Guatemala. Os testemunhos no julgamento de Ríos Montt mostram que a repressão foi sistemática

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Por: André | 26 Março 2013

No quinto dia do julgamento por genocídio e crimes de lesa humanidade que acontece na Guatemala contra o ex-ditador Efraín Ríos Montt, os relatos dos testemunhos repetem, como a gota d’água que acaba por furar a rocha, os horrores perpetrados pelo Exército contra a população civil durante a guerra travada entre 1960 e 1996, e cuja violência alcançou seu pico entre 1980 e 1986. A coincidência na maioria das denúncias evidencia que os fatos, longe de serem excessos isolados, dificilmente evitáveis em uma guerra, respondem a uma estratégia orquestrada nos quartéis.

A reportagem é de José Elías e publicada no jornal espanhol El País, 25-03-2013. A tradução é do Cepat.

“Agradeço a possibilidade de falar ao mundo sob a luz do sol, para que se conheçam todas estas atrocidades”, declarou, na sexta-feira, Gabriel de Paz Guerra. Em seu testemunho, um dos poucos em espanhol, este sobrevivente relatou como os militares ocupavam as aldeias e consumiam as plantações e aves dos moradores, enquanto estes se viam obrigados a buscar refúgio na selva, onde tinham que comer ervas, “como as vacas”. Acrescentou que sua avó Catarina, de 78 anos, “morreu de fome e frio”. E terminou seu relato com uma frase lapidar: “Nunca soubemos por que éramos vítimas das perseguições. Nunca nos foi dito nada”.

Nesta segunda-feira, o julgamento reiniciou com similares relatos de horror. “Os soldados amarraram os vizinhos. Torturaram-nos horas a fio. A muitos mataram depois a facadas”, contou Juan Raymundo, primeira testemunha do dia. A apresentação de testemunhos por parte da Promotoria continuará até ouvir o último dos 205 sobreviventes propostos e depois chegará a vez da defesa.

Uma das “virtudes” deste julgamento está em ter superado o medo que silenciou as vítimas durante décadas. Já no relatório Tortura Nunca Mais, do bispo Juan Gerardi, assassinado em 1998, apontou esse terror como um dos fundamentos da impunidade que durante décadas protegeu os perpetradores destes crimes de lesa humanidade. “O medo e a avaliação dos riscos foi um problema importante nos lugares onde havia ocorrido um grande nível de violência contra a população civil; mas o foi ainda mais (...) nos lugares que, apesar de não terem vivido a guerra de forma tão aberta, as pessoas sofreram maior pressão da militarização na vida cotidiana”, pode-se ler na apresentação do relatório.

A publicação, por parte do Departamento de Estado dos Estados Unidos, dos planos de Campanha Sofía y Victoria 82, cuja existência foi sistematicamente negada pelos governos militares, confirma esta apreciação. “O Plano Victoria 82 é uma coleção de comunicações entre o Estado Maior Geral do Exército e os comandantes que realizaram operações de guerra (...) Sofía é considerado um dos elementos operacionais para cumprir com o Plano de Campanha Victoria 82, que estabelecia aumentar as unidades militares nas áreas de conflito, destruindo a base de apoio social da insurgência”, declarou Kate Doyle, analista do Arquivo de Segurança Nacional com sede na Universidade George Washington, na capital norte-americana.

Enquanto isso, associações, como a ultraconservadora Associação de Veteranos Militares da Guatemala (Avemilgua), insistem em desviar a atenção buscando subterfúgios legais, como o alcance do termo “genocídio”, ou pressionando para que se aplique a anistia aos militares envolvidos. Entretanto, a Guatemala assinou convênios internacionais segundo os quais os crimes de lesa humanidade nunca prescrevem.

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