Quem quer morar nos Estados Unidos?

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24 Março 2017

Não se vê o aterro sanitário de Koshe do Hotel Sheraton em Addis Abeba, Etiópia. O hotel de 293 quartos, confortavelmente situado entre o Palácio Nacional, onde mora o presidente, e o Palácio de Menelik, onde mora o ministro das Relações Exteriores, é parte do Starwood Luxury Collection. Dizem que mais de 500 famílias foram "relocadas" para a sua construção em 1998. Eles removeram mais 3.000 famílias da área para construir um shopping, uma mesquita e apartamentos.

O artigo é de Phyllis Zagano, teóloga norte-americana da Universidade de Hofstra, de Nova York, autora, dentre outros, de Women Deacons: Past, Present, Future; Women Deacons? Essays with Answers e In the Image of Christ: Essays on Being Catholic and Female, publicado por National Catholic Reporter, 23-03-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.

O que nos traz ao outro extremo da cidade, no aterro Koshe, de cerca de 30 hectares, onde centenas de pessoas foram soterradas por um deslizamento de lixo em 11 de março e pelo menos 113 foram mortas. É lá que eles moravam. É onde eram suas casas. É lá que eles guardavam suas esperanças e sonhos e, aliás, não sobreviviam com o que os seus vizinhos ricos jogavam fora.

O Sheraton Addis diz a futuros funcionários em seu site que oferece "um leque de opções de refeições, como restaurantes franceses, italianos e indianos", um restaurante na beira da piscina, um restaurante internacional 24h e cinco bares e lounges.

A cidade está construindo uma central de biogás no alto do aterro Koshe. Os sobreviventes que moravam lá e sobreviviam do lixo atribuem o deslizamento aos tratores que estavam terraplanando a pilha de lixo que eles chamavam de lar.

O Sheraton Addis tem uma estação particular de tratamento de água, que "assegura a esterilização e purificação da água de bactérias". O hotel tem geradores poderosos o suficiente para ignorar os apagões da cidade e cortes de energia.

Nunca visitei o aterro Koshe, mas já fui a pelo menos uma das cerca de 14 favelas em São Paulo, no Brasil. Pessoas reais moram lá: mães, pais, crianças e bebês. Eles comem e vestem o que podem. Trabalham onde conseguem trabalho.

Também há os villas miseria na Argentina, e a favela Khayeltisha, com 400.000 pessoas, na Cidade do Cabo, África do Sul. Existem favelas gigantescas em Nairobi, no Quênia, em Mumbai, na Índia, e em Karachi, Paquistão. Dizem que o bairro Neza-Chalco-Itza na Cidade do México, México, com quase quatro milhões de habitantes, é a maior favela do mundo. Comparado com o aterro Koshe, é um subúrbio de classe alta.

Bem ou mal, milhões de pessoas estão presas em vários níveis de situações terríveis, sem ter como escapar. Muitas pessoas no planeta vivem do lixo, dependem do lixo de outras pessoas. Seja por deslizamentos, fome, guerra ou apenas pela já conhecida pobreza, eles têm que ir para outro lugar.

Por que tentar vir para os Estados Unidos?

Será que um governo estável e ruas tranquilas não têm nada a ver com isso? Será que as oportunidades educacionais e a água corrente seriam interessantes? E as oportunidades financeiras? Ou apenas um pouco de comida, roupas e um lugar limpo para dormir?

O Sheraton Addis oferece água mineral diariamente, televisões de 42 polegadas e Internet Wi-Fi, a partir de US$ 211 por noite. (As suítes custam entre US$ 461 e US$ 514).

A média de renda per capita na Etiópia, o segundo país mais pobre do mundo, é $590 (cerca de 13.500 birr etíopes).

Há 103 milhões de pessoas predominantemente cristãs na Etiópia. Muito poucos poderão vir aos Estados Unidos.

Os sortudos vão encontrar parentes de primeiro grau para patrociná-los, talvez, na Califórnia, Maryland, Minnesota, Virgínia ou Texas. Nesses estados, as estatísticas do Departamento de Estado dos EUA contabilizam cerca de 250.000 imigrantes etíopes e seus filhos que, em 2012, pelo menos, enviaram US$ 181.000.000 de volta para a Etiópia.

No último táxi que peguei nos Estados Unidos, o taxista era da Etiópia. Ele tinha quatro ou cinco filhos, todos nascidos nos EUA. Eles eram médicos, advogados e professores.

Ele tinha green card, mas as pessoas que estavam ajudando-o a obter a cidadania ficavam cancelando compromissos ou extraviando papelada. Depois os funcionários que estavam cuidando de seu caso se mudaram e ele perdeu o contato e teve que começar tudo de novo com uma nova pessoa. Isso vinha acontecendo há anos. Sugeri que ele fosse à Arquidiocese católica para onde estávamos nos direcionando. Ah, ele disse, eram eles que estavam cuidando de seu caso.

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