Após as indicações do Papa para a seleção de candidatos ao sacerdócio. Vocações equilibradas e maduras

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03 Outubro 2018

Recebendo os bispos recém-nomeados, o Papa convidou-os a não desanimar diante das dificuldades "para não contabilizar fracassos e reprovar amargura" e não se assustar “diante das feridas da carne de Cristo, sempre infligidas pelo pecado e não raramente pelos filhos da Igreja”. E referindo-se em particular aos escândalos de padres pedófilos, o Pontífice confirmou a luta e a repressão contra esses crimes horrendos, recomendando aos bispos “uma atenção especial ao clero e seminários” porque “não podemos responder aos desafios que temos contra eles sem atualizar nossos processos de seleção, acompanhamento e avaliação”.

A reportagem é de Giuseppe Versaldi, publicada por L'Osservatore Romano, 02/03-10-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.

A indicação do Papa Francisco é importante e se integra com o que a Igreja está fazendo para descobrir e reprimir os casos de abusos infantis por parte de seus sacerdotes.

Importante porque não se limita a agir sobre as consequências, mas quer buscar as causas de tais crimes. Poucos se perguntam por que os anos da formação dos candidatos ao sacerdócio por instituições em que atuam pessoas escolhidas para o papel de formadores não tenham sido suficientes para descobrir as fraquezas e imaturidades que depois se agravaram até levar aos abusos contra os menores. Evidentemente, como indicado pelo Santo Padre, é necessário atualizar os processos de formação para alcançar um discernimento sobre a idoneidade dos candidatos e garantir a exclusão de tantos casos de pedofilia, que agora emergem com grave escândalo dos fiéis.

Deve-se considerar que as normas canônicas exigem, entre outros elementos, que o candidato seja dotado de "qualidades físicas e psíquicas consentâneas com a ordem a receber" (cânon 1029); depois, entre documentos que o reitor do seminário deve apresentar ao bispo estão um certificado sobre qualidades exigidas para receber a ordem e outro "em seu estado de saúde, tanto física como psíquica" (cânon 1051); além disso, o cânon 1052 determina que, se, apesar de todas as investigações "o Bispo tiver boas razões para duvidas se o candidato é idôneo para ser ordenado, não o ordene."

Grande é a preocupação da Igreja com a qualidade daqueles que admite às ordens sagradas. A primeira preocupação é, portanto, excluir as pessoas que sofram de patologias, a tal ponto que, nesses casos, mesmo que a pessoa fosse ordenada, seria irregular e, portanto, impedida de exercer seu ministério (cf. cânon 1041). A Igreja não se limita em excluir do sacerdócio os enfermos, mas requer em positivo as virtudes humanas e espirituais necessárias para exercer efetivamente o ministério sacerdotal. Como João Paulo II escrevia: "os futuros presbíteros devem cultivar uma série de qualidades humanas necessárias para a construção de personalidades equilibradas, fortes e livres, capazes de suportar o peso das responsabilidades pastorais" (Pastores dabo vobis, n. 43).

Como, então, é possível que anos de formação não tenham sido suficientes para descobrir a fragilidade das pessoas que depois viriam a praticar a pedofilia? A resposta mais simplista é que elas não se demonstraram pedófilas durante os anos do seminário. Mas é justamente uma simplificação, pois, como os estudiosos concordam, certamente um olhar de especialista já perceberia sinais de pelo menos uma grave fraqueza ou imaturidade psíquica na área afetiva e sexual, e que se tornaria evidente nos episódios de pedofilia. Em outras palavras, o discernimento sobre a idoneidade para a ordenação foi equivocado, uma vez que se limitou a excluir o fenômeno patológico, sem aprofundar uma avaliação sobre os sinais que serviam como um precursor e sobre a verificação positiva da maturidade psicológica dos sujeitos.

Justamente o Papa chama a atenção sobre a necessidade de atualizar os métodos de formação para torná-los adequados a uma avaliação profunda e não superficial dos requisitos para a ordenação. Mas isso compota uma atualização também dos formadores nos seminários, de modo a torná-los aptos a perceber os sinais de alarme e não apenas o comportamento patológico dos candidatos.

Uma investigação sobre a formação dos candidatos ao sacerdócio após o concílio havia evidenciado que, apesar dos esforços para melhorar os métodos de formação propostos pelo Concílio Vaticano II, a preparação ainda não era suficiente para evitar o risco de uma fragilidade tal a expor, na sequência, os sacerdotes ao perigo de que, com o passar do tempo, aumentassem a frustração e o descontentamento, e, portanto, pudessem emergir compensações em vários campos, incluindo o da sexualidade e dos desvios sexuais (cf. L.M. Rulla, F. Imoda, J. Ridick, Antropologia da vocação cristã: confirmações existenciais, Casale Monferrato 1986).

A longa pesquisa tinha apontado que, mesmo na ausência de psicopatologias, uma boa parte daqueles que chegavam ao sacerdócio, apesar de sua boa vontade, não se conheciam o suficiente em suas fragilidades psíquicas, e enfrentavam a vida sacerdotal com expectativas irreais e desproporcionais às suas capacidades reais, de modo a chegar ou abandonar o ministério ou buscar compromissos com compensações, muitas vezes no campo sexual. A pesquisa também destacou a ajuda insuficiente recebida pelos candidatos durante os anos formativos por parte de seus formadores, e recomendava melhorar a formação dos próprios formadores, de modo a torná-los aptos a perceber os sinais inclusive escondidos de fragilidade psíquica e, com a ajuda de especialistas, poder ajudar os jovens a se conhecerem de forma mais profunda e realista, de modo a serem livres e capazes de realizar seu ideal vocacional.

Em 2008, a Congregação para a Educação Católica, então ainda responsável pelos seminários, tinha formulado as mesmas sugestões nas Orientações para o uso das competências psicológicas na admissão e formação dos candidatos ao sacerdócio, onde, entre outras coisas, aparecia: "Cada formador deve ser preparado, inclusive com cursos específicos apropriados, para a mais profunda compreensão da pessoa humana e das exigências de sua formação para o ministério ordenado. Para tal propósito, podem ser muito úteis encontros de comparação e esclarecimento com especialistas em ciências psicológicas sobre alguns temas específicos" (n.4). Uma recomendação que se tivesse sido colocada mais em prática, teria poupado muitos erros e escândalos.

Com isso, não se quer absolutamente menosprezar a necessária repressão dos abusos, mas a igualmente necessária prevenção tornaria ainda mais fidedigna a ação da Igreja contra a pedofilia entre o clero, incluindo a obrigatória colaboração com as autoridades civis. Sempre na alegria da missão de evangelização e com a conscientização de que, como o Papa escreveu na Evangelii gaudium (n. 12), "seria um erro considerá-la como uma heroica tarefa pessoal, dado que ela é, primariamente e acima de tudo o que possamos sondar e compreender, obra de Deus. Jesus é o primeiro e o maior evangelizador".

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