São Januário e a fé nua da Igreja

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24 Março 2015

O fascínio do sobrenatural e a severidade da fé nua nem sempre encontram uma síntese convincente, ao menos para aqueles que têm o evangelho como ponto de referência decisivo para a sua vida. E esse é um dos aspectos mais difíceis da religiosidade popular, como se viu no último sábado, quando o Papa Francisco visitou a catedral de Nápoles, onde estão conservadas duas ampolas, que – segundo as autoridades eclesiásticas – contêm o sangue de São Januário [San Gennaro], martirizado no dia 19 de setembro de 305.

A reportagem é de Luigi Sandri, publicada no jornal Trentino, 23-03-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Esse sangue se dissolve, normalmente, três vezes por ano, particularmente no aniversário da sua morte. E, quando o evento não ocorre, isso é considerado como sinal de desgraça para a cidade. Às vezes, depois, ele se dissolve em outras circunstâncias particulares.

Para a Igreja Católica, trata-se de um "evento milagroso". No mundo científico, ao contrário, se alguns estudiosos consideram a dissolução, isto é, a liquefação do sangue de São Januário, humanamente inexplicável, outros acreditam que ela é explicável.

Sem entrar nessa discussão, que vê as mais variadas opiniões, provas (ou supostas provas) e hipóteses de cientistas, antropólogos e teólogos, destacamos que, apesar das muitas orações, o sangue não se dissolveu quando João Paulo II, em 1990, e Bento XVI, em 2007, visitaram Nápoles.

No sábado, no entanto, o sangue se liquefez, mas apenas pela metade. Ao que Bergoglio comentou ao vivo na TV: "Vê-se que não estamos completamente convertidos!". Uma brincadeira que, de algum modo, redimensiona o aspecto milagroso.

Jesus mesmo se lamentava de que as pessoas corriam atrás dele para ver prodígios e não para ouvir a sua palavra, que convidava a dispor o coração à irrupção da misericórdia do Senhor e, portanto, a abrir o próprio coração aos irmãos mais necessitados. O apóstolo Tomé também era alguém que, para acreditar, queria controlar e verificar.

E assim – depois da Páscoa –, quando os outros apóstolos lhe disseram que, na sua ausência, Jesus ressuscitado tinha aparecido para eles, ele os assustou dizendo: "Se eu não vir nas suas mãos o sinal dos pregos... eu não acreditarei".

Uma semana depois, Jesus apareceu de novo e disse ao espantado Tomé: "Põe o teu dedo aqui...". Ao que o apóstolo, sem precisar de mais provas, se rendeu: "Meu Senhor e meu Deus". E Jesus: "Porque me viste, Tomé, creste. Bem-aventurados os que, não tendo visto, creram".

E essa afirmação é constitutiva para aqueles que tem fé em Jesus. Por isso, estariam fora do perímetro do evangelho aqueles e aquelas que corressem ansiosos aqui e ali pelo mundo, em busca de eventos prodigiosos, Nossas Senhoras que choram, santuários onde jorram águas que curam.

Certamente, se Deus criou a natureza, também pode brincar com ela e nos surpreender. Mas, como Francisco reiterou em Nápoles, o caminho para encontrar o Senhor é muito mais acessível, simples, lá onde você vive: seja honesto, não "feda" de corrupção, estende a mão para aqueles que batem na sua porta.

Os mafiosos, embora muito devotos de São Januário, nunca vão encontrar essa estrada.

Foto: Vatican Insider

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