Francisco poderá conceder uma Prelazia Pessoal ou um Ordinariato aos lefebvrianos

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Por: André | 03 Mai 2016

Em uma decisão que, caso se concretizar, causará confusão e críticas no mundo católico, o Papa Francisco estaria para oferecer aos ex-cismáticos tradicionalistas do arcebispo francês Marcel Lefebvre, falecido em 1991, um estatuto canônico regular dentro da Igreja.

A reportagem é publicada por Religión Digital, 01-05-2016. A tradução é de André Langer.

Segundo informações coincidentes de fontes jornalísticas internacionais e da própria Fraternidade São Pio X, sediada em Ecône, na Suíça, que Lefebvre fundou em 1970, o pontífice argentino imporia três requisitos prévios genéricos, que não criariam problemas doutrinários aos ultramontanos, para acolhê-los em “uma estrutura eclesiástica apropriada”, como reclamam os tradicionalistas. Essa estrutura seria uma prelazia pessoal, como a Opus Dei, ou um ordinariato, como aquele que está em vigor com os anglicanos tradicionalistas que abandonaram a Igreja da Inglaterra quando esta aceitou a ordenação sacerdotal de mulheres.

Ao contrário dos papas anteriores (Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI), que exigiram à comunidade lefebvriana como passo anterior para qualquer negociação que aceitassem os documentos do Concílio Vaticano II, o magistério dos últimos pontífices e a histórica reforma da missa no pós-concílio, Jorge Bergoglio abandonaria esta posição e, afirmando sua linha de uma Igreja inclusiva, aceitaria que estes temas fundamentais sejam objeto “de discussão e esclarecimentos” posteriores. A afirmação é de dom Guido Pozzo, secretário da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, responsável pelos colóquios doutrinais com a Fraternidade São Pio X.

Dom Pozzo, nos últimos anos, continuou os contatos com os ultraconservadores lefebvrianos e afirmou que “se chegou a uma importante elucidação: o Concílio Vaticano II pode ser adequadamente compreendido apenas no contexto da plena tradição da Igreja e seu constante magistério”. Uma conclusão abstrata.

Entre os lefebvrianos circula um documento desde o dia 19 de fevereiro que, após enumerar os avanços obtidos, a vocação de manter bem altas as bandeiras da tradição católica e os ensinamentos de dom Lefebvre, afirma que “chegou a hora de normalizar a situação da sociedade” com Roma.

No documento se assinala que a Igreja “segue sangrando por mil feridas”, o que representa um aviso de que “não nos calaremos”.

No começo deste mês, o sucessor de Marcel Lefebvre à frente da comunidade de Ecône, o também bispo francês Bernard Fellay, encontrou-se no Vaticano com Francisco. Alguns dias depois, Fellay disse que a conversa “serviu para saldar as relações entre a Fraternidade e a Sé Apostólica”. “Foi uma alegria”, acrescentou o líder dos lefebvrianos.

Em relação à exortação apostólica Alegria do amor, que o papa assinou como a conclusão do duplo Sínodo sobre a família, Fellay disse que “nos faz chorar”, um comentário taxativo para se distanciar das posições de Bergoglio.

O Papa argentino deu um passo importante para esta reconciliação, que muitos consideram praticamente impossível, com uma decisão espetacular: as confissões que os fiéis fizerem com um sacerdote lefebvriano são totalmente válidas. Jorge Bergoglio justificou-o no âmbito do Ano Jubilar da Misericórdia, que termina no dia 08 de novembro.

Segundo dom Fellay, o Papa Francisco é “inclassificável” e embora para os lefebvrianos muitas decisões do atual pontífice sejam “horríveis”, o sucessor de dom Lefebvre recordou que quando Bergoglio era o cardeal de Buenos Aires ajudou a comunidade, que tinha dificuldades com os vistos de permanência. Na Argentina está uma das comunidades mais importantes dos lefebvrianos e Bergoglio acredita que a reconciliação é possível porque “todos somos católicos”.

Lefebvre foi suspenso “a divinis” por Paulo VI depois que ordenou sacerdotes sem permissão de Roma. Em 1988, após duras e quase desesperadas negociações, João Paulo II fulminou Lefebvre e outro bispo brasileiro que consagraram quatro bispos com a excomunhão, também eles excomungados da comunidade. Entre eles estavam Fellay, o atual líder, e o londrinense Richard Williamson.

Em janeiro de 2009, o Papa Bento XVI, Joseph Ratzinger, que lutou tanto para evitar o cisma lefebvriano, levantou a excomunhão aos quatro bispos consagrados por Lefebvre.

Esta decisão causou a eclosão de um escândalo de tão vastas proporções que pode ser considerado como uma das causas que levaram Ratzinger, em fevereiro de 2013, a uma histórica renúncia como Papa Bento XVI, que mudou para sempre o perfil do pontificado.

Williamson era diretor do seminário lefebvriano de La Reja, um subúrbio de Buenos Aires. O governo de Cristina Fernández o expulsou do país depois que Williamson reiterou na TV pública sueca sua convicção pró-nazismo de que “nenhum judeu morreu nas câmaras de gás” dos campos de extermínio de Hitler.

Extremista entre os extremistas, dom Williamson passou de excomungado a suspenso “a divinis” pela decisão de Bento XVI, mas entabulou uma dura controvérsia com a comunidade lefebvriana, opondo-se a qualquer negociação para voltar à comunhão com o Papa de Roma. Finalmente foi expulso com grande alívio pela Fraternidade São Pio X, tirando assim um escolho formidável das longas negociações com o Vaticano.

Em março do ano passado, Williamson recuperou a condição de excomungado, pela segunda vez, quando em um mosteiro perto do Rio de Janeiro consagrou bispo o padre Jean-Michel Faure, que, assim como ele, se opunha a qualquer acerto com o Vaticano. Faure, também excomungado, havia se afastado voluntariamente da comunidade lefebvriana.

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