No futebol brasileiro, homossexualidade é tabu ainda longe de ser quebrado

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Por: Cesar Sanson | 13 Janeiro 2014

No país onde jogar bola é esporte majoritariamente masculino, homofobia é tema raramente debatido. Medo de danos irreversíveis à carreira e preconceito por parte de torcida e colegas impedem jogadores de se assumirem.

A reportagem é do sítio Deustche Welle, 10-01-2104.

Dificilmente um jogador brasileiro assumiria publicamente a homossexualidade como fez o alemão Thomas Hitzlsperger. O ex-meia afirmou que resolveu revelar sua orientação sexual para alavancar o debate sobre o tema que, no futebol, ainda é grande tabu. No Brasil, o preconceito é grande – e uma atitude como essa poderia causar danos irreparáveis a uma carreira.

É possível ter uma dimensão do tamanho desse preconceito pelas reações causadas por uma fotografia publicada nas redes sociais pelo atacante Emerson Sheik, do Corinthians. Em agosto de 2013, ele postou uma foto dando um selinho em um amigo. Na legenda, escreveu: "Amizade sem medo do que os preconceitos vão dizer".

A imagem causou um estardalhaço nas redes sociais. A polêmica foi tão grande que o jogador teve que se retratar com os torcedores que se sentiram ofendidos, pedindo desculpas.

De tão polêmico, o tema não costuma sequer ser debatido no Brasil. Outros exemplos que mostram o quão controverso é o assunto são os jogadores sobre os quais a mídia publica insinuações sobre sua orientação sexual. Apenas o rumor causa desconforto, e os jogadores acabam forçados a ir a público reiterar sua heterossexualidade.

"A homossexualidade existe em todas as esferas e atividades da vida humana, mas o futebol é o ambiente onde os atletas têm mais dificuldade de demonstrá-la, porque tradicionalmente essa modalidade é vista como um espaço de homens – e homens viris", afirma Ronaldo George Helal, coordenador do grupo de pesquisa Esporte e Cultura da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Preconceito e exclusão

Entre as mulheres, o futebol vem ganhando importância nos últimos anos no mundo, mas no Brasil a modalidade continua predominantemente masculina. A seleção feminina é prestigiada no exterior, mas o esporte conta com pouco incentivo a nível de torneios nacionais. Quase não há escolinhas de futebol para meninas, e o campeonato nacional é realizado de forma inconstante e, comumente, para pouco público.

E nesse mundo masculino assumir uma orientação sexual que não seja a heterossexual poderia representar o fim da carreira para um atleta. "Se o Messi ou o Cristiano Ronaldo assumissem uma orientação sexual diferente, talvez dentro do clube houvesse uma compreensão diferente, mais por oportunismo do que por postura comportamental. Mas um jogador médio pagaria caro, infelizmente", afirma o jornalista esportivo Juca Kfouri.

Ao assumir a homossexualidade, o jogador deve estar preparado para os preconceitos que vai enfrentar dentro e fora dos campos. Para o pesquisador Martin Curi, do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Esporte e Sociedade da Universidade Federal Fluminense (UFF), a maior pressão seria sofrida dentro do próprio clube.

"Os jogadores estão acostumados a serem xingados pela torcida rival. O problema seria muito maior dentro do time", diz. Apesar de ainda ser tabu, atitudes como a de Hitzlsperger são fundamentais para que o tema seja debatido na sociedade. Especialistas acreditam que posturas como estas são de fundamental importância para acabar com o preconceito.

"Eu gostaria que se tornasse uma prática comum, pois acho que é a única forma de combater a homofobia e contribuir para que cada orientação sexual seja declarada e respeitada", opina Kfouri.

Enquanto no futebol ainda são poucos os jogadores que assumiram a homossexualidade, atletas de outras modalidades já revelaram a sua orientação sexual. Em 2013, as jogadoras de vôlei de praia Lili e Larissa se casaram. Também ano passado, o lutador de boxe portorriquenho Orlando Cruz se casou com o namorado em Nova Iorque.

Nos saltos ornamentais, dois atletas admitiram serem gays recentemente: o brasileiro Ian Matos e o britânico Tom Daley. Na NBA (liga profissional de basquete americana), onde o tema também é tabu, o pivô Jason Collins foi a público em abril passado revelar sua homossexualidade.

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