Estudo na França mostra que maioria dos casos de abuso sexual ocorre na infância

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04 Março 2015

Os abusos sexuais são frequentes, suas consequências são gravíssimas e o atendimento às vítimas é insuficiente, além de o assunto continuar sendo tabu e mal documentado. A pesquisa sobre o tema publicada nesta segunda-feira (2) pela associação Memória Traumática e Vitimologia, durante uma jornada de estudos com o apoio da Unicef, é inédita na França: ela foi realizada diretamente junto a vítimas, e não junto a profissionais de saúde.

A reportagem é de Gaëlle Dupont, publicada pelo jornal Le Monde e reproduzida pelo portal UOL, 03-03-2015.

Mais de 1.200 pessoas, com idades entre 15 a 72 anos, responderam a um questionário específico com 184 perguntas, 95% delas sendo mulheres e 5% homens. "A negação que cerca a questão da violência sexual cometida contra homens é extremamente importante", alerta Laure Salmona, redatora do relatório. "O número provavelmente é muito maior."

Uma das principais conclusões foi que mais de 80% dos entrevistados sofreram seus primeiros abusos sexuais durante a infância. Cerca de 30% das vítimas sofreram abusos tanto na infância quanto na idade adulta. "Ter sido vítima quando criança aumenta os riscos de sê-lo novamente depois", explica Salmona. "Essas pessoas são percebidas pelos agressores." Somente 20% delas são vítimas unicamente em idade adulta. Entre os entrevistados, 68% sofreram pelo menos um estupro e 40% relatam uma situação de incesto.

"O estupro que assombra o imaginário coletivo (...), aquele que é perpetrado contra uma jovem por um desconhecido armado, em um beco escuro ou estacionamento, está longe de ser representativo da realidade", observa o relatório. Na maioria dos casos, as vítimas são crianças e os agressores são pessoas próximas. Uma em cada duas vítimas menores de idade foi agredida por um integrante de sua família. Quando a vítima é maior, o agressor também é conhecido em 77% dos casos. Em 41% dos casos, o abuso é cometido por um parceiro ou ex-parceiro.

No caso dos menores de idade, é comum que os abusos sejam infligidos por diversos agressores, em bando ou de maneira sucessiva. Um entrevistado (são todos anônimos) enumera assim seus agressores: "Dos 3 aos 10 anos, [autor] masculino, 50 anos, avô materno. Dos 5 aos 7 anos, masculino, 15 anos, irmão. Aos 12 anos, masculino, 15 anos, outro irmão. Aos 15 anos, masculino, 22 anos, namorado. Dos 7 aos 18 anos, na esfera pública, exibicionismo." Quase um quarto dos autores de abusos contra menores também eram menores de idade no momento dos acontecimentos.

A pesquisa destaca, ao mesmo tempo, graves falhas no reconhecimento e na extrema solidão das vítimas. Somente 4% das pessoas agredidas na infância tiveram atendimento da política da Ajuda Social à Infância. "Um olhar atento sobre meus comportamentos teria sido suficiente, mas todo mundo fechava os olhos", relata um entrevistado. "Eu queria que tivessem feito uma verdadeira investigação. Minha irmã mais velha foi colocada em outro lar, e ninguém cuidou de seu irmão e irmã mais novos", conta outro entrevistado.

O relatório também revela consequências dramáticas: 42% dos entrevistados já tentaram o suicídio, e 65% acreditam que o impacto sobre sua qualidade de vida foi "muito grande". Quase todos acreditam que os acontecimentos tiveram consequências sobre sua saúde mental, provocando vícios ou comportamentos de risco. Quanto mais jovem é a vítima no momento dos acontecimentos, maior é o impacto.

A maior parte delas não recebeu nenhum atendimento imediato após os acontecimentos, e as vítimas levam em média 13 anos para ter uma resposta médica adequada. "Mas os distúrbios podem ser curados se as vítimas receberem um atendimento, forem cuidadas, protegidas", afirma Salmona. O objetivo da pesquisa é aprofundar o conhecimento do fenômeno.

A associação Memória Traumática e Vitimologia faz um apelo ao poder público para que sejam treinados "com urgência" profissionais de saúde e que sejam criados centros de ajuda especializados para orientar as vítimas para receber cuidados específicos, mas também um acompanhamento social, jurídico (somente 30% das vítimas prestaram queixa, por exemplo) ou comunitário.

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