De que forma o filme “Silêncio” é arte?

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17 Janeiro 2017


Da esquerda para direita, Yoshi Oida interpreta Ichizo; Shinya Tsukamoto interpreta Mokichi; Andrew Garfield interpreta o Pe. Rodrigues; e Adam Driver interpreta o Pe. Garrpe no filme “Silêncio” da Paramount Pictures, SharpSword Films e AI Films. (Kerry Brown)

Para falar sobre o filme, a Irmã Rose Pacatte sentou-se com Matt Malek, diretor executivo de “Silêncio”, em 5 de janeiro, pouco antes da estreia em Los Angeles. A entrevista completa em inglês pode ser lida aqui.

A entrevista é de Irmã Rose Pacatte, publicada por National Catholic Reporter, 13-01-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Ambas as versões da entrevista contêm spoilers, especialmente sobre o final do filme.

Eis a entrevista.

De que forma “Silêncio” é arte?

“Silêncio” é um filme no século XXI que a daqui 200 anos será usado na mesma frase como Caravaggio.
No mundo do realismo, com “Silêncio” creio que [o diretor] Martin Scorsese é o primeiro artista a alcançar o nível do fotorrealismo, a ter tocado o nível da perfeição.

Do que trata “Silêncio” exatamente? É apenas a história de um homem (Rodrigues, interpretado por Andrew Garfield)?

Se vermos este filme como sendo simplesmente sobre a história de um homem, penso que não estaremos compreendendo a história como um todo. O ponto principal é mostrar o contraste, mostrar a similaridade quanto à diferença, mostrar a humanidade em todo mundo, a disparidade entre culturas, analisar a compatibilidade oriental e ocidental. É um filme sobre a fé, não sobre a fé de um homem.

Do que mais fala “Silêncio”?

Ao mesmo tempo precisamos enxergar o filme através das lentes da fé de um homem que está no centro da questão, Rodrigues, em seguida precisamos perceber o outro jesuíta, o Pe. Garrpe (Adam Driver), mártir, e cada leigo católico em particular que está disposto a morrer pela fé, diferente de uns poucos, exceto um, que parece ser tão terrível. Este é Kichijiro (Yosuke Kubozuka). Ele acabou sendo a pessoa de quem eu mais me aproximei – muito embora havia uma barreira linguística. O seu inglês melhorou consideravelmente no curso de cinco meses, e ao final das filmagens nós nos comunicávamos muito bem.

Kichijiro é o personagem mais subestimado neste filme, e eu não consigo entender porque as pessoas não têm falado sobre este personagem. Não só ele está em praticamente todas as cenas, mas Yosuke tem uma performance fantástica. Se prestarmos atenção no final do filme, Kichijiro faz algo que eu acho que sequer o autor do romance, Shusaku Endo, pretendia inicialmente: ele se torna um mártir.

Scorsese precisou acrescentar um minuto extra no final, quando vemos a esposa de Rodrigues colocar um pequeno crucifixo, aquele que Mokichi (Shin’ya Tsukamoto) lhe dera décadas atrás, em suas mãos antes de ser cremado?

Martin Scorsese quis que este filme comunicasse verdadeiramente o que Endo, creio eu, pretendeu. Scorsese soube, como soube Mel Gibson em “A paixão de Cristo” (2004), que precisava haver algo que se possa tirar do sofrimento de Cristo para dar esperança ao público, portanto há cenas com Jesus quando criança junto de sua mãe. O diretor soube quando o público não mais aguentaria, e deu aos espectadores certa esperança com esta cena. O final deste filme está, como um todo, em um outro nível porque Scorsese transforma completamente toda a narrativa do filme em um instante.

Endo concordaria com isso?

Penso que Engo diria a Martin Scorsese que era um direito seu acreditar que este é o modo como devia ser, que a história terminaria assim. Endo não teria uma opinião sobre como a obra foi feita, porque compreenderia o que é a arte.

Alguns espectadores católicos vêm reagindo de modo negative ao filme.

Todos os críticos católicos que avaliaram negativamente o filme cometem um equívoco fundamental no entendimento deles sobre a natureza da arte, ou sobre a natureza do homem. Não se pode entender a arte sem entender o homem e a arte juntos.

Compreender erroneamente o que Scorsese estava tentando fazer é compreender erroneamente a própria arte. O seu trabalho não é pregar através da arte; o seu trabalho é mostrar a realidade de uma maneira artística e também de uma forma que entretém, porque é um filme, não uma pintura em que podemos passar dos minutos e seguir em frente. É uma aventura de 2 horas e 40 minutos, um minirretiro.

O que Scorsese tenta fazer aqui?

Matt Zoller Seitz, no sítio RogerEbert.com, escreve sobre o filme: “‘Silêncio’não é o tipo de filme que a gente ‘gosta’ ou ‘não gosta’. É um filme que vivenciamos e, depois, convivemos com”. Scorsese tenta algo que nunca fora feito antes, e ele não só tentou, mas conseguiu.

Sou uma das poucas pessoas, talvez, que leu o romance, e antes de eu ler o script, achava que não havia como eu me envolver com este filme: Como mostrar um homem dentro de uma oração por duas horas? Li o script, e percebi que Martin Scorsese adaptara o script adequadamente. Então disse: eu tenho que tentar, tenho que fazer o que puder para ajudar e, felizmente, recebi a oportunidade.

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