Cardeal de Hong Kong pede diálogo com Pequim

Mais Lidos

  • Elon Musk e o “fardo do nerd branco”

    LER MAIS
  • O Novo Ensino Médio e as novas desigualdades. Artigo de Roberto Rafael Dias da Silva

    LER MAIS
  • “A destruição das florestas não se deve apenas ao que comemos, mas também ao que vestimos”. Entrevista com Rubens Carvalho

    LER MAIS

Revista ihu on-line

Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

Edição: 552

Leia mais

Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

Edição: 551

Leia mais

Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

Edição: 550

Leia mais

20 Julho 2011

O cardeal Joseph Zen (foto), de Hong Kong, interrompeu sua viagem pelas comunidades chinesas norte-americanas para falar na manhã de hoje, em Nova York, sobre as novas tensões entre Pequim e o Vaticano. Nesta manhã, na cidade de Shantou, na província sulina de Guangdong, a Igreja Católica sancionada pelo Estado chinês ordenou Joseph Huang Bingzhang como bispo. Foi a terceira ordenação episcopal neste ano organizada pela Administração para Assuntos Religiosos do Estado chinês sem a aprovação papal.

A reportagem é de Kevin Clarke, publicada na revista America, dos jesuítas dos EUA, 14-07-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

As recentes ordenações quebraram o que aparecia ser um período de distensão entre Roma e Pequim, enquanto as duas forças competem pelas lealdades dos quase 12 milhões de católicos na China. Uma chamada Igreja Católica "clandestina" na China persiste na lealdade a Roma, desafiando o Partido Comunista há décadas. Supostamente dois bispos "clandestinos" estão atualmente detidos pelas autoridades chinesas, disse Zen.

As relações entre Roma e Pequim pareciam estar melhorando até novembro, quando ocorreu a ordenação de Joseph Guo Jincai. Essa ordenação ilícita foi seguida por outra no dia 29 de junho, quando Paul Lei Shiyin foi nomeado bispo da cidade de Leshan, novamente sem a aprovação vaticana.

Zen chamou as novas hostilidades de uma "guerra" contra o destino da Igreja Católica chinesa, mas acredita que as últimas hostilidades têm menos a ver com o que as autoridades chinesas em Pequim querem do que com as intenções de bispos e burocratas "patriotas" que dirigem a Igreja "católica" sancionada pelo Estado por meio da Associação Patriótica Católica Chinesa.

"Temos dúvidas se tudo isso está realmente vindo do topo", disse. Zen acusa de que funcionários de nível mais baixo do escritório estatal de assuntos religiosos e bispos não aprovados, "que têm estado no poder há muito tempo", sentem-se agora ameaçados pela nova clareza de Roma com relação ao status dos bispos que foram elevados sem o mandato papal. Ele acredita que eles começaram a série de ordenações com a intenção de azedar as melhorias nas relações entre Roma e Pequim. "É por isso que eu apelei aos líderes de Pequim para que acabem com essa tolice", afirmou.

Um esclarecimento de Roma do dia 11 de junho afirmava que tanto o bispo que consagra sem o mandato apostólico quanto o bispo que recebe a ordenação episcopal dessa forma invocam a excomunhão mediante suas ações sob o Cânone 1382. Não se sabe quantos dos bispos que participaram nas três ordenações estarão sujeitos à excomunhão, já que muitos parecem ter sido forçados a participar das ordenações pelos agentes de segurança chineses.

A coerção levou a um impasse na diocese de Liaoning. Dom Paul Pei Junmin se recusou a participar da ordenação de hoje, e sua residência foi cercada por padres diocesanos e paroquianos para proteger o bispo da polícia chinesa. De acordo com denúncias anônimas de dentro da China, outro pastor, Mons. Cai Bingrui Xiamen, teve que se esconder para evitar ser forçado a participar da ordenação e agora é procurado pelas autoridades governamentais.

Zen disse que estava muito preocupado com a deterioração das condições na China para os católicos. Membros da Igreja clandestina tinham razão em esperar que poderiam antecipar um dia em que poderiam celebrar sua fé livremente, mas essas medidas recentes, afirmou Zen, e as recentes prisões, agressões e intimidações de padres leais a Roma sugerem que as autoridades chinesas "querem voltar aos anos 1950".

Zen também acredita que a discórdia pode provar ser realmente uma oportunidade para levar as autoridades da Cúria e de Pequim a um diálogo renovado sobre o status dos católicos da China. "Esperamos que, mediante esse novo confronto, o governo de Pequim tenha ficado ciente dos problemas e, assim, possa realmente chegar a uma discussão com a Santa Sé", disse Zen. "Então, poderemos encontrar alguma solução".

Até agora, reconheceu, Pequim se manteve indiferente a todas as abordagens de Roma e dos abaixo-assinados de sua diocese em Hong Kong. "Precisamos ser capazes de realmente ter um diálogo com as autoridades", disse, "mas isso não é fácil, porque o governo nunca escuta".

Zen disse que um estudioso chinês lhe disse uma vez que "os comunistas nunca dialogam, a menos que sejam forçados a isso". É por isso que ele acredita que o Vaticano deve agora "mostrar força" se ele espera progredir na China. "Antes de melhorar, vai ficar um pouco pior", acrescentou.

Ontem, Zen deu o passo incomum de emitir um apelo a Pequim por meio de um anúncio em um jornal de Hong Kong, no qual ele pediu que os líderes chineses "tomem o tempo para se preocupar com nossos católicos" na China. O cardeal pediu que as autoridades chinesas contenham imediatamente "servidores civis enganadores que violam a Constituição do Estado, usam a violência para ajudar a escória da Igreja e forçam os bispos, sacerdotes e leigos locais a fazer coisas que vão contra a sua consciência". No fim, o prelado disse que "Deus é misericordioso, mas Ele não pode abençoar aqueles que dificultam a vida do Seu povo".

Comunicar erro

close

FECHAR

Comunicar erro.

Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Cardeal de Hong Kong pede diálogo com Pequim - Instituto Humanitas Unisinos - IHU