Papa Francisco defende justiça social diante de grande multidão no Equador

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07 Julho 2015


A justiça social não é “uma forma de esmola”, mas “uma verdadeira dívida” do Estado para com as famílias. Não é por acaso que o papa Francisco, que não costuma dar ponto sem nó, tenha dedicado sua primeira homilia na América Latina à família. Para Jorge Mario Bergoglio, que foi aclamado por mais de 600.000 pessoas no parque dos Samanes, de Guayaquil, no Equador, a regeneração do tecido social e a luta contra a desigualdade – sobretudo nos países mais desfavorecidos – têm de passar pela “grande riqueza social da família”.

A reportagem é de Pablo Ordaz, publicada por El País, 06-07-2015.

Os 30 graus de temperatura, multiplicados por uma umidade de 80%, não impediram que uma multidão assistisse à primeira missa do Papa Francisco no Equador, onde chegou na tarde de domingo e foi recebido pelo presidente Rafael Correa. “A família é o hospital mais próximo”, disse Bergoglio, “a primeira escola das crianças, o grupo de referência imprescindível para os jovens, o melhor asilo para os idosos”.

Então, o Papa alertou, em um trecho muito significativo no Equador, que “a família constitui a grande riqueza social que outras instituições não podem substituir”. Ninguém deixa de perceber que a visita do Papa, transformado em referência mundial, não só no aspecto religioso, reúne também um grande conteúdo político. Tanto o presidente da República do Equador como uma massa social cada vez mais inquieta por suas reformas esperam que Bergoglio defenda os seus interesses.

De fato, durante a recepção no aeroporto de Quito, Rafael Correa se esforçou em demonstrar que seus ideais e projetos são compartilhados por Francisco. Até o ponto de Francisco, com certo ar brincalhão, lhe dizer: “Agradeço suas identificações, mas talvez tenha me citado demais”.

Os descontentes têm a esperança de fazer chegar a Francisco a mensagem de que as coisas não são tão bonitas como Correa pinta. “Eu pelo menos espero”, dizia Hilario Marcillo, prestador de serviços, instantes antes da missa de Francisco, “que o Papa diga a Correa que não assedie tanto a quem se opõe a ele. Sei de pessoas que estão na prisão por terem participado de manifestações pacíficas. É verdade que fez bastante justiça social, mas a desigualdade continua sendo muito grande. O pior de tudo é que, como acontece na Venezuela, sua política consiste em lançar uns contra os outros”.

O entorno de Francisco na Igreja, que conhece sua simpatia pelas políticas de Correa, também espera que o Papa, de um modo ou outro, deixe claro que a justiça social, a ajuda aos mais desfavorecidos, não podem ser exibidas como uma arma. Ou, usando as palavras de Bergoglio no parque dos Samanes, como “uma forma de esmola”, para depois capitalizar votos.

Correa “brinca com fogo”

Isabel Torán, uma equatoriana que retornou ao país depois de anos de trabalho na Espanha e Estados Unidos, observa que o presidente Correa – de quem reconhece a capacidade para pôr fim à instabilidade crônica do país e um progresso sustentável nos últimos 10 anos – está rompendo a harmonia nacional com a finalidade de se manter no poder. “Eu que viajei pelo mundo”, explica, “sei muito bem que ele está brincando com fogo ao provocar o enfrentamento social. De pessoas como eu, que conseguimos construir uma casa depois de anos trabalhando tão longe da família, ele quer cobrar impostos altíssimos pelos ganhos de capital. O perigo é que todos os desmandos fiquem ocultos por sua suposta amizade com o Papa Francisco. Eu acredito que ele tem enganado Bergoglio. Correa está enlouquecendo”.

Depois da missa no parque dos Samanes, em Guayaquil, a jornada do Papa incluía um almoço no colégio Javier, da Companhia de Jesus, e o regresso a Quito, capital do Equador, para se encontrar novamente com o presidente da República e visitar a catedral. Depois de permanecer durante a quarta-feira em Quito, Jorge Mario Bergoglio partirá para a Bolívia e, depois, o Paraguai.

O milagre das novas famílias

Durante sua primeira missa em Equador, o papa Francisco também se referiu ao próximo Sínodo sobre a família, que se celebrará no próximo mês de outubro no Vaticano e que é fonte de discrepâncias no seio da Igreja.

A vontade expressa por Jorge Mario Bergoglio de se abrir às novas formas de família — divorciados voltados a casar, casais de fato, gays — conta com uma rejeição firme, embora ainda soterrado, pelos setores mais conservadores.

O Papa incluiu em sua homilia uma frase enigmática: “Convido-lhes a intensificar sua oração para que ainda aquilo que nos pareça impuro, nos escandalize ou espante, Deus o possa transformar em milagre”. O milagre de novas famílias impensáveis para a Igreja tradicional?

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