Fecundidade e migração baixas inibem crescimento do RS

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03 Janeiro 2012

Os bônus e os desafios provocados pelo baixo crescimento da população vão chegar primeiro ao sul do país. O último censo do IBGE apontou o Rio Grande do Sul como o Estado com a menor taxa de crescimento populacional no país. Enquanto na média nacional a população cresceu 1,17% ao ano na última década, no Estado mais ao sul do país o ritmo foi muito inferior e ficou em apenas 0,49% ao ano no período de 2000 a 2010. Na ponta extrema, os Estados onde a população mais cresceu na última década são o Amapá (média anual de 3,45%) e Roraima (3,34% ao ano).

A reportagem é de Sérgio Ruck Bueno e publicada pelo jornal Valor, 03-01-2012.

Entre outros, dois movimentos ajudam a explicar esse comportamento. A taxa de fecundidade gaúcha é a segunda menor do país e o Estado é o que menos recebe migrantes. Do total da população que mora no Rio Grande do Sul, apenas 3,7% não nasceu no Estado. Nem no Acre, essa proporção é tão pequena - lá, 10,5% dos moradores não são acreanos de nascimento. Em São Paulo, um em cada cinco habitantes nasceu em outro lugar.

Segundo o estatístico Pedro Zuanazzi, da Fundação de Economia e Estatística do Estado (FEE), mantida a tendência atual de crescimento populacional do Estado, o "bônus demográfico", frequentemente invocado pelo governo federal como uma das principais armas brasileiras contra a crise econômica mundial, terminará mais cedo no Rio Grande do Sul ante a média brasileira, com impacto em áreas como saúde, previdência, assistência social e infraestrutura.




Zuanazzi explica que há dois conceitos para o bônus demográfico. O primeiro é quando a "razão de dependência" - que mede a relação entre o número de crianças, adolescentes e idosos fora do mercado de trabalho com o contingente de pessoas potencialmente ativas (dos 15 aos 64 anos de idade) - inicia uma trajetória descendente. O segundo, quando ela é de até 50%. Ou seja, quando a quantidade de inativos equivale no máximo à metade do número de ativos.

Em 2010, a razão de dependência no Rio Grande do Sul estava em 43,2%, fruto da relação entre 3,224 milhões de inativos e 7,470 milhões de ativos, em uma população total de 10,694 milhões de habitantes (4,98% superior à de 2000). Na média brasileira, o índice era um pouco mais elevado e chegava a 45,9%, com 60,013 milhões de inativos e 130,742 milhões de potencialmente ativos.

O problema é que a razão de dependência no Estado, que no ano 2000 era de 49,8%, deve cair apenas até 2015, quando chegará ao piso de 41,8%, e a partir daí vai crescer até atingir 58,8% em 2050, limite das projeções feitas por Zuanazzi no estudo "Cenários demográficos para o Rio Grande do Sul". Com a inversão da curva, estaria configurada a primeira quebra do bônus, o que na média brasileira só acontecerá em 2023 conforme as previsões do IBGE.

A segunda ruptura do bônus demográfico gaúcho deve ocorrer em 2035, dez anos antes do que na média brasileira, diz Zuanazzi. No cenário intermediário apresentado na pesquisa, a razão de dependência chegará a 50,8% no Rio Grande do Sul naquele ano.

Segundo Zuanazzi, o baixo crescimento populacional do Estado deve-se, principalmente, à taxa de fecundidade das mulheres gaúchas. Os dados completos do censo de 2010 ainda não foram divulgados, mas ele acredita que o índice no Estado seja igual ao de toda a região Sul, de 1,75 filho por mulher, o segundo mais baixo entre as regiões (1,66 no Sudeste e 1,86 na média brasileira), e projeta uma regressão até 1,34 em 2050.

Segundo o supervisor de informações do IBGE no Rio Grande do Sul, Ademir Koucher, quando a taxa de fecundidade é inferior a dois, já não há mais reposição integral da população. De acordo com ele, no ano 2000 o índice era de 2,1 no Estado e de 2,3 no país, mas nos anos 60 ele chegava ao redor de 5, também um pouco maior na média nacional do que na estadual.

De acordo com Zuanazzi, apesar da fama de "exportador de pessoas", o Rio Grande do Sul apresentou um saldo negativo de apenas 2,9 mil habitantes por ano, ou 0,03% da população, entre 1990 e 2000. Para a década seguinte (os dados ainda não estão disponíveis), ele estima um retorno ao nível de 1980-1990, quando a perda populacional era de 10,3 mil pessoas por ano, mas ainda assim bem abaixo do saldo negativo de 21,7 mil habitantes/ano no ciclo 1970-1980 e insignificante diante do tamanho da população atual.

Além disso, a pequena quantidade de imigrantes, ajuda a explicar o reduzido nível de crescimento da população local. De acordo com os resultados preliminares do censo, apenas 3,8% dos habitantes do Rio Grande do Sul são naturais de outras unidades da federação ou de outros países.

É a menor taxa entre todos os Estados brasileiros. Em São Paulo, 20,6% dos 41,262 milhões de habitantes são de fora. A presença mais elevada de imigrantes aparece no Distrito Federal (46,1%), seguido por Rondônia (43,5%), Roraima (38,4%) e Mato Grosso (37,7%).

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