito Santo àqueles que o pedirem”.

Leitura do Evangelho de Lucas 11, 1-13. (Correspondente ao 17º Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico).

O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.

Ouça a Leitura do Evangelho

 

Jesus nos faz partícipes de sua experiência de filiação com Deus

No seu caminho a Jerusalém, o evangelista coloca esta atitude fundamental da vida de Jesus: “Um dia, Jesus estava rezando em certo lugar”. No seu evangelho, Lucas apresenta em várias oportunidades Jesus orando, especialmente nos momentos decisivos da sua vida. Possivelmente sua forma de rezar chamava a atenção das pessoas que estavam ao seu lado.

Tentemos reconstruir uma cena de Jesus em oração. Como imaginamos sua compostura e seu modo de agir durante a oração? Quais seriam as palavras usadas por ele para dirigir-se a Deus? Sem dúvida sua maneira de relacionar-se com Deus e de nomeá-lo era diferente daquilo que estavam acostumados a praticar ou visualizar seus discípulos, despertando sua inquietude. Eles ficam intrigados pelo seu estilo, pela sua confiança em Deus. No evangelho Jesus reza em diferentes lugares, apresentando todo lugar como um possível espaço de encontro com Deus. Isso desperta o interesse dos discípulos e por isso pedem-lhe que lhes ensine como rezar.

A oração faz parte da vida quotidiana de Jesus e não é um acontecimento extraordinário, mas sim um comportamento que acompanha os momentos fundamentais de sua vida e seu agir. Em várias oportunidades, Lucas narra diferentes momentos da vida de oração de Jesus. Nos primeiros capítulos, narra que “quando a fama de Jesus se espalhava cada vez mais e numerosas multidões se reuniam para ouvi-lo e serem curadas de suas doenças, Jesus se retirava para lugares desertos, a fim de rezar” (Lc 5, 5-6). Em outro capítulo, antes de escolher os Doze discípulos, diz que Jesus “foi para a montanha a fim de rezar e passou toda a noite em oração a Deus” (Lc 6,13). Às vezes Jesus vai sozinho rezar e em outras ocasiões está acompanhado. O evangelho menciona quando ele se dirige para a montanha para rezar acompanhado de Pedro, Santiago e João. Nesse contexto descreve-se o que acontece enquanto rezava“seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante” (Lc 9,29). Jesus deixa-nos uma clara referência da importância de perseverar na oração. Ele o faz através de uma parábola, mostrando a necessidade de rezar sempre, sem nunca desistir (Lc 8,1). Ou, quando entra no Templo convertido em um antro de ladrões, Jesus, citando as Escrituras, diz: “Minha casa será casa de oração” (Lc 19, 46). No difícil momento prévio a sua condenação, estando no monte das Oliveiras, procura passar esse momento final da sua vida colocando sua confiança totalmente em Deus, seu Pai.

Assim como os discípulos, neste domingo cada um e cada uma de nós somos convidados a sentir a necessidade de aprender a rezar. Para isso é preciso reconhecer que não sabemos como rezar, como relacionar-nos livremente com Deus. Podemos perguntar-nos: como é nossa oração? Converte-se muitas vezes numa relação automática, que não traz novidade à nossa vida? Colocamos diante de Deus nossas alegrias, preocupações ou as dores que carregamos no diário viver ou tudo isso fica de lado e não faz parte do nosso diálogo com Deus? Há verdadeira intimidade com Deus ou uma parte fundamental de nossa vida fica em segredo, oculta por trás dos muros do costume ou do imediato dos acontecimentos?

Junto com os discípulos, peçamos a Jesus: “Senhor, ensina-nos a orar”.

Escutemos lentamente cada uma das palavras que Jesus nos revela: “Quando vocês rezarem, digam: Pai, santificado seja o teu nome”. Convida-nos a nos dirigir a Deus como nosso Pai! Como diz o Papa Francisco, “Pai Nosso” é uma oração ousada, porque "nenhum de nós, nenhum teólogo famoso ousaria orar a Deus desta forma". Jesus não quer deixar de lado nossa humanidade, não quer nos anestesiar, “não quer que deixemos de fazer perguntas para aturar tudo sem questionar: ao invés disso, quer que todo sofrimento, toda inquietação, suba ao céu e se torne um diálogo”. Jesus não ensina fórmulas de "bajulação", pelo contrário, ele nos convida a orar ao Senhor quebrando as barreiras do temor e reverência. Ele não ensina a se dirigir a Deus o chamando de "Todo-poderoso", "Altíssimo", "Você, que está tão longe de nós, e eu que sou apenas uma pessoa pobre", mas simplesmente com a palavra "Pai", com toda a simplicidade, como as crianças abordam seu pai: e esta palavra "pai" expressa confiança, a confiança filial", continua o Papa. , com toda a simplicidade, como as crianças abordam seu pai: e esta palavra "pai" expressa confiança, a confiança filial", continua o Papa. (Texto completo: “Pai Nosso": uma oração “ousada” porque "nenhum de nós, nenhum teólogo famoso ousaria orar a Deus desta forma", diz o Papa)

Jesus revela-nos que Deus é Pai, um Pai amoroso que está ao nosso lado, que é alcançável, como disse o cardeal Giuseppe Betori: “não apenas no futuro, mas desde o presente momento, significa poder preencher a nossa existência com uma presença amorosa, da qual nosso coração manifesta uma ardente necessidade” (Texto completo: A paternidade de Deus é feita de ternura)

Desde essa intimidade e confiança no Pai que Jesus nos convida a viver, ele nos ensina a pedir: Venha o teu Reino. Dá-nos a cada dia o pão de amanhã, e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos aqueles que nos devem; e não nos deixes cair em tentação.

É preciso pedir, porque dessa forma manifestamos nossa total confiança em Deus que é Pai e nós somos seus filhos e filhas queridos. Nunca um pai vai deixará de ouvir o pedido dos que ama, pelo contrário, sempre os escutará e responde da melhor forma possível. Assim é Deus com cada um de nós. Como expressa Francisco, “a oração do pedido é algo muito nobre. Deus é o Pai, que tem uma imensa compaixão por nós, e quer que seus filhos falem com ele sem medo, diretamente”. 

Neste domingo, peçamos ao Senhor ter um coração simples para reconhecer a presença de Deus que sempre está próximo de nós. Ele está ao nosso lado em todo lugar e em todo momento. Não há lugares especiais para dirigir-nos a Deus, é Ele que nos acompanha no nosso diário viver como um Pai cuida e ama de cada um e cada uma de seus filhos e filhas amados. Assim, confiemos-Lhe nossas necessidades, as carências que há na nossa vida e as necessidades que vemos ao nosso redor.

Junto a Jesus, sejamos voz dos que ainda não conhecem este amor misericordioso do Pai!

Oração

Jesus

Jesus de Nazaré
palavra sem fim
em teu nome pequeno,
carícia infinita
em tua mão de operário,
perdão do Pai
em ruas sem liturgia,
todo poderoso Senhor
em sandálias sem terras,
cume da história
crescendo dia a dia,
irmão sem fronteiras
em uma reduzida geografia.

Não és uma maiúscula
que não cabe na boca
dos mais pequenos,
mas sim pão feito migalhas
entre os dedos do Pai
para todos os simples.

Tu continuas sendo
a água da vida,
uma fonte inesgotável
na mochila rasgada
do que busca seu futuro,
um lago azul
na cavidade insone
do travesseiro,
e um mar tão imenso
que somente cabe
dentro de um coração
sem portas nem janelas.

Em ti tudo está dito,
ainda que somente sorvo a sorvo
vamos libando teu mistério.

Em ti estamos todos,
ainda que somente nome a nome
vamos sendo corpo teu.

Em ti tudo ressuscitou
ainda que somente morte a morte
vamos acolhendo teu futuro

e em cada um de nós
continuas hoje crescendo
até que todo nome,
raça, argila, credo,
culmine tua estatura.

 Benajamin González Buelta

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