Novo arcebispo de Manila se envolve em suposta polêmica em torno ao Vaticano II

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04 Janeiro 2012

Apesar das reportagens em contrário, fontes dizem que não há nenhuma preocupação em particular do Vaticano com relação ao novo arcebispo de Manila, nas Filipinas, devido a um artigo por ele publicado há mais de uma década para uma controversa história do Concílio Vaticano II. O artigo não havia feito parte da documentação oficial levada em consideração antes da sua nomeação.

A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 20-12-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Luis Antonio Tagle
(foto), 54 anos, visto como um dos pensadores teológicos mais proeminente dos bispos asiáticos, tomou posse como arcebispo de Manila no dia 12 de dezembro, depois de ter sido nomeado para essa posição pelo Papa Bento XVI no dia 13 de outubro.

Embora Tagle tenha sido saudado como uma estrela asiática em ascensão e até mesmo como um possível candidato papal, um artigo de meados de novembro publicado pelo veterano jornalista italiano Sandro Magister sugeriu que algumas pessoas no Vaticano podem ter opiniões divergentes, relacionadas com um artigo de autoria de Tagle para uma história do Vaticano II editada pelos estudiosos italianos Giuseppe Alberigo e Alberto Melloni, expoentes de uma corrente progressista do catolicismo italiano conhecida como a "escola de Bolonha".

A história de Alberigo e Melloni tem sido acusada em alguns setores de promover uma leitura distorcida do Vaticano II como uma "ruptura" com épocas anteriores da história da Igreja – em oposição à "hermenêutica da reforma", que enfatiza a continuidade com a Igreja antes do Vaticano II, promovida por Bento XVI.

Tagle obteve seu doutorado na Universidade Católica dos EUA orientado pelo Pe. Joseph Komonchak, editor norte-americano da história de Alberigo e Melloni, e se juntou à equipe editorial do projeto enquanto era professor de seminário. Em 1999, Tagle contribuiu com um artigo para o quarto volume da história sobre a chamada "Semana Negra" do Vaticano II, que se desenrolaram no encerramento da terceira sessão do Concílio em 1964, quando diversas ações do Papa Paulo VI provocaram alerta entre as forças de reforma.

Magister escreveu que os cardeais e bispos que aprovaram a transferência de Tagle para Manila ficaram sabendo da sua ligação com a escola de Bolonha "somente depois da publicação da nomeação", porque seu artigo sobre a "Semana Negra" não fez parte da ponenza oficial, ou seja, a documentação vaticana fornecida sobre os candidatos a bispos.

Alguns comentaristas sugeriram que essa revelação pode induzir Bento XVI a omitir Tagle da lista de novos cardeais quando ele realizar o próximo consistório, amplamente esperado para fevereiro.

No entanto, uma fonte próxima ao cardeal canadense Marc Ouellet, prefeito vaticano da Congregação para os Bispos, disse ao NCR que Tagle tem o "apoio total" de Ouellet, mesmo depois que o artigo de 1999 veio à tona. Esse apoio é revelador, dado que Ouellet é um protegido de Bento XVI.

Diversos observadores disseram que as tensões em torno da escola de Bolonha são vistas no Vaticano, em grande parte, como uma rivalidade intraitaliana à qual Tagle, como prelado asiático, é visto como amplamente estranho.

Falando nos bastidores, uma autoridade vaticana disse ter lido o artigo de Tagle de 1999, depois que as reportagens o destacaram, e disse não ter encontrado nada objetável. De fato, essa autoridade disse ter ficado impressionado com a defesa de Tagle a Paulo VI (Tagle escreveu que Paulo VI seguiu uma estratégia de "ouvir todas as opiniões, especialmente as de oposição", e estava disposto a "sacrificar sua popularidade pessoal para salvar o Concílio e seu futuro").

Essa autoridade também disse que é difícil sugerir que Tagle se opõe à leitura do Concílio de Bento XVI, já que uma das fontes citadas por Tagle estava nos escritos de Joseph Ratzinger.

Outra autoridade vaticana destacou que Tagle não foi feito bispo até 2001, e o que conta mais na análise vaticana é o seu histórico desde então. O que é importante, afirmou essa autoridade, é que Tagle ajudou a articular a oposição católica ao projeto de lei sobre a saúde reprodutiva proposta nas Filipinas, que iria promover o controle de natalidade e tornaria obrigatória a educação sexual nas escolas.

No ano passado, Tagle usou o seu programa semanal de televisão The Word Exposed, para objetar que o currículo de educação sexual proposto promove uma visão meramente "biológica" da sexualidade, em oposição a uma visão que inclui a moral.

Durante sua missa de posse no dia 12 de dezembro, Tagle afirmou querer que a humildade e o "discipulado amoroso" sejam os marcos do seu ministério como líder dos cerca de 2,8 milhões de católicos de Manila (sua população total do país de 75 milhões faz das Filipinas o terceiro maior país católico do mundo, depois do Brasil e do México).

"O fato de meramente assumir a posição de arcebispo de Manila não garante que eu reconheço o Senhor. Se eu não for cuidadoso, isso pode até me cegar perante o Senhor e os demais", disse Tagle. "Ao contrário, é sendo um discípulo humilde, contente com o amor de Jesus, que eu verei o advento daquele cujo amor nos impele à missão. É o amor que nos torna verdadeiros pastores, não a posição".

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