Milhares vão às ruas contra Temer em SP e PM reprime ato com justificativa controversa

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05 Setembro 2016

Havia milhares de pessoas na avenida Paulista neste domingo protestando contra o presidente Michel Temer em uma manifestação convocada, inicialmente, pelos coletivos Frente Brasil Popular e Povo Sem Medo. Em nada lembrou os outros cinco atos que aconteceram ao longo da semana que passou em São Paulo, e que foram classificados de “grupos pequenos de não mais que 40 a 100 pessoas”, como disse o presidente Temer em entrevista na China. A PM não divulgou o balanço de público. Na conta dos organizadores, eram 100.000 pessoas: famílias com crianças de colo, jovens e manifestantes ligados a movimentos sociais que lotaram a avenida, e marcharam, a partir das 18 horas, até o Largo da Batata. Tudo correu de maneira tranquila e organizada, como atestou a reportagem do EL PAÍS, entre as 16h30, horário marcado para começar o ato no MASP, e as 20h45, quando os manifestantes já estavam no Largo, depois de marchar por mais ou menos cinco quilômetros.

A reportagem é de Carla Jiménez, publicada por El País, 05-09-2016.

Mas, quando as pessoas começaram a ir embora, dirigindo-se ao metrô Faria Lima, em frente à Batata, uma confusão se instalou com a Polícia Militar jogando bombas de gás lacrimogênio para dispersar o fluxo dentro e fora da estação. Muitas pessoas começaram a passar mal e a tossir em reação ao gás, incluindo idosos. Os policiais jogaram bombas no mesmo Largo, numa ação que pegou de surpresa a todos ali presentes. Mesmo sem reação, a Polícia passou jogando mais bombas. “Paramos para comer em um bar e a polícia covarde e canalha, sem motivo algum, jogou uma bomba de gás dentro do estabelecimento”, relata a publicitária Mariana.

A ação da PM no metrô começou quando um grupo começou a gritar “Libera a catraca”. Segundo a polícia, foram vândalos que provocaram essa reação. “Em manifestação inicialmente pacífica, vândalos atuam e obrigam PM a intervir com uso moderado da força/munição química”, divulgou a polícia do Estado de São Paulo em seu twitter por volta das 21h. Era o mesmo desfecho que marcou todos os atos anti-Temer realizados desde a segunda, dia 29. Balas de borracha também foram disparadas.

O fotógrafo Maurício Camargo foi atingido, segundo relata a repórter Marina Rossi, que estava no momento do tiro. Um jornalista da BBC Brasil recebeu golpes de cassetete mesmo estando identificado como jornalista. Segundo o Grupo de Apoio ao Protesto Popular, 12 pessoas foram vítimas da ação policial, sendo cinco delas intoxicadas com gás, quatro por estilhaços, e três por balas de borrachas.

Imagens de uma vidraça quebrada em um estabelecimento na avenida Paulista, divulgada pela Globo News, explicaria mais tarde o que a PM procurou justificar. Mas, os seis jornalistas do EL PAÍS que seguiram a marcha dos manifestantes em distintos pontos do percurso não presenciaram nenhum ato de vandalismo, o que não deixa claro se a tal vidraça quebrada foi uma reação posterior à violência policial. Outras dezessete pessoas que estavam no protesto relataram, por rede social, também não ter visto nada que pudesse ser considerado 'vandalismo'.

Às 22h45, a Secretaria de Segurança do Estado divulgou uma nota alegando que houve um princípio de tumulto na estação, que “se transformou em depredação. Vândalos quebrando catracas, colocando em risco a vida de funcionários”. A repórter Marina Novaes se encontrava no local na hora das bombas e não viu nenhuma catraca depredada. Mais tarde, a ViaQuatro, concessionária responsável pela estação Faria Lima, disse que a confusão resultou em uma lixeira, uma luminária e uma catraca quebrada. O que também não deixa claro se esses prejuízos foram provocados após as bombas terem sido atiradas.

Chamou a atenção o fato de que neste ato de domingo havia a presença de famílias inteiras com crianças e gente acima dos 40. Nos protestos anteriores, que aconteceram ao longo desta semana, a presença majoritária era de jovens estudantes, que tinham uma atitude mais provocativa com a polícia. Por isso, a ação da PM causou estranheza e aumentou a desconfiança dos militantes de esquerda sobre as reais intenções da corporação. “A PM de [governador Geraldo] Alckmin dá seu show antidemocrático. Após o encerramento do ato pelo Fora Temer com cerca de 100 mil pessoas, a PM resolveu provocar, atirar bombas e jatos de água. Não nos intimidarão! Nenhum passo atrás!”, disse nas redes sociais Guilherme Boulos, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).

Para além deste desfecho infeliz, o Governo Temer certamente terá de rever seus conceitos sobre a dimensão dos protestos que o rejeitam na presidência. Milhares de manifestantes gritaram “Fora Temer” e “Diretas Já” para marcar posição na rua e deixar claro que não estão confortáveis com a sua chegada ao poder após o impeachment da ex-presidenta Dilma. “Ele não deveria ter minimizado os protestos, foi falta de respeito”, disse Rodrigo, funcionário público do governo de São Paulo. Estava entusiasmado por ver tantos militantes de esquerda juntos. “Só em junho de 2013 vi isto”, afirmou, lembrando as manifestações daquele ano.

Marchava ao lado de Daniela, que trabalha com educação. Enquanto caminhavam, conversavam sobre erros passados da ex-presidenta Dilma. E reconheciam naquela multidão que muitos dos que estavam saindo para protestar não haviam defendido a ex-presidenta durante o processo de impeachment. “Ao ver o outro lado crescer, é preciso voltar às ruas”, diz Daniela.

Sidney Fernandes, professor de História, e Wendel Alves, monitor de cultura, vieram de Santo André, na grande São Paulo. “Viemos para denunciar o golpe em curso que vai tirar direitos dos trabalhadores, e dinheiro de serviços públicos como o SUS”, contou Fernandes. Não tinham expectativa de que Dilma voltasse. “Não acreditamos que ela precise voltar, mas também não é certo que Temer, que não teve nenhum voto fique. Queremos Diretas Já”, repetindo um mote ouvido ao longo de toda a marcha. O senador petista Lindbergh Farias garantiu que o PT não vai facilitar a vida de Temer. “Não sairemos mais das ruas até conseguirmos as Diretas Já”, garantiu.

Ao longo do protesto era possível ver bandeiras dos movimentos sociais, da CUT e de alguns coletivos. Mas, a grande maioria dos manifestantes não estava vinculada a nenhum movimento em específico. Haviam votado em Dilma na eleição de 2014. Roseli, psicóloga que acompanhava o movimento da marcha na avenida Rebouças, disse que apoiava o protesto porque estava contra a forma como o impeachment foi aplicado. “Poderia ter sido com qualquer presidente, não só com a Dilma. Não estaria de acordo do mesmo jeito”, disse. Alguns políticos estiveram presentes no local. Caso de Luiza Erundina (PSOL), o senador Lindbergh Farias (PT), e o secretário municipal, Eduardo Suplicy.

Há mais dois atos marcados para esta semana, nos dias 7 e 8 de setembro. A violência gratuita do ato deste domingo pode ter um efeito bumerangue para o Governo Temer. Foi assim em junho de 2013 quando a repressão policial insuflou os manifestantes que foram engordando os protestos a cada novo ato. E os eleitores de Dilma que foram às ruas neste domingo, deram o recado ao presidente em um dos coros cantados ao longo da marcha: “Temer, não tem arrego, você tira o meu voto e eu tiro seu sossego”.

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