21 Junho 2017
Numa região onde os saques das riquezas minerais se contam aos bilhões de dólares, e são transportadas por locomotivas quilométricas que embarcam nossas riquezas para outras terras, brasileiros pobres vivem como sem pátrias, à mercê da violência do estado, este sempre a serviço de todos os ricos, do campo e da cidade, escreve Jorge Neri, ativista do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST e do Movimento Pela Soberania Popular na Mineração – MAM em artigo publicado por MST, 19-06-2017.
Eis o artigo.
No dia 19 de junho, na capital do estado do Pará, Belém, movimentos sociais, organizações políticas, sindicais e populares realizam um Ato pela Democracia e Contra a Violência no Campo, motivados pelo preocupante aumento de assassinatos contra camponeses e suas lideranças no estado. Cerca de 37 só este ano.
O ato acontece ao aproximar-se a data de aniversário (24) do último massacre contra camponeses pobres, desta vez acontecido no município de Pau D`arco , sul do Pará, onde, de acordo com primeiros dados da perícia, nove trabalhadores e uma trabalhadora rural foram barbaramente executados, por um “pelotão de fuzilamento” da Polícia Militar do Pará.
Na região de Carajás, tragédias semelhantes se anunciam. A disputa pela terra que estabelece de um lado trabalhadores rurais Sem Terra, Sem Teto, pequenos agricultores, e de outro, velhas oligarquias rurais latifundiárias, e modernas empresas minerarias, acoitadadas pelo estado brasileiro, criam o combustível para uma escalada sem precedentes de violência contra os pobres.
Sem trabalho, moradia ou terra, centenas de milhares de homens e mulheres ficam à mercê de um presente cruel e um futuro sem qualquer esperança.
O estado, que não garante força policial para desalojar grileiros de terras, como é o caso da Fazenda Fazendinha em Curionópolis, é o mesmo que ameaça cumprir mandato com força policial para despeja o Acampamento da Fetraf, na VS 10, onde mil famílias buscam construir um espaço de esperança sobre a terra. Todos em alerta
Mandatos de reintegração de posse, também se espalham por vários territórios onde acampamentos e comunidades rurais se estabelecem em áreas reivindicadas pela mineradora Vale.
Numa região onde os saques das riquezas minerais se contam aos bilhões de dólares, e são transportadas por locomotivas quilométricas que embarcam nossas riquezas para outras terras, brasileiros pobres vivem como sem pátrias, à mercê da violência do estado, este sempre a serviço de todos os ricos, do campo e da cidade.
O mar revolto de centenas de milhares de pobres se movimenta nas terras de Carajás.
Às margens da ferrovia, por onde passam os vagões de minério, a terra treme.
Às margens de todo e qualquer projeto de desenvolvimento desenhado pelas elites coloniais, regionais e nacionais, centenas de milhares de pobres se movimentam, e também podem fazer a terra tremer.
Diferente de Eldorado dos Carajás, Corumbiara e Pau D`arco, as valas abertas na terra, depois de cada tremor, não levarão só os pobres.
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