13 Novembro 2012
Uma lufada de ar fresco soprou sobre o Palácio de Lambeth na sexta-feira, 9 de novembro. Na bela residência londrina do século XIII do chefe espiritual da Igreja Anglicana, às margens do Tâmisa, o novo arcebispo de Canterbury se apresentou à imprensa, logo após a sua nomeação oficial por parte da Rainha de Inglaterra. Sem batina e arregaçando as mangas da camisa, Justin Welby, 56 anos, respondeu de modo claro e franco às perguntas.
A reportagem é de Eric Albert, publicada no jornal Le Monde, 11-112012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Sim", ele é a favor das mulheres bispas e votará a favor dessa proposta no próximo Sínodo que iniciará no dia 19 de novembro. Em compensação, mesmo não tendo nenhuma oposição de princípio a que o casamento homossexual civil seja introduzido pelo governo britânico, ele acha que ele não deve ser imposto à Igreja. Em poucas frases, o novo primaz anglicano expressou a sua posição, tocando duas das feridas que atormentam os anglicanos.
A linguagem direta e concisa, pontilhada de bom humor, contrasta com as frases complicadas do seu antecessor, Rowan Williams, que ocupou o cargo há nove anos e que havia anunciado em abril a sua intenção de renunciar, uma decisão nada excepcional para os anglicanos. Williams é um teólogo afirmado, mas não gosta de tomar posições claras. É preciso dizer que a Comunhão Anglicana, que reúne 80 milhões de fiéis em 38 "províncias" em todo o mundo, corre o risco do cisma.
De um lado, a ala conservadora, principalmente na África, opõe-se ao reconhecimento dos bispos homossexuais e é muito reticente com relação à nomeação de bispas mulheres. De outro, os progressistas nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha (embora também haja divisões na Itália) consideram que a Igreja deve viver com o seu tempo e aceitar essas mudanças.
As divergências são tão vivas que quase um quarto dos bispos anglicanos boicotaram a Conferência de Lambeth em 2008, a sua grande reunião a cada dez anos. Para substituir Rowan Williams, portanto, a Igreja Anglicana precisava de alguém capaz de ir além das divisões. Mas a escolha de Justin Welby surpreendeu. Quase desconhecido do grande público, ele é bispo há apenas um ano. E o seu percurso é atípico.
Ele teve uma primeira carreira de 11 anos na indústria petrolífera e só depois teve uma vocação tardia. Tendo estudado em Eton (a escola privada de alta classe onde estudou, dentre outros, o primeiro-ministro, David Cameron) e depois em Cambridge, o Dr. Welby estava destinado às mais altas responsabilidades. Tendo chegado a Paris pela Elf Aquitaine em 1978 – dessa experiência ele conservou um excelente francês e uma casa na Normandia –, ele rapidamente alcançou posições no topo da empresa, ocupando-se principalmente das finanças, em particular na Nigéria. Depois de cinco anos na França, voltou para a Inglaterra, tornando-se tesoureiro da Enterprise Oil, uma importante empresa britânica cotada na bolsa de valores, que lhe pagava um salário muito alto.
Em 1983, viveu uma tragédia familiar: a filha de sete meses morreu em um acidente de carro. Essa experiência, acompanhada pela convicção de um chamado de Deus, levou-o a deixar tudo, seis anos depois, aos 31 anos. Ordenado em 1992, pai de cinco filhos, não mostrou nenhum interesse por uma escalada na hierarquia religiosa, preferindo o trabalho no campo. Depois de ter sido por muito tempo padre em Coventry e depois em Liverpool, foi nomeado bispo de Durham em 2011. Hoje, ele diz ter sido o primeiro a se surpreender por ter sido catapultado de repente à frente dos anglicanos. "A experiência dessas últimas semanas foi, no mínimo, estranha. (...) Mas, quando a Igreja escolhe você, é preciso dizer sim ao Senhor".
Além do tom direto, o Dr. Welby é considerado um conservador. Pertence ao ramo evangélico dos anglicanos. Graças à sua experiência fora da Igreja, ele sabe que a religião não tem nenhuma importância para grande parte dos britânicos. O seu objetivo é de reintroduzi-la na vida cotidiana das pessoas.
O Dr. Welby também trabalhou muito na resolução dos conflitos, em particular entre cristãos e muçulmanos no norte da Nigéria. A lição disso? Que é preciso aceitar o fato de não estar de acordo e que simplesmente é preciso deixar um espaço para o outro. "Eu quero que a Igreja seja um lugar onde se possa estar em desacordo no amor".
Um método que será necessário justamente para evitar um cisma, quando ele assumir oficialmente as suas funções em março de 2013.
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Um ex-petroleiro à frente de uma Igreja da Inglaterra à beira do cisma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU