Grupo conservador busca mudar o pensamento do Papa Francisco sobre as mudanças climáticas

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27 Abril 2015

Um grupo ativista norte-americano que vem recebendo financiamentos de companhias energéticas e a fundação controlada pelo ativista conservador Charles Koch estão tentando persuadir o Vaticano de que “não existe uma crise do aquecimento global”, tendo em vista uma encíclica sobre o meio ambiente que deve ser publicada pelo Papa Francisco no meio deste ano e que deverá buscar conscientizar o mundo para o combate às mudanças climáticas.

A reportagem é de Stephanie Kirchgaessner, publicada no jornal The Guardian, 24-04-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

O Heartland Institute, grupo conservador de Chicago que procura desacreditar a ciência estabelecida sobre as mudanças climáticas, disse que estaria enviando uma equipe de cientistas a Roma para “informar o Papa Francisco da verdade sobre as ciências climáticas”.

“Ainda que o Papa Francisco tenha a melhor das intenções, ele estará fazendo um desserviço ao seu rebanho e ao mundo ao ancorar a sua autoridade moral na pauta não científica da Nações Unidas sobre o clima”, disse Joseph Bast, presidente do Heartland Institute, em nota.

Jim Lakely disse que ele e outros do Heartland Institute estavam trabalhando para conseguir um encontro com o Vaticano. “Eu acho que os católicos devem analisar as provas por eles mesmos e compreenderem que o Santo Padre é uma autoridade em assuntos espirituais, não científicos”, declarou.

Uma pesquisa de 2013 envolvendo milhares de trabalhos publicados em revistas científicas descobriu que 97,1% deles concordavam que as mudanças climáticas é um fenômeno causado pela atividade humana.

Todo este movimento posto em marcha sublinha a sensibilidade em torno da tão antecipada encíclica do Papa Francisco sobre o meio ambiente, cujo objetivo será enquadrar a questão climática como um imperativo moral.

Ainda que não esteja claro exatamente o que a encíclica irá dizer, o Papa Francisco tem defendido uma ação incisiva no sentido de combater ou minimizar a situação do aquecimento global no mundo. Em uma alocução no mês de março, o Cardeal Peter Turkson, quem vem desempenhando um papel importante na elaboração do documento, falou que Francisco não estava tentando “tornar a Igreja verde”, mas sim enfatizar que “cuidar da obra da Criação é, para os cristãos, um dever, independentemente das causas das mudanças climáticas”.

Espera-se que a encíclica seja publicada em junho ou julho próximos. O pontífice deve fazer uso de um discurso planejado para falar às Nações Unidas em setembro sobre o assunto.

Qualquer movimento por parte do Vaticano em relação à questão das mudanças climáticas pode se tornar um desafio político aos legisladores conservadores católicos nos EUA, os quais têm negado a veracidade das ciências climáticas e lutado contra as regulamentações que visam reduzir as emissões de gás de efeito estufa, estando entre eles o líder republicano da Câmara dos Representantes, John Boehner.

O American Petroleum Institute, maior grupo lobista que representa empresas petrolíferas em Washington, não quis responder diretamente às perguntas feitas pelo The Guardian sobre se estava fazendo lobby junto ao Vaticano sobre o assunto.

Porém, num sinal de que as companhias energéticas e aqueles que se opõem a essas regulamentações estão tentando influenciar o Vaticano, o Petroleum Institute disse que “os combustíveis fósseis são uma ferramenta vital para tirarmos as pessoas da pobreza, que é algo com o qual nós estamos comprometidos”.

O Heartland Institute também direcionou o seu discurso apelando às opiniões do papa sobre a pobreza. Em nota divulgada à imprensa, ele disse que os pobres do mundo “sofrerão terrivelmente se a energia confiável – o motor da prosperidade e de uma vida melhor – ficar mais cara e menos confiável por um decreto dos planejadores mundiais”.

A ida do grupo a Roma foi programada para coincidir com um evento promovido pela Pontifícia Academia de Ciências chamado “Proteger a Terra, a Dignificar Humana”. Este evento terá como palestrantes Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, e Jeffrey Sachs, economista da Columbia University.

O Heartland Institute diz ser uma organização sem fins lucrativos que busca promover “soluções de livre mercado” para os problemas sociais e econômicos. Ele não divulga os nomes dos seus doadores, mas diz em seu sítio eletrônico que recebeu uma única doação de 25 mil dólares em 2012 da Fundação Charles G Koch, destinado ao trabalho do grupo junto à política de assistência à saúde.

Charles Koch é bilionário e um dos proprietários da Kock Industries, grupo de refino de petróleo e produtos químicos e um dos principais doadores para causas e representantes políticos republicanos.

O Heartland Institute disse que as contribuições recebidas de grupos petrolíferos e de tabaco nunca ultrapassaram os 5% até agora.

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