Marcelino Champagnat. Um bicentenário e o desafio de refontizar as raízes e buscar o profetismo inicial. Entrevista especial com Antônio Cechin

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08 Dezembro 2014

“Como Irmãos Maristas, por ocasião de nosso bicentenário congregacional, temos que nos refontizar junto às nossas raízes, em busca do profetismo inicial que animou o fundador”, diz o irmão marista.

 Foto: www.catholic.org

Tendo em vista o bicentenário Marista a ser celebrado em 2017, “o grande e fundamental questionamento como congregação terá que ser: Evoluímos ou involuímos?”, pontua Antônio Cechin em entrevista concedida à IHU On-Line por e-mail. Segundo ele, considerando que o “objetivo central da congregação dos Irmãos Maristas é a Catequese e a Educação, deveríamos mesmo ‘ser referência no exercício da missão de evangelizar, por meio da educação’”.

Ele lembra que, como Marcellin Champagnat, fundador do Instituto dos Pequenos Irmãos de Maria e das Escolas Irmãos Maristas, “foi um homem de seu tempo, à altura do verdadeiro tsunami que provocou a Revolução Francesa tanto do lado positivo da defesa da democracia e dos direitos humanos quanto do lado negativo com as sequelas que se lhe seguiram em termos de educação e evangelização que descobriu como verdadeiras chagas abertas no flanco da Igreja”, os irmãos maristas devem “saber ler os sinais dos tempos, nos fatos e acontecimentos dos dias de hoje”. Para isso, ressalta, “o bicentenário ano de 2017 nos obriga a um VER-JULGAR-AGIR, munidos dos melhores instrumentos de análise da realidade a mais global possível banhada num conhecimento da vida de Jesus com os aprofundamentos obtidos nas ciências exegéticas mais atualizadas, que só alcançaremos à luz de uma teologia da libertação do modelo de cristianismo tipicamente latino-americano que nosso atual papa Francisco está estendendo para o universo inteiro que ele protagoniza como primeiro papa jesuíta e latino-americano”.

Na entrevista a seguir, Cechin conta sua trajetória junto aos maristas e enfatiza que seu “período áureo” na congregação aconteceu nos anos 1960, “exatamente quando a nossa congregação atingia o número máximo de 10 mil maristas no mundo inteiro. Apesar dos inúmeros problemas da época, sentia-me fazendo experiências maravilhosas que me davam uma alegria paradisíaca”.

Influenciado por Dom Helder Camara, arcebispo emérito de Olinda e um dos bispos mais atuantes contra o regime militar, Cechin é categórico ao sugerir uma reflexão à congregação: “Tudo o que eu posso sugerir aos meus Irmãos de Congregação é que retornemos aos anos áureos de nossa Congregação, quando, como grupo minoritário, atuávamos na era dos mártires do continente latino-americano no entorno dos anos da ditadura militar no Brasil e alhures em toda a Ameríndia”.

Antônio Cechin formou-se em Letras Clássicas e em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS, onde também foi professor. Fez sua pós-graduação no Centro de Economia e Humanismo, em Paris. Iniciou na Instituição Católica de Paris a especialização em catequese, quando foi chamado para o Vaticano, na Sagrada Congregação dos Ritos, no início da década de 1960.

 Foto: www.sul21.com.br

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Pode retomar, brevemente, quem foi Champagnat, quais suas origens e sua centralidade na constituição do Instituto Marista?

Antônio Cechin - Marcelino José Bento Champagnat, fundador da Congregação dos Irmãos Maristas, nasceu no ano de 1789 na França, no mesmo ano em que também iniciou a Revolução Francesa. Revolução que passou para a história como um dos mais importantes levantes de massas populares em prol dos direitos humanos.

Desde o ventre materno, Marcelino já estava envolvido pelo espírito do levante revolucionário em prol dos direitos humanos. Seus pais João Batista Champagnat e Maria Chirat eram de tal modo imbuídos do espírito da revolução a ponto de João Batista ter aceitado a função de intendente de Rosey, aldeia em que residiam, no sul da França. Fora nomeado ao cargo pelos próprios corifeus da Revolução.

De berço, Marcelino teve uma educação esmerada para a qual muito contribuiu uma tia freira que se homiziara nos Champagnat. Sabemos que a revolução se voltou também contra a Igreja de cristandade, que andara atrelada à monarquia real e contra a sede de democracia que, no fundo, era o objetivo principal do levante popular.

As escolas, em sua grande maioria, estiveram de portas fechadas durante os longos anos de duração da revolução. Quando Marcelino conseguiu se matricular para fazer os cursos regulares, já era bem crescido. Na sala de aula em que entrava pela primeira vez era o maior de todos em tamanho. Logo no primeiro dia, foi vítima de um incidente que revelou o quanto lhe impregnara o caráter a questão dos direitos humanos.

Na chamada inicial, ao soar-lhe aos ouvidos o próprio nome, levantou-se bastante atrapalhado repetindo postura que vira fazer pelos companheiros em seu redor, mas sem entender o que diziam. As crianças riram em coro e até houve quem gargalhasse.

Incontinenti o professor se deslocou como um raio para junto de uma das crianças que rira mais forte, desfechando-lhe uma bofetada. Marcelino não aguentou tamanha violência contra os direitos humanos de um menor. No mesmo instante abandonou a sala, saindo porta a fora para nunca mais voltar a essa escola.

“Na hora da morte, dia 6 de junho de 1840, as últimas palavras de São Marcelino foram: jamais imaginei que teria tanta alegria ao morrer como Marista!”

Vida sacerdotal

Aos 26 anos foi ordenado sacerdote. No dia seguinte, 23 de julho de 1816, ao lado de outros 11 companheiros de seminário, consagrou-se ao serviço de Maria, no santuário nacional de Nossa Senhora de Fourvière, na cidade de Lyon.

Os 12 jovens sacerdotes consideraram essa data como a da fundação da Sociedade de Maria, nome que deram à congregação nascente. Nomeado pároco da pequena cidade interiorana de La Valla, logo se deu conta do total abandono em que se encontravam a infância e a juventude em toda a França, como sequela da revolução.

Certo dia foi chamado junto ao leito de um jovem de sobrenome Montagne, em estado de saúde terminal. Sentado junto ao enfermo, fez a constatação da total ignorância que tinha o jovem a respeito da pessoa de Cristo, das verdades básicas sobre a fé e sobre o batismo. No próprio caminho de retorno à casa paroquial assumiu com convicção a ideia de fundar uma congregação de irmãos não sacerdotes, que se dedicassem em tempo integral à evangelização e à educação da juventude, através de escolas em que se pudesse “formar bons cristãos e virtuosos cidadãos”, expressão que depois repetia constantemente.

Fundação da Congregação

No dia 2 de janeiro de 1817, menos de meio ano depois do dia em que esteve à beira do leito de Montagne, fundava a Congregação dos Irmãos Maristas.

Como Congregação, nasceram os Irmãos Maristas, ligados à Sociedade de Maria à qual Champagnat pertencia. Anos mais tarde, quando se tratou dos trâmites junto à Santa Sé, para a oficialização conforme exigência do direito canônico, o papa separou os Irmãos dos Sacerdotes dando autonomia a ambas as congregações através de um motu proprio. Razão invocada? O Sumo Pontífice constatara que as duas famílias religiosas diferem totalmente quanto a seus objetivos principais. A citação bíblica utilizada pelo papa para separá-las adquiriu uma tonalidade um tanto hilariante: “não colocareis sob a mesma canga o boi e o asno”.

Lendo e meditando a vida do fundador me convenci de que Champagnat não fundou a Congregação dos Irmãos Maristas para pobres em geral, mas sim para os mais pobres dentre os pobres, isto é, os pequeninos, os últimos, os excluídos por excelência. Esse objetivo central foi a paixão da vida inteira de São Marcelino. A fim de marcá-la definitivamente para os mais pobres, deu-nos o nome de Pequenos Irmãos de Maria. Não contente com o nome, consagrou nosso espírito congregacional como sendo de humildade, simplicidade e modéstia. Em síntese: para os pequeninos, abaixar-se à estatura deles: trabalhar com pequenez espiritual. Nesse ponto Champagnat preconizou a opção pelos pobres antecedendo 150 anos ao nosso bispo Dom Helder Camara, que nos fez a todos, como Igreja do Brasil e de toda a América Latino-americana, abraçar a opção pelos pobres.

Se Santa Teresinha do Menino Jesus tivesse vivido nos tempos de Champagnat, certamente o fundador nos teria remetido à pequena via da infância espiritual de Teresinha de Lisieux e à autobiografia dela, condensada no livro “História de uma Alma”.

Vida afora, repetiu inúmeras vezes nosso fundador, que desejava ardentemente seus Irmãos Maristas, no seguimento do Homem Jesus de Nazaré, que ocupassem os primeiros lugares, isto é, os mais próximos, junto ao presépio, junto à Cruz e junto ao altar da Eucaristia. Lugares do maior aniquilamento do Filho de Deus.

Na hora da morte, dia 6 de junho de 1840, as últimas palavras de São Marcelino foram: jamais imaginei que teria tanta alegria ao morrer como Marista!

IHU On-Line - Quando começou sua relação com os Maristas? Pode nos contar um pouco da sua história na Congregação?

Antônio Cechin - Embora mal me comparando ao profeta que se disse predestinado por Deus desde o ventre materno, comigo aconteceu algo semelhante porque, já mesmo antes de eu nascer, andava envolvido com clima marista através de meus pais Luiz e Romana.

Como pequenos agricultores pobres, não lhes foi suficiente uma vida inteira de duros trabalhos para poderem adquirir um pedaço de terra sequer, para prover à sobrevivência familiar. Logo que casaram, tiveram que buscar emprego junto à Chácara Nossa Senhora de Lourdes, propriedade do colégio dos Irmãos Maristas na cidade de Santa Maria. Logo se tornaram administradores dessa mesma chácara, tendo às suas ordens 10 outros empregados.

Nossa família de 15 filhos — 8 homens e 7 mulheres —, tendo-se deixar impregnar pelo espírito da congregação, se transformou em viveiro de vocações religiosas. Deu à Igreja nada menos que nove religiosos: 1 sacerdote, 4 irmãos maristas e 4 freiras. Estas últimas, de três diferentes Congregações femininas.

Não raro me pergunto a mim mesmo: Será que eu poderia ter sido outra coisa na vida do que religioso marista? Será que foi a aparente loteria da vida que me fez nascer e viver marista até hoje, completados 87 anos, respirando espiritualidade marista desde zero anos até os 87? Na transparência dos fatos e acontecimentos de minha trajetória terrestre, só posso ler que Deus me predestinou desde antes do meu nascer para Irmãozinho de Maria. Então: “Ai de mim se não evangelizar os pequenos! Ai de mim se não os educar para a militância em favor dos direitos humanos. Ai de mim se não amar e fazer com que amem também Maria e seu Filho Jesus, de um amor de tipo conjugal como Deus me ama, e não só a mim mas a todas as pessoas.

História como irmão Marista

Os estudos regulares, do primário ao universitário, foram feitos todos em instituições da própria congregação. Na PUC de Porto Alegre (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras), o bacharelado e a licenciatura em Letras Clássicas — grego, latim e português — com vistas ao exercício do magistério. Na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais a fim de ser causídico ou professor de Ciências Sociais ou mesmo, futuramente, diretor da Faculdade de Direito que os Maristas mantêm junto à PUC de Porto Alegre como me falou a meia voz o Irmão Provincial ao sugerir-me que fizesse o curso de Direito.

Terminados os dois cursos universitários, aproveitei os recursos financeiros à minha disposição, garantidos pela lei aprovada pelo governo do Estado do RS, denominada Lei Brossard, que contemplava os formados em universidades do RS com bolsa de estudos no exterior, para o aluno que somasse maior quantidade de pontos em todas as disciplinas do currículo universitário. Fui assim a Paris me especializar em Economia e Humanismo no IRFED, curso criado pelo padre dominicano, sociólogo e funcionário da ONU, padre Jacques Lebret.

Aproveitei também, no curto estágio em que estive em Paris, para fazer o curso de Pastoral Catequética no Instituto Superior de Pastoral Catequética da Arquidiocese de Paris.

Exerci o magistério em três colégios maristas: no Colégio Marista Rosário de Porto Alegre durante os meus 15 anos iniciais como professor; no Colégio Marista São Luís de São Leopoldo e no colégio Champagnat no bairro Partenon, na época internato e externato.

Exerci também a função de diretor no colégio São Luís, em São Leopoldo, e em Porto Alegre, no Colégio Champagnat. Também exerci a função de Secretário da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da PUC.

Nos dois anos preparatórios ao Concílio Ecumênico Vaticano II convocado pelos serviços do Vaticano, ao tempo de papa João XXIII, exerci, na Cúria Romana, a função de secretário particular do Promotor Geral da Fé (vulgo advogado do diabo) na Sagrada Congregação dos Ritos, encarregada da Liturgia e das Causas de beatificação e canonização dos candidatos a santos. Antes de retornar ao Brasil, fiz meu segundo noviciado marista, na cidade de Saint Paul Trois-Château.

Inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, até hoje só tive a oportunidade de utilizar a minha carteira de causídico, dando carteiraços à direita e à esquerda quando, em apoio a povo organizado em meios urbanos, ajudei a fazer ocupações de terrenos para moradia de gente pobre vítima de êxodo rural e que chegava na região de Canoas atrás de emprego no polo petroquímico de Triunfo. Chegava aos magotes, só com a roupa do corpo. Matéria-prima humana para as ocupações.

Trabalhos coletivos

Nos últimos trinta anos em que me dedico a trabalhos com Coletivos de Catadores de Resíduos Sólidos, me especializei em ocupações de elefantes brancos tais como terrenos baldios, prédios em ruínas, dois túneis desativados da antiga Viação Férrea em pleno centro de Porto Alegre, etc.

O que nos anima sempre para tais ações, mesmo antes de terem surgido a Catequese e a Teologia da Libertação, são as palavras de Santo Tomás de Aquino em sua Suma Teológica: quando há pessoas ou grupos humanos que não conseguem satisfazer necessidades básicas tais como alimento, moradia, saúde, etc. tudo, absolutamente tudo no mundo passa a ser comum. Dando um exemplo, na linha do pensamento do teólogo e filósofo medieval Tomás de Aquino: um faminto, em necessidade extrema de comida, tem o direito de forçar a entrada na minha casa e ir à geladeira e saciar a fome.

Fiz parte da Comissão Pastoral da Terra. Junto com o Pe. Arnildo Fritzen sou cofundador do Movimento dos Sem Terra, hoje coordenado nacionalmente por João Pedro Stedile, tendo dado contribuições do ponto de vista da logística da Igreja do Rio Grande do Sul em relação a esse movimento criado pelas comunidades eclesiais de base de Ronda Alta, na Encruzilhada Natalino, na Fazenda Anoni, na Caminhada desde Ronda Alta até Porto Alegre, em busca da Terra Prometida, seguida de ocupação da Assembleia Legislativa do RS durante o tempo de mais de um mês, enquanto duraram as conversações com os governos executivo, legislativo e judiciário a fim da garantia de um pedaço de terra para plantar, produzir e garantir a sobrevivência de cada família.

Quando na CNBB e já membro também da CPT, padre Orestes e eu, que havíamos criado o Regional Sul III da CNBB, criamos também a Romaria da Terra.

Mais tarde, com as CEBS das Ilhas do Guaíba, minha mana e eu criamos, através de uma experiência-piloto, no RS, o trabalho com coletivos de Catadores, transformada depois em Política Pública. Consequência imediata foi a criação da Pastoral da Ecologia como um setor da CNBB Regional e a Romaria das Águas como um movimento de massas para a despoluição dos mananciais, particularmente do Rio Guaíba.

Quando o bispo Dom Helder Camara foi convidado pelo papa João XXIII para fundar o colegiado dos bispos do Brasil — CNBB — não conseguindo nenhum bispo do Rio Grande do Sul que aceitasse ser cofundador junto dele na Conferência para a criação do Regional Sul III de Porto Alegre, recorreu ao Padre Orestes Stragliotto, amigo já de vários anos, em função do projeto “Igrejas-irmãs”.

Trabalhos catequéticos

Trabalhei mais de 15 anos na CNBB como Coordenador da Catequese Regional e membro da Equipe Nacional do mesmo setor. Ao mesmo tempo como Adjunto Regional da Juventude Estudantil Católica e como iniciador de Comunidades Eclesiais de Base em meios urbanos. Além naturalmente de coordenador Regional da Pastoral da Ecologia.

No ano de 1968, na cidade de Medellín (Colômbia), participei do Encontro Internacional de Catequese, onde apresentei, perante os mais notáveis catequistas do mundo inteiro vindos particularmente dos mais importantes Institutos e Escolas Catequéticas dos mais diversos países, os princípios básicos de uma Catequese Libertadora para o Brasil, amadurecidos nas reuniões da Equipe Nacional. Para realizar essa façanha, totalmente acima das minhas forças, tive a graça de uma forte assessoria do teólogo Hugo Assmann, que, ao lado de Gustavo Gutierrez, foi um dos fundadores da Teologia da Libertação.

Vieram primeiro, no Brasil, as Comunidades Eclesiais de Base, depois a Catequese Libertadora e, como coroamento, a ciência teológica batizada como Teologia da Libertação. A partir do Encontro Internacional de Catequese, adotamos nacionalmente, para a catequese libertadora, o método Paulo Freire como o mais consentâneo para uma autêntica libertação.

Com os manos Matilde, Irene e Eugênio, elaboramos 4 séries de Fichas Catequéticas para adolescentes e jovens, publicadas primeiro pela Sono-Viso, a serviço da CNBB Nacional e depois pela Editora José Olympio. A primeira série como transição da Catequese Cristocêntrica que havíamos trazido do Instituto Catequético de Paris para a Catequese Libertadora Latino-americana. Consequência?... Na última semana de março de 1969, comemorativa do golpe militar que implantou a ditadura, o ministro da educação nacional vai à televisão com um exemplar de nossas Fichas, intitulado Rumo à Terra Prometida. Serve-se de duas catequeses preparadas para a idade da pré-adolescência (11-12 anos) e as declara altamente subversivas.

Em novembro do mesmo ano de 1969, tendo como base as Fichas Catequéticas e minha companhia na JEC com Frei Betto no movimento nacional de JEC, acontece então a minha primeira prisão, seguida por uma segunda prisão, acompanhada de tortura, no ano de 1971.

Saído da prisão, a fim de me recompor como pessoa, fui com minha mana Matilde com uma bolsa da organização de Adveniat da Igreja Católica da Alemanha para um curso de seis meses especializado em audiovisuais para a juventude, na cidade de Lyon, próximo ao santuário de Fourvière, onde Champagnat e amigos jovens padres recém-ordenados estiveram a fim de se consagrar a Maria e fundar a Congregação.

Retornando ao Brasil, Matilde e eu fomos trabalhar no reverso do mundo em que havíamos vivido até então, isto é, as periferias de Porto Alegre, criando CEBs, movimentos populares, radicalizando sempre mais na opção pelos pobres até os dias de hoje em que estamos às turras com autênticas Comunidades do Pão Nosso de cada dia, que são os mutirões de catadores, já pelo tempo de mais de 30 anos.

No ano de 2006, celebrando os 250 anos do martírio de São Sepé Tiaraju, criamos, junto com os índios, os catadores, as CEBs, a juventude em geral, a bicicletada denominada Caminho de São Sepé Tiaraju.

Finalmente e para não dizer que não falei de flores, assessorei algum retiro de sacerdotes e um capítulo nacional de uma congregação de Irmãs brasileiras.

“Nosso prestígio e fama de maristas vêm do fato de que, no Brasil, nos 115 anos em que aqui estamos, formamos majoritariamente elites nacionais econômicas, políticas, educadoras, banqueiras, comerciárias, científicas, latifundiárias, militares, etc.”

IHU On-Line - Como a mensagem de Champagnat, especialmente a evangelização e a luta em defesa dos direitos humanos, é atualizada nos dias de hoje, quase 200 anos do bicentenário do Instituto Marista?

Antônio Cechin - Champagnat foi um homem de seu tempo, à altura do verdadeiro tsunami que provocou a revolução francesa, tanto do lado positivo da defesa da democracia e dos direitos humanos quanto do lado negativo com as sequelas que se lhe seguiram em termos de educação e evangelização que descobriu como verdadeiras chagas abertas no flanco da Igreja.

Pessoalmente, como membro da congregação marista, comecei a me sentir também fiel discípulo do fundador e bem atualizado em relação aos tempos de hoje, quando Dom Helder Camara, nos inícios da década de 1950, começou com um discurso inteiramente novo no Brasil, chamando-nos a atenção para a realidade global do terceiro mundo. Nossa nação, incrustada em todo um continente com absoluta maioria de pessoas pobres, com urgente necessidade de uma Igreja — que era de classe média — no seguimento de Cristo pobre, nos colocou a todos na obrigação de fazermos a opção pelos pobres e com isso retornar às raízes do cristianismo de Jesus e dos doze apóstolos.

De imediato, Dom Helder provocou em mim a sensação de ser peixe fora da água. Tomei consciência de que estava evangelizando e educando jovens das classes média e alta. Nenhum aluno pobre em minha sala de aulas. A paixão pelos últimos que atormentou Champagnat me invadiu por completo.

Fora da classe achei que me sobravam apenas os pequenos grupos de jovens do movimento da Ação Católica onde dispunha de grande espaço para exercer minha criatividade. Tudo ficou muito mais fácil, um pouco mais tarde, quando conheci o método de educação e de evangelização descobertos pelo grande educador Paulo Freire através do livro “Educação como Prática da Liberdade”. Desencadeamos então a conscientização e o empoderamento popular tanto na Igreja da Libertação quanto no que concerne à Educação e à Evangelização.

Não me faltou o socorro divino no momento mesmo do impacto dos acontecimentos que sucediam a meu redor, provocados pela pregação de D. Helder que, como autêntico profeta, denunciava os erros e anunciava uma boa nova de um caminho novo para a Igreja e a evangelização.

Evangelização: a criação da JAC, JEC, JIC, JOC, JUC

D. Helder Camara, fiel a um apelo do papa João XXIII, a fim de fundar a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB numa primeira iniciativa, debateu com o grupo de bispos que conseguira reunir, para que se mudasse, no Brasil, o movimento de Ação Católica de linha italiana pela Ação Católica de linha francesa. A primeira, criada pelo papa Pio XI, e a segunda, criada por Monsenhor Cardjin e seus jovens operários na Bélgica francesa (JOC). Helder Camara já fizera uma larga experiência em periferias pobres com jovens operários e com extraordinário sucesso por causa do método VER-JULGAR-AGIR dos jovens operários e seu formador Cardijn. Esta criada por Monsenhor Cardijn e seus jovens operários da juventude operária católica (JOC) acrescida do método de Paulo Freire.

Enviado pela arquidiocese de Porto Alegre, segui para o Rio de Janeiro com mais três líderes jovens, a fim de aprender, junto de D. Helder, a utilizar o método da JOC. Era o início de um trabalho de evangelização adaptado a meios especializados: JAC, JEC, JIC, JOC, JUC.

Então comecei a perceber que, junto com a militância, a minha fé, que até então era infantil ou ingênua, foi amadurecendo para fé adulta, o que me proporcionava a sensação de estar construindo história humana em cuja transparência já divisava o processo humano-divino de salvação pregado pelo Mestre dos mestres como o Reino de Deus já aqui e agora, rumo ao definitivo na grande pátria, na casa do Pai Criador. Comecei a viver momentos de puro gozo e felicidade paradisíacos.

É com base nessas experiências de céu na terra, sem solução de continuidade até hoje, ano de 2014, que eu gostaria que toda a congregação e cada Irmão Marista em particular experimentassem também, junto dos mais pobres para os quais Champagnat fundou os Irmãozinhos de Maria. Nós nos aproximaríamos todos da alegria paradisíaca que expressou nosso próprio Mestre Jesus, quando exclamou: “Eu te louvo ó Pai, Senhor do céu e da Terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos”.

Jesus, o Mestre dos mestres, em seus trabalhos de implantação do Reino de Deus — projeto histórico que trouxe desde o Pai Criador — trabalhava em duas dimensões: no pequeno grupo dos 12 e junto às multidões que o cercavam.

De modo melhor expresso: trabalhava a pequena comunidade a fim de que se tornasse o fermento das massas populares. Sua mensagem tinha um conteúdo paradisíaco que fazia os ouvintes explodirem de alegria incontida. Não só falava do Reino, mas proporcionava uma experiência de Reino já aqui e agora como um aperitivo da parusia, na eternidade.

Como conseguia Jesus esse milagre? Era sempre partindo do real das ambiguidades humanas. Por exemplo: Para aquele tempo, teria havido algo mais ambíguo do que a expressão Reino de Deus, mote central da pregação de Jesus a um povo que só almejava reconstituição imediata do reino de Israel aqui na terra? Em diversas ocasiões, em seu redor, aparecia alguém que sentia possibilidade iminente da chegada do Reino que o Filho de Deus pregava e, meio confuso, perguntava: Mestre, é agora que vais restaurar o reino de Israel? Era um reino deste mundo apenas humano que esperavam. 

Maristas: a especialização catequética e evangelizadora

Se temos aqui em Porto Alegre uma universidade marista onde temos pesquisas sobre tantas coisas, por que, se nossa finalidade específica como Congregação é a catequese e a evangelização, não temos ainda um Instituto Superior de Pastoral Catequética que nos auxilie a todos, da família marista e todo o povo que o queira, tanto educadores como educandos. Na Catequética, que é ao mesmo tempo uma ciência teológica e muito mais uma arte voltada mais para o emocional da pessoa humana, com vistas a sermos totalmente fiéis, em nossas catequeses, ao conteúdo, ao sujeito e ao método.

Sem um profundo conhecimento da psicologia das diferentes idades de nossas crianças, sem um conhecimento da realidade social que envolve as pessoas que só é possível com um manejo do instrumental global de análise de grupos sociais, inventado pelo cientista social Marx, não iremos a lugar nenhum.

Aliás, por falar em Marx, é famoso um dito do grande bispo Dom Helder Camara: Se dou esmolas aos pobres me chamam de santo, se analiso as causas da pobreza me chamam de comunista.

Pergunto-me sempre por que as congregações religiosas em geral, que são muitas ao nosso redor, conseguiram absorver com a maior facilidade o cientista Freud por ser o bruxo que destrinchou os segredos da alma humana e resistem até hoje para engolir outro bruxo do social que é Marx. Sem uma pitada de marxismo jamais poderemos fazer uma análise de classes sociais. Três coisas são absolutamente essenciais no marxismo que todos devemos conhecer: a) o marxismo é uma metafísica ou uma filosofia; b) é também um instrumento global de análise da realidade social; c) é um conjunto de ideias-força com o objetivo de transformar essa mesma realidade social.

Influência de Teilhard de Chardin

Ao lado de Paulo Freire, de Marx, há um outro nome de personalidade que nunca vejo citado no nosso entorno de vida religiosa. Trata-se do Padre Teilhard de Chardin com seus esforços de conciliação entre fé e ciência de que andamos tão necessitados, principalmente na universidade, lidando com jovens acadêmicos e cientistas.

Passado o rigoroso inverno na igreja com os papas João Paulo II e Bento XVI, o Concílio Vaticano de João XXIII voltou à ordem do dia, sob o governo do atual papa Francisco. Concílio considerado como o grande salto qualitativo no encerramento do segundo milênio da era cristã e no dealbar do terceiro milênio. Sabemos que por trás do Concílio Ecumênico de João XXIII está todo inteiro Teilhard de Chardin, com sua teoria da evolução consciente em que tudo o que existe no cosmos ruma em direção ao ponto ômega quando se concluirá a construção perfeita do corpo místico de Cristo. Depois da Cosmogênese, da Antropogênese, hoje estamos em plena noogênese ou da Evolução Consciente.

Todas essas experiências de céu em minha vida começaram a ocorrer por volta do ano de 1960 quando atingíamos, na Congregação, nosso apogeu com 10 mil irmãos Maristas no mundo inteiro. Hoje, pouco mais de 50 anos de nosso zênite congregacional, estamos reduzidos quantitativamente a um terço do que éramos então.

Tudo o que eu posso sugerir aos meus Irmãos de Congregação é que retornemos aos anos áureos de nossa Congregação quando, como grupo minoritário, atuávamos na era dos mártires do continente latino-americano no entorno dos anos da ditadura militar no Brasil e alhures em toda a Ameríndia.

IHU On-Line - Que avaliação faz da atuação dos maristas no Brasil e na América Latina, quase 200 anos do bicentenário do Instituto? Quais foram as principais atividades desenvolvidas, as principais dificuldades enfrentadas?

Antônio Cechin - Em face do bicentenário de logo mais, o grande e fundamental questionamento como congregação terá que ser: Evoluímos ou involuímos?

Período áureo para mim, como Irmão Marista, começou a acontecer em torno dos anos 1960, exatamente quando a nossa congregação atingia o número máximo de 10 mil maristas no mundo inteiro. Apesar dos inúmeros problemas da época, sentia-me fazendo experiências maravilhosas que me davam uma alegria paradisíaca. Dizem os especialistas em catequese que uma vez feita semelhante experiência, mesmo que depois a gente desande, se embaralhe na vida, a saudade daquele céu experimentado na terra que nos encheu de felicidade fará que façamos de tudo para retornar àqueles caminhos luminosos de puro gozo que experimentamos, nem que seja por momentos.

“Nossa família de 15 filhos — 8 homens e 7 mulheres —, tendo-se deixar impregnar pelo espírito da congregação, se transformou em viveiro de vocações religiosas. Deu à Igreja nada menos que nove religiosos: 1 sacerdote, 4 irmãos maristas e 4 freiras. Estas últimas, de três diferentes Congregações femininas”

Naqueles anos, nos colégios da congregação tínhamos uma gama variada de devoções tais como o apostolado da oração, a congregação mariana, a cruzada eucarística. Tínhamos associações caritativas tais como a Conferência dos Vicentinos, o escotismo com seu programa de ao menos uma boa ação a cada dia. A possibilidade de militância dentro da própria Igreja com o Movimento da JEC e da JUC, nos espraiando para a sociedade que procurávamos fermentar tais como o movimento estudantil estadual na União Gaúcha de Estudantes (UGES), a União Nacional de Estudantes (UNE). Tínhamos bem harmonizadas a Fé e a Política com vistas à transformação de toda a realidade nacional de um país com maioria constituída de pobres.

Grêmio estudantil

Dentro dos colégios ainda, o Grêmio Estudantil como possibilidade de lutas em favor da melhoria do ensino e da educação; grêmios literários para formação de escritores, declamadores, teatrólogos, etc. Cultivava-se a comunicação através de jornais murais, jornais impressos. Criamos anualmente a Semana do Estudante. Fazíamos feiras do livro, buscando livros em consignação nas principais livrarias da cidade. Tínhamos campeonatos culturais e esportivos intercolegiais. Fazíamos excursões culturais, festas, piqueniques, etc.

Tudo traduzindo uma grande efervescência de grupos, entretenimentos e diversões à escolha dos fregueses. Acho que hoje estamos muito longe de tudo isso.

Criamos na época escolas de catequese, dentro do Regional de Catequese CNBB, um Instituto Superior de Pastoral Catequética que depois nos levou à participação na Equipe Nacional de Catequese na CNBB Nacional e depois levamos o resultado de todas as nossas buscas à reunião do Congresso internacional de Catequese onde lançamos os princípios de uma Catequese Libertadora.

O ritmo ascensional da Congregação atingiu seu máximo quando, no ano de 1961, somados os Irmãos de votos temporários com os Irmãos de votos perpétuos, alcançamos um total de 9997 religiosos. Faltaram apenas três para completarmos 10 mil Irmãos Maristas, a serviço da evangelização e da educação, no mundo inteiro.

De 1961 para cá, num espaço de apenas 50 anos, ficamos quantitativamente falando, reduzidos a um terço do que éramos em 1961. Pelo último levantamento estatístico que a secretaria provincial me forneceu, somos, hoje, 3330 Irmãos Maristas no mundo.

A primeira constatação é que estamos em franco descenso. Menos ainda porque não somos uma ilha. Em redor de nós todos, no mundo, afirmam que vivemos uma crise sem precedentes na história universal. Afirmam todos que não se trata mais de era de mudança, mas sim uma mudança de era. Nossos tempos, hoje, estão correndo tão rapidamente que estamos diante de um enorme salto qualitativo a dar a fim de nos adaptarmos a eles. Como Congregação e com certeza como a própria Igreja, estamos 300 anos atrasados no dizer do cardeal Martini, cardeal-arcebispo de Milão, falecido há uns três anos.

Como Irmãos Maristas, por ocasião de nosso bicentenário congregacional, temos que nos refontizar junto às nossas raízes, em busca do profetismo inicial que animou o fundador.

Educação no Brasil

Acompanhei, anos atrás, uma pesquisa de universidade do Estado de São Paulo sobre a educação no Brasil. Três eram as instituições clássicas que mais influenciavam para uma boa educação: a família, a escola e a Igreja. Hoje, essas instituições tradicionais somente influenciam 30% na educação, os outros 70% que formam o caráter da juventude acontecem em espaços alheios aos, até bem pouco, tradicionais. Para formar “bons cristãos e virtuosos cidadãos” na expressão do fundador, temos que buscar alhures se quisermos ser úteis ao mundo e satisfeitos conosco mesmos, sentindo que estaremos construindo tanto história da humanidade quanto história de salvação cristã.

O bicentenário ano de 2017 nos obriga a um VER-JULGAR-AGIR, munidos dos melhores instrumentos de análise da realidade a mais global possível, banhada num conhecimento da vida de Jesus com os aprofundamentos obtidos nas ciências exegéticas mais atualizadas, que só alcançaremos à luz de uma teologia da libertação do modelo de cristianismo tipicamente latino-americano que nosso atual papa Francisco está estendendo para o universo inteiro que ele protagoniza como primeiro papa jesuíta e latino-americano.

A crise global que vivemos todos, hoje, condensa todas as dificuldades somadas pelas quais passamos durante nossos 200 anos de existência congregacional que foram se acumulando, talvez mesmo por não termos seguido as pegadas de Champagnat, descurando nós uma atualização permanente aos tempos, como ele caminhava atualizado em relação ao salto qualitativo dado pela revolução francesa que desconjuntou tudo que era tradicional até então. 

Nosso prestígio e fama de maristas vêm do fato de que, no Brasil, nos 115 anos em que aqui estamos, formamos majoritariamente elites nacionais econômicas, políticas, educadoras, banqueiras, comerciárias, científicas, latifundiárias, militares, etc.

IHU On-Line - Entre as mensagens dos maristas, destaca-se “ser referência no exercício da missão de evangelizar, por meio da educação”. Como tem se realizado essa proposta num mundo secularizado e diante da diversidade religiosa?

Antônio Cechin - Graças a Deus — que é brasileiro — face à secularização galopante que ocorre no primeiro mundo, nossa nação continua vivendo em clima de forte religiosidade. A secularização, salvo alguns ambientes especialíssimos no Brasil, é fenômeno quase que exclusivo dos países ricos da América do Norte e da Europa. No meu entender, ainda não se espraiou pelo Brasil, nem pelo terceiro mundo.

Se o objetivo central da congregação dos Irmãos Maristas é a Catequese e a Educação, deveríamos mesmo “ser referência no exercício da missão de evangelizar, por meio da educação”.

“A família Champagnat soube separar o joio do trigo”

Tendo em mãos instituições para todos os graus de ensino, desde o primário, passando pelo secundário e culminando no universitário, me pergunto: Por que uma universidade nossa, com a mais variada gama de Faculdades e Cursos, com pesquisas de todo o tipo, por que ainda não disponibiliza um Instituto Superior de Pastoral Catequética, formador de autênticos catequistas? E por que não ter constantes pesquisas sobre a Evangelização? Será que poderia haver algo melhor do que um tal Instituto para definitivamente nos tornarmos “referência local, nacional, continental e mesmo mundial no exercício da missão de evangelizar, por meio da educação”.

A catequese como arte

A Catequética, para além de ciência teológica, é muito mais uma arte. Mais do que dirigir-se à inteligência, a fé cristã fala à emoção, ao coração, à Verdade mais profunda das consciências, ao simbólico, ao belo e ao poético. A fim de se conseguir a tríplice fidelidade: ao conteúdo, ao sujeito e ao método da catequese, necessitamos do concurso de outras ciências, como a psicologia que nos abra o caminho para uma catequese das diferentes idades: a idade infantil, a pré-adolescência, a adolescência, a juventude, a idade adulta e a melhor idade.

Para preparar a juventude à militância, temos que ter presentes os princípios básicos da sociologia, da antropologia, etc.

A ciência exegética bíblica desencadeada fortemente pelo papa Pio XII, tendo como principal protagonista o cardeal Bea, jesuíta, deu foros de cidadania às pesquisas sérias na Bíblia com a encíclica “o divino Espírito Santo inspirador” no ano de 1943, no momento em que os exegetas protestantes já corriam lá na frente com suas pesquisas iniciadas com seriedade, no início do século XX. A partir das pesquisas exegéticas do século XX o conteúdo bíblico para a catequese foi enriquecido sobremaneira para além dos catecismos, história sagrada, catecismo de Nossa Senhora aos sábados, que usamos muito em nossas escolas.

Em Paris, no Instituto Superior de Pastoral Catequética, estuda-se com afinco a Catequese para os chamados excepcionais (handicapés) ou pessoas com necessidades especiais, como as chamamos hoje. O esforço que os Catequistas franceses fizeram nas pesquisas com esse tipo de pessoas, a fim de atingir-lhes em cheio o coração, às voltas com problemas de cegueira, mudez, paralisia, síndrome de Down, etc. redundou não só numa catequese esporádica para preparação de tal ou tal sacramento, mas que atravessasse todas as idades, começando pelas crianças com uma fé de tipo infantil cuja referência básica é sempre o amor dos pais, para aos poucos amadurecerem para uma fé adulta sempre crescente rumo à fonte de todo o amor que é o Deus Trindade, culminando com a catequese da melhor idade que é a velhice.

Os benefícios conseguidos com cansativos esforços para atingir em plenitude o coração e a emoção dos excepcionais beneficiou não só em muito a evangelização, mas melhorou muito a própria educação normal das escolas primária, secundária e mesmo superior, nos métodos de formação de cidadãos virtuosos.

Questões

Por que hoje não se ouve mais falar em movimentos católicos juvenis tais como tínhamos no passado, como a congregação mariana, o apostolado da oração, os vicentinos e especialmente a Juventude Estudantil Católica? Essa última nunca substituída por algo que a pudesse superar hoje? Por que não se organizam grupos de Fé e Política para uma militância na sociedade contemporânea como se fazia nos tempos que antecederam à ditadura militar e que fez até mártires entre os jovens? Cada qual escolhendo para si o que mais lhe convém no exato momento da vida em que talvez necessitasse mais de uma devoção, de uma pia associação, de um movimento, de tal ou tal militância, etc.

Naqueles anos, a Juventude Católica subia morros em busca dos temas geradores preconizados pelo método empoderador do povo descoberto por Paulo Freire, que começava com a alfabetização e a conscientização em centros de cultura. É apoiando e participando de movimentos populares que se robustece a juventude em sua dimensão normal de rebeldia e de vontade de transformar o mundo que a rodeia.

IHU On-Line - Qual o legado de Champagnat? Como, entre os maristas, se vive esse legado?

Antônio Cechin - Já referi anteriormente que, para mim, o legado de Champagnat é resumível nos três itens: a) Devoção a Maria; b) a defesa dos direitos humanos; c) a evangelização e a educação com o objetivo de formar “bons cristãos e ótimos cidadãos”.

Na devoção a Maria, temos que caminhar decididamente de uma fé infantil, mais ou menos sentimental como a de uma criança, para uma fé adulta que só atingiremos quando, à semelhança de Jesus, chegar a nossa hora. Para Jesus, a sua hora era a da revelação total de seu mistério de Messias e Salvador que aconteceria quando de sua Paixão, Morte na Cruz e Ressurreição. E para nós, qual é a nossa hora? Lembremos o apóstolo João que marcou em seu Evangelho a hora do seu Encontro-experiência de paraíso com Jesus de Nazaré, o Filho de Deus: foi às 4 horas da tarde.

É São Paulo que esclarece sobre o assunto fé infantil e fé adulta: “Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Quando me tornei adulto, rejeitei o que era próprio de criança. Agora nós vemos num espelho, confusamente, mas, então veremos face a face. Agora, conheço apenas de modo imperfeito, mas, então, conhecerei como sou conhecido. Atualmente permanecem estas três coisas: fé, esperança e caridade. Mas a maior delas é a caridade”. Com fé adulta é que se têm encontros interpessoais ricos com a pessoa de Cristo, em tudo igual a nós humanos, exceto no pecado.

Tendo Cristo no coração fica fácil fazer memória dele lendo na transparência dos fatos e realidades de cada dia, a sua presença a iluminar-nos rumo aos caminhos mais certos do cumprimento tanto da vontade do Pai, quanto aos passos a dar no projeto de Jesus que é a construção do Reino de Deus.

Foi exatamente quando, nas periferias, comecei a ajudar o povo a se organizar em comunidades eclesiais de base da teologia da libertação e fiz amizade com mulheres e mães de família, concretizei para mim um retrato mais próximo da Mãe do Filho de Deus, como é narrado nos evangelhos. Foi através da arte de a) nunca cessar de denunciar a situação de miserabilidade e de desrespeito aos direitos humanos e b) com vistas mais do que atentas, valorizar e estimular todo e qualquer pequeno valor que anda escondido na vida diária deles, como a vasculhar qualquer mínimo perfume que se oculta em toda e qualquer pequenina flor, que comecei a amar Maria a Mãe de Jesus com uma fé bem mais adulta e madura.

Defesa dos direitos humanos

Quanto à defesa dos direitos humanos, em meus anos de magistério, já como adjunto regional da Juventude Estudantil Católica, manuseando o instrumental global de análise descoberto pelo grande cientista sociólogo Marx, comecei a dominar uma correta análise de classe descobrindo as causas da pobreza, fui perdendo primeiro minha consciência mítica sobre não poucas realidades, depois a consciência ingênua que eu tinha sobre outras realidades, para adquirir uma consciência eminentemente crítica a respeito de tudo e até, nos dias de hoje, adentrando para uma consciência científica, isto é, que procura descobrir toda a ferramentaria científica que a humanidade foi alinhando para conhecer a realidade de todo o processo de caminhada da humanidade e que me vai colocando sempre com luz maior o processo histórico da humanidade desde Adão e Eva até os dias de hoje. Instrumentos científicos como a exegese bíblica, a arqueologia, a paleontologia, a geologia, etc. que nos fazem descobrir a realidade dos tempos de Cristo hoje, com muito mais clarividência do que os cristãos que viveram 100 anos após a morte e ressureição de Cristo e os começos da Igreja.

Com toda essa consciência histórica adquirida e vivenciada, consegui viver diariamente a alegria de estar construindo história e processo histórico de salvação. Hoje tenho pena de quem não tem a satisfação de estar construindo história, coisa que em minhas aulas de colégio jamais consegui sentir tamanha alegria porque tudo me parecia rotina e repetição das mesmas coisas.

Partindo de todas as virtudes e pontos positivos que ia encontrando nessas mulheres pobres e desprezadas das comunidades que íamos ajudando a organizar. Levamos sempre de um programa, que me forneceu o teólogo Pablo Muñoz: Vivendo e trabalhando em meio aos pobres: 1) nunca cessar de denunciar a situação de miserabilidade e de desrespeito aos direitos humanos; 2) com olho bem atento, valorizar imediatamente e estimular todo e qualquer pequeno valor que anda escondido na vida diária deles, como que a vasculhar qualquer pequeno perfume que se oculta em toda e qualquer pequenina flor campestre.

Trabalho social

Nas periferias, muito mais do que em homens, mas em não poucas mulheres pobres, toquei com os dedos a santidade e mesmo a heroicidade que viviam, que faziam. Experimentei inúmeras vezes a excepcional santidade, fora do comum, como essas mães pobres amavam seus filhos e marido. Mães que depois de um dia estafante em faxina doméstica, voltando à casa, à noitinha, ainda tinham muito mais do que uma sobra de energia para passar vigílias inteiras, sem dormir, junto à cabeceira de filhos doentes e febricitantes. Verdadeiros sinais de amor em grau heroico, autênticos milagres de santas vivas.

Em afirmação dos direitos humanos dos mais pobres, pude também exercitar-me quando, ligado à Comissão Pastoral da Terra, tive a ocasião de ir contemplando o empoderamento do Movimento Popular chamado MST que hoje é o mais forte e badalado Movimento Popular do Mundo inteiro, do qual sou também cofundador junto à equipe da CPT.

Atuando na Via Campesina, pude também recuperar a importância histórica das Missões Jesuíticas no início do Rio Grande do Sul com seus Sete Povos das Missões. As lutas dos camponeses das CEBs de hoje estão sendo reconhecidas até publicamente como o Oitavo Povo das Missões, continuidade perfeita dos primitivos Sete Povos das Missões.

Atualmente, estamos tentando, junto aos catadores, carrinheiros, carroceiros, organizar, nos meios urbanos, a réplicado MST para os meios urbanos com o Movimento Estadual de Catadores. 

Com duas ferramentas que criamos para gente pobre, que são a Romaria das Águas e a Bicicletada Caminho de São Sepé, Terra para plantar e terra para morar.

IHU On-Line - Em 2017 os maristas comemoram o bicentenário da ordem. Como esse acontecimento e a figura de Champagnat nos inspiram a refletir sobre o cristianismo hoje?

Antônio Cechin - O Homem-Deus Jesus de Nazaré tornou-se Verbo feito carne em pessoa humana, na plenitude dos tempos, num determinado país, numa determinada cidade e numa determinada cultura. Portanto Jesus foi um homem de seu tempo e infinitamente perfeito na leitura que fez dos sinais dos tempos que eram os seus.

Champagnat igualmente foi um homem de seu tempo. Na transparência dos fatos, soube ler com perfeição divina os sinais dos seus tempos.

A Congregação dos Irmãos Maristas como um todo e cada Irmão individualmente, a exemplo de Champagnat e no seguimento de Jesus, por ocasião do ano de 2017, comemorativo do bicentenário, devemos todos saber ler os sinais dos tempos, nos fatos e acontecimentos dos dias de hoje.

Hoje, o modelo de cristianismo tipicamente latino-americano é o das Comunidades Eclesiais de Base, da Catequese Libertadora e da Teologia da Libertação. Esta Teologia da Libertação é definida por todos os que a praticam como a Teologia dos Sinais dos Tempos.

“Lendo e meditando a vida do fundador me convenci de que Champagnat não fundou a Congregação dos Irmãos Maristas para pobres em geral, mas sim para os mais pobres dentre os pobres, isto é, os pequeninos, os últimos, os excluídos por excelência”

Concílio Vaticano II

Estamos convencidos de que o Concílio Vaticano II, do papa João XXIII, foi atualizado para os tempos da Ameríndia de hoje durante a celebração do próprio Concílio, através do Pacto das Catacumbas coordenado pelo bispo brasileiro Dom Helder Camara e logo em seguida atualizado mais ainda e divulgado para todo o continente através da grande assembleia latino-americana dos bispos em Medellín no ano de 1968. Essas sucessivas atualizações do Concílio Vaticano II desde seu macroprocesso universal do Vaticano II, desencadeado em Roma pelo Papa, passando na mesma cidade, pelo Pacto das Catacumbas, depois por Medellín que representa o microprocesso local ameríndio, deve ser o acontecimento-guia de nossas ações hoje, tanto para a evangelização como para a educação e a militância em favor dos direitos humanos.

Pacto das Catacumbas

O Pacto das Catacumbas por uma Igreja pobre contém 13 itens. Cito apenas três que nos interessam particularmente para a refontização ou volta-às-raízes que devemos fazer por ocasião de nosso bicentenário marista.

Item 1) Procuraremos viver segundo o modo ordinário da nossa população, no que concerne à habitação, à alimentação, aos meios de locomoção e a tudo que daí se segue. Cf. Mt 5,3; 6,33s; 8,20.

Item 4) Cada vez que for possível, confiaremos a gestão financeira e material em nossa diocese a uma comissão de leigos competentes e cônscios do seu papel apostólico, em mira a sermos menos administradores do que pastores e apóstolos. Cf. Mt 10,8; At. 6,1-7.

Item 6) No nosso comportamento, nas nossas relações sociais, evitaremos aquilo que pode parecer conferir privilégios, prioridades ou mesmo uma preferência qualquer aos ricos e aos poderosos (ex.: banquetes oferecidos ou aceitos).

Nós devemos também ser pessoas dos dias de hoje, assim como Jesus de Nazaré foi Homem e Filho de Deus na dimensão humana, totalmente de seu tempo. Os exegetas ou biblistas de hoje, com as ferramentas científicas tais como a exegese, a paleontologia, a Geologia, a História, a geografia, a cosmologia, etc. estão nos desvendando a história humana da pessoa de Cristo com maior fidelidade e conhecimentos do que puderam conhecer as pessoas que nasceram 100 anos após a crucificação de Jesus. A pessoa humana de Jesus de Nazaré que, de tão humano que era, só Ele mesmo poderia ter sido reconhecido como o próprio Filho único de Deus.

E nós como catequistas, até pelo menos 60 ou 70 anos atrás ainda com o catecismo do Concílio de Trento elaborado por São Roberto Belarmino.

Futuro

Entendo que, como Congregação, temos muita estrada pela frente para treinarmos uma sadia leitura dos sinais dos tempos, que é a especialidade tanto da Catequese libertadora quanto a teologia da libertação. Temos que caminhar para, em cada lugar em que atuamos, conseguirmos fazer junto com o povo pobre pelo menos uma que seja a nossa própria comunidade eclesial de Base do povo pobre e também nossa.

A família Champagnat soube separar o joio do trigo. Soube casar fé com política, ideia-força das atuais Comunidades Eclesiais de Base, não raro e ao mesmo tempo também Ecológicas de Base e Ecumênicas (de preferência macroecumênicas porque também afro-brasileiras) de Base.

Pedro Casaldáliga costuma repetir: ou a gente sabe harmonizar fé com política assim como o pássaro sabe harmonizar suas duas asas para voar ou não vamos a lugar nenhum, porque no mundo de hoje tudo tem uma dimensão política, inclusive a própria fé cristã.

Sem algumas pitadas de marxismo não saberemos como manejar o instrumento global de análise da realidade. Três coisas essenciais temos que entender de marxismo: que ele é ao mesmo tempo a) uma filosofia ou uma metafísica; b) um instrumental global de análise da realidade; c) um conjunto de ideias-força a fim de transformar a realidade, isto é, uma ideologia.

Sem esses três princípios sociológicos fundamentais, o próprio método VER-JULGAR-AGIR da teologia da Libertação se torna impraticável, porque jamais conseguiremos fazer uma análise de classe do sistema capitalista que nos governa. Jamais entenderemos porque a maioria dos pobres tem cabeça de rico, etc. etc.

IHU On-Line - Em que consistiria a ideia de um “novo começo” do Instituto Marista, tendo em vista o lema do bicentenário a ser comemorado daqui a três anos? Nesse sentido, em que aspectos seria preciso avançar, refletir?

Antônio Cechin - É o próprio Mestre Jesus que nos diz: “não se põe vinho novo em odres velhos porque o vinho novo arrebenta os odres velhos; nem tampouco se costura roupa nova em roupa velha porque a roupa velha rasga e estraga a roupa nova”.

Os tempos de hoje, no dizer dos melhores analistas, são tempos de crise em todas as dimensões da vida humana e do próprio planeta Terra.

Vivemos não em época de mudança, mas, sim, numa mudança de época. Para um começo de mudança de época convém um novo começo, como está sendo proposto para a Congregação às vésperas de seu bicentenário.

Segundo o meu faro estamos, na Igreja, vivendo uma era nova com um novo começo já desencadeado e à espera de operários novos para retomarem com fôlego o processo histórico de salvação da humanidade desencadeado pelo Filho de Deus Jesus de Nazaré. “Vinho novo para odres novos e nada de costura de roupas velhas com tecidos novos porque o rasgamento continuará acontecendo logo em seguida e com desastres sempre iguais.” É do Mestre de sempre essa última frase espraiada um pouco por mim.

O processo em que estamos hoje, nas pegadas e sob a guia de papa Francisco, foi desencadeado por Dom Helder Camara, o maior bispo brasileiro de todos os tempos, com seu discurso inteiramente novo por volta dos anos 1950, sobre a opção pelos pobres como um dever máximo da Igreja do Brasil.

Discurso este seguido à risca por Champagnat, por ocasião dos acontecimentos da revolução francesa que também foi uma mudança de época para o tempo dele.

No Brasil e de toda a Ameríndia do modelo de cristianismo latino-americano chamado também da Igreja e da Catequese Libertadoras, importa nos inserirmos entre os últimos dentre os últimos como Irmãozinhos de Maria que somos ao jeito de Champagnat. Arregaçar as mangas e pôr-nos a serviço nos grotões do interior e nas periferias do mundo urbano, na construção de autênticas comunidades eclesiais de base; de autênticos movimentos militantes na Igreja; a serviço da construção de autênticos movimentos sociais e populares para a construção de um mundo sempre mais humano e divino.

IHU On-Line - Deseja acrescentar algo?

Antônio Cechin - No dia 28 do mês de outubro se celebrou na congregação o aniversário exato do acontecimento em que Champagnat, Sacerdote recém-ordenado, no dia 28 de outubro do ano de 1816, prepara à morte o jovem João Batista Montagne, de 17 anos. Nesse dia decide o fundador dar início à Congregação dos Irmãos Maristas.

Nesse mesmo dia, desta mesma semana e mês de 2014, o Irmão Emil Turu, Superior Geral da Congregação, fez chegar a cada Irmão Marista do mundo inteiro uma carta circular em que é desencadeado o primeiro dos três anos que precedem a celebração do bicentenário da congregação-ano-2017. É um triênio de preparação:

2014: Ano Montagne; 2015: Ano Fourvière em que Champagnat e mais 11 colegas seminaristas, no santuário de Fourvière, se consagram ao serviço de Maria, a Mãe de Jesus, e fundam a Sociedade de Maria; 2016: Ano Lavalla, aniversário da inauguração da primeira casa comunitária de Irmãos Maristas.

“Graças a Deus — que é brasileiro — face à secularização galopante que ocorre no primeiro mundo, nossa nação continua vivendo em clima de forte religiosidade. A secularização, salvo alguns ambientes especialíssimos no Brasil, é fenômeno quase que exclusivo dos países ricos da América do Norte e da Europa”

Desencadeado então já está o Bicentenário Marista, que começa com a preparação num transcurso de três anos. Uma grande festa, todos sabemos que será grande mesmo, dependendo da preparação que dela se fizer.

Oxalá os Irmãos Maristas do Brasil, da Ameríndia e do mundo inteiro, com a mesma generosidade demonstrada pelo revolucionário Champagnat, defensor dos direitos humanos dos mais pobres, partam com coragem para um novo começo que, segundo meu modesto entender, significa andarmos todos, balizados pelo modelo de Igreja tipicamente latino-americano da teologia da libertação e sob a guia firme do timoneiro papa Francisco, que nestes últimos dias convocou para Roma seus queridos “cartoneros” de Buenos Aires, para uma arrancada mundial dos últimos, com vistas às lutas de transformação da vida no Planeta, retomando corajosamente o Concílio Vaticano II de João XXIII e o Pacto das Catacumbas de Dom Helder Camara.

Nossa missão marista, para fidelidade total aos tempos de hoje, é reencantar as Comunidades Eclesiais de Base através de Comunidades do Pão Nosso de Cada Dia, a exemplo do Mestre dos mestres, que se fez classe social na oficina de José e Maria, organizando ao mesmo tempo o povo do entorno de sua pequena cidade de Nazaré. Tais Comunidades do Pão têm a vantagem de poderem ser, ao mesmo tempo, Ecológicas de Base, Ecumênicas de Base e Eclesiais de Base - CEEEBs.

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Marcelino Champagnat. Um bicentenário e o desafio de refontizar as raízes e buscar o profetismo inicial. Entrevista especial com Antônio Cechin - Instituto Humanitas Unisinos - IHU