''Com o Jubileu da Misericórdia, o Papa Francisco reorienta a Igreja." Entrevista com Massimo Faggioli

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18 Março 2015

A conclusão do segundo ano de pontificado do Papa Francisco se entrelaçou com o anúncio, surpreendente, do Jubileu extraordinário sobre a misericórdia. Como se insere esse evento na obra reformadora do Papa Francisco? Falamos a respeito com Massimo Faggioli, historiador da Igreja da University of St. Thomas, nos EUA.

A reportagem é de Pierluigi Mele, publicada por RaiNews, 14-03-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

O Papa Francisco completa o seu segundo ano de pontificado com o anúncio da convocação do Jubileu extraordinário sobre a misericórdia. Para alguns observadores, esse evento vai marcar uma virada na Igreja contemporânea. Você concorda com isso?

Ainda não o sabemos, mas certamente é uma surpresa: um pontificado que Francisco diz que será breve, mas que ele programa no longo prazo. Certamente, é uma decisão que desloca boa parte da oposição contra ele: um instrumento velho como o Jubileu, mas usado para uma reorientação da Igreja.

A eclesiologia que está na base da obra do Papa Francisco é a do Concílio Vaticano II. No entanto, a meu ver, traz um enriquecimento teológico em comparação com o Concílio: ou seja, a história dos pobres e das periferias "existenciais". Nisso, se compreende a "Igreja hospital de campanha". É isso?

Eu diria que Francisco recupera núcleos do Concílio que não foram suficientemente desenvolvidos e recebidos, como o da Igreja dos pobres: os latino-americanos no Concílio esperavam mais desse tema. O primeiro papa latino-americano implementa o Concílio fazendo justiça a alguns esquecimentos do Concílio e do pós-Concílio.

Falemos desse biênio de pontificado. Um biênio intenso, em que a Igreja foi atravessada por uma forte dialética. Um grande apoio popular ao papa, mas também resistências fortes por parte da corte curial. O papa conseguirá minar as resistências? Onde se aninham as resistências fora da Cúria?

A escolha de convocar o Jubileu é genial, porque tira da Cúria Romana e das elites eclesiásticas em geral o poder de definir o sucesso do pontificado da misericórdia. O pontificado de Francisco está apontado para outras coisas e não pode ser tomado como refém por pequenos grupos de resistência à mudança.

Além da misericórdia, quais são as outras "palavras-chave" desse primeiro biênio de pontificado?

Pobres, alegria, periferias, idolatria.

Em uma entrevista a uma emissora mexicana, o papa fala da "duração" do seu pontificado, definindo-o como "breve". Qual foi a sua reação a essas palavras?

O papa não quer nos iludir sobre a duração do pontificado e não quer criar expectativas irrealistas. Certamente, em relação ao pontificado de João Paulo II, que para muitos é o comparativo do pontificado pós-conciliar, o de Francisco será mais breve. Mas também é uma forma para administrar de modo sagaz as resistências contra ele.

Você é italiano, mas ensina nos EUA. E está muito atento à Igreja italiana. Pergunto-lhe como essas duas Igrejas estão reagindo à obra de Francisco.

A Igreja italiana é muito mais dominada pelas instituições eclesiásticas (bispos, clero), que, na Itália, me parece mais desperta pelo efeito Francisco do que a norte-americana, em que a resistência se aninha em alguns círculos acadêmicos e intelectuais neoconservadores ou tradicionalistas – alguns dos quais chegam até a acusá-lo de heresia.

Última pergunta: o papa combate os clericalismos. Qual é a situação do laicado católico depois de dois anos de Papa Francisco?

Há algumas décadas a serem recuperadas: o laicado, em boa parte, se desacostumou de ter um papel ativo.

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