A transição religiosa na América Latina e no Brasil

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01 Junho 2017

"Os países que estão mais adiantados no primeiro aspecto da transição religiosa (alternância de hegemonia entre católicos e evangélicos) na ALC são Honduras, Guatemala, Nicarágua e El Salvador. O país mais adiantado no segundo aspecto da transição religiosa (aumento da pluralidade e secularização) é o Uruguai. O número de uruguaios que se declaram sem religião está próximo de 40%", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 31-05-2017. 

Eis o artigo.


 (Foto: EcoDebate)

A colonização da América, abaixo do Rio Grande, foi marcada pela força do catolicismo que acompanhou o domínio espanhol e português no continente. A América Latina e Caribe (ALC) é a casa de cerca de 425 milhões de católicos – aproximadamente 40% de todos os católicos do mundo. Pela primeira, a Santa Sé tem um Papa de origem latino-americana.

Mas a ALC está passando por uma grande transição religiosa que se manifesta em 4 aspectos:

1) Declínio absoluto e relativo das filiações católicas;
2) Aumento acelerado das filiações evangélicas (com diversificação das denominações e aumento dos evangélicos não institucionalizados);
3) Crescimento do percentual das religiões não cristãs;
4) Aumento absoluto e relativo das pessoas que se declaram sem religião;

De maneira mais resumida e muito generalizada, pode-se dizer que a ALC está passando por duas grandes transformações agregadas, que devem se prolongar ao longo do século XXI:

1) Mudança de hegemonia entre católicos e evangélicos (protestantes);
2) Aumento da pluralidade religiosa, com queda no percentual de filiações cristãs (católicas + evangélicas), aumento de outras religiões e aceleração do processo de secularização.

O gráfico acima, do Instituto PEW, mostra que, na média da América Latina e Caribe, os católicos representavam mais de 90% da população antes de 1970 e caíram para 69% em 2014. Os protestantes (evangélicos) representavam somente 1% em 1910, 3% em 1950, 4% em 1970 e deram um salto para 19% em 2014. As pessoas que se declaram sem religião (unaffiliated) eram menos de 1% até 1970 e pularam para 8% em 2014.

Os países que estão mais adiantados no primeiro aspecto da transição religiosa (alternância de hegemonia entre católicos e evangélicos) na ALC são Honduras, Guatemala, Nicarágua e El Salvador. O país mais adiantado no segundo aspecto da transição religiosa (aumento da pluralidade e secularização) é o Uruguai. O número de uruguaios que se declaram sem religião está próximo de 40%

O país mais resiliente à transição é o Paraguai, onde os católicos mantêm um percentual em torno de 90% da população. Os países Equador, México, Colômbia e Bolívia também estão numa fase inicial da transição religiosa. Enquanto o Chile e a Costa Rica estão em uma fase parecida com a do Brasil.

O gráfico abaixo – com dados dos censos demográficos do IBGE – mostra que a transição religiosa brasileira é parecida com a transição da ALC, mas o Brasil está mais adiantado nesse processo do que a média da ALC, pois o percentual de católicos estava em 64,6% em 2010, o percentual de evangélicos em 22,2% e o percentual de sem religião estava em 8%.

Infelizmente, não temos dados das pesquisas do IBGE desde o último censo de 2010. Mas dados do Instituto Datafolha, de dezembro de 2016, mostra que a transição religiosa no Brasil tem se acelerado na atual década (Alves, 18/01/2017). A última pesquisa do Datafolha mostra que houve um crescimento muito grande do número de pessoas que se declaram sem religião.

O Brasil é o maior país católico do mundo e a ALC é o continente mais católico. Uma mudança no panorama religioso da região vai ter uma grande implicação para a correlação de forças internacionais entre as grandes religiões. Resta saber se o Papa Francisco, bastante conhecedor dos problemas da região, vai conseguir reverte essa situação de declínio relativo da influência da Igreja de Roma sobre os povos que foram colonizados e convertidos há cerca de 500 anos.

Referências:

ALVES, JED. Ventos secularizantes: ateus, agnósticos e pessoas sem religião no censo brasileiro de 2010, Ecodebate, RJ, 04-10-2017

ALVES, JED. Chuí: a capital brasileira dos sem religião, Ecodebate, RJ, 06-02-2017

ALVES, JED. A transição religiosa em ritmo acelerado no Brasil, Ecodebate, RJ, 18-01-2017

PEW. Religion in Latin America. Widespread Change in a Historically Catholic Region, PEW, November 13, 2014


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