Católicos ''falcões'' versus católicos ''pombas''

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24 Março 2012

É uma fonte interminável de assombro para alguns observadores seculares o fato de que realmente há vida católica à direita do papa e do Vaticano. No entanto, em muitas questões não doutrinais, o Vaticano está realmente encurralado entre pressões ideológicas concorrentes nas bases e, geralmente, tenta – sem dúvida, com variados graus de sucesso – encontrar um equilíbrio.

A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 16-03-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Tomemos a China, por exemplo. Tanto dentro da Igreja chinesa quanto entre os os observadores externos que se interessam pela China, a opinião católica tem se dividido há muito tempo em dois campos amplos que podemos livremente chamar de "falcões" e "pombas".

Os ''falcões'' assumem uma linha dura acerca das relações com o governo comunista e estão alerta para qualquer sinal de suavidade em torno da identidade católica para aplacar o regime. As "pombas'' apoiam o diálogo e o compromisso, rejeitando a ideia de que a Igreja tem uma vocação para mudar o sistema político do país e tendem a ser mais indulgentes para com as escolhas individuais que os católicos fazem para sobreviver em um ambiente hostil.

Uma das histórias menos noticiadas do consistório de fevereiro, no qual o Papa Bento XVI criou 22 novos cardeais, é que, quando se trata da China, Roma basicamente tem se alinhado com as "pombas".

Isso porque entre os novos príncipes da Igreja escolhidos pelo papa estava o cardeal John Tong, de Hong Kong, recém o sétimo cardeal chinês, e uma clara ruptura tanto no tom quanto na substância com o seu antecessor, o cardeal Joseph Zen. Se o impetuoso Zen era a voz dos "falcões", Tong surge como uma figura mais colombina.

Agora com 72 anos, Tong vem de uma família de Hong Kong que fugiu para Macau no tempo da invasão japonesa em 1941. Sua mãe foi a primeira católica da família, e Tong foi educado por missionários de Maryknoll. Ele foi para Roma para estudar em 1964, enquanto o Concílio Vaticano II ainda estava em curso, e foi ordenado sacerdote pelo Papa Paulo VI em 1966.

Tong é agora um dos três cardeais chineses, mas o único com menos de 80 anos e, portanto, elegível a votar para o próximo papa.

Recentemente, Tong deu uma entrevista a Gianni Valente, na amplamente lida revista italiana 30 Giorni, em que Tong se definiu como um "moderado" que acredita que "é melhor ser paciente e aberto ao diálogo com todos, mesmo com os comunistas".

"Seguramente, a Igreja não é uma entidade política", disse Tong. "Realmente, não é um problema nosso mudar os sistemas políticos. E, acima de tudo, no nosso caso, isso seria quase impossível".

Na verdade, Tong disse que há alguns princípios inegociáveis, começando pela exigência de que bispos e padres estejam em comunhão com Roma e sejam ordenados de acordo com a lei da Igreja em vez do fiat do governo.

Ao mesmo tempo, ele pediu amizade ao invés de isolamento das pessoas em situação irregular, e tomou distância das vozes "falcônicas" que publicamente contestam as credenciais católicas de clérigos e leigos que eles veem como cooptados pelo governo.

"A correção fraterna", disse Tong pontualmente, "se faz com o diálogo, não com os ataques via Internet".

A própria experiência de Tong lhe ensinou que as escolhas que, no momento, parecem duvidosas poderiam, mais tarde, ser vistas sob uma nova luz. Em 1985, ele participou da ordenação do bispo Aloysius Jin Luxian, de Xangai, que ocorreu sem a bênção de Roma e que tornou Jin uma figura ilegítima aos olhos da maioria dos "falcões".

No entanto, há sete anos, os pedidos de Jin para ser reconhecido por Roma foram atendidos, e hoje muitos observadores veem Xangai como a ponta de lança de uma forma dinâmica de catolicismo chinês urbano (o lema de Jin é que a "velha Igreja apelava para 3 milhões de católicos – eu quero apelar para 100 milhões de católicos").

Esta é a filosofia Tong sobre como os católicos devem reagir aos fiéis companheiros forçados a fazer escolhas difíceis:

"Não podemos nos fixar em um único ponto, não podemos ficar controlando todas as decisões, e esperar que todo gesto e toda escolha feita pelos membros da Igreja na China sejam sempre perfeitos, em todo lugar e em toda situação", disse Tong. "Se todo erro for isolado e se tornar motivo de condenação sem apelo, quem pode se salvar? É a longo prazo que se vê se um padre ou um bispo têm no coração um bom propósito".

Com o cardeal italiano Fernando Filoni agora a cargo da Congregação para a Evangelização dos Povos, vindo do mundo da diplomacia vaticana, a política chinesa de Roma parece estar seguramente nas mãos dos moderados.

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