Como as redes sociais mudaram a forma de lidar com o luto e a morte

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23 Agosto 2016

As redes sociais estão modificando as formas de luto e o diálogo sobre a morte no âmbito público. Duas sociólogas da Universidade de Washington estudaram a maneira como os usuários interagem nas redes sociais com os perfis de pessoas que já morreram. Elas concluíram que essas plataformas, e particularmente o Twitter, ampliaram os círculos em que o luto transcorre, criando um espaço público antes inexistente, no qual ocorre um debate entre pessoas que nem conhecem o falecido. Esse novo espaço estaria num meio termo entre a esfera privada e a pública. Na análise delas, o Facebook representaria a esfera privada, e o Twitter ocuparia esse novo terceiro espaço.

A reportagem é de Marya González Nieto, publicada por El País, 22-08-2016.

Nina Cesare e Jennifer Branstad analisaram 39 perfis do Twitter de pessoas falecidas e as compararam com outros, do Facebook, para estudar as conversas e o comportamento das pessoas diante da morte. Elas descobriram que no Twitter os perfis dos mortos servem a propósitos muito diferentes do que se vê no Facebook ou em qualquer outra rede social. “O Twitter foi mais usado para discutir, debater e inclusive condenar ou canonizar o falecido. No Facebook, por outro lado, os perfis dos falecidos eram usados mais para mostrar sua dor de um modo mais íntimo, com mensagens muito mais profundas”, diz Cesare.

Dessa forma, o Facebook é entendido mais como um prolongamento do âmbito privado, onde dizemos nossos sentimentos da maneira como os expressamos às pessoas próximas. A novidade, portanto, vem do Twitter. As pesquisadoras descobriram em sua análise quatro tipos de tuítes fúnebres. A primeira categoria eram mensagens diretas ao morto, com lembranças de histórias comuns, a fim de manter laços com ele. O segundo tipo são mensagens íntimas, como o reconhecimento da ausência ou simples condolências. O terceiro tipo eram reflexões sobre a vida e a morte. E uma quarta categoria incluía críticas ao falecido ou ao seu estilo de vida.

Tal comportamento reflete a própria natureza do Twitter, segundo as pesquisadoras. “No Twitter, podemos tuitar sem ter seguidores, os perfis são curtos e públicos. As mensagens de 140 caracteres fazem que estes reflitam mais pensamentos concisos do que reflexões profundas”, conta Branstad. Essas características condicionam a forma pela qual usamos o Twitter, com uma atmosfera muito menos pessoal que o Facebook, propícia para que se aborde a morte de uma forma muito mais ampla. “E, ao ser mais impessoal, as pessoas se animam mais a participar quando alguém morre, mesmo que não conheçam o morto”, diz a socióloga.

No Facebook, as interações são diferentes. Normalmente os usuários se conhecem na vida real, publicam fotos pessoais e podem escolher quem vê seus perfis. “Uma mensagem no mural do Facebook de alguém que morreu é como estar na casa dessa pessoa e falar com a família. Compartilha-se a dor num círculo íntimo”, afirma Branstad. No Twitter, por outro lado, encontramos pessoas que não estariam nessa casa, que estão fora desse círculo, mas que podem comentar e falar da pessoa, e inclusive especular sobre a causa da sua morte. “Esse espaço não existia antes, ou pelo menos não em público”, diz Branstad.

Em todas as culturas sempre existiram tradições sobre a morte, mas no século XX e no mundo ocidental, os ritos foram relegados ao interior das casas e às funerárias. “O luto era algo que se sofria na intimidade. As redes sociais em geral reverteram isso e trouxeram novamente a morte ao âmbito público”, explica Cesare. E o Twitter em particular ampliou o conceito sobre o quanto alguém pode se envolver na conversação quando alguém morre, de acordo com o estudo das sociólogas.

“Há 20 anos a morte era muito mais privada. A capacidade do Twitter para abrir a comunidade ao luto e retirá-lo da esfera íntima é uma grande contribuição. E a criação desse espaço onde as pessoas podem se reunir e falar sobre a morte é algo novo”, conclui Cesare. O estudo foi publicado para a conferência anual da Associação Americana de Sociologia de 2016.

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Morte. Resiliência e fé. Revista IHU On-Line, n 279

A importância do luto

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