07 Mai 2024
"As bem-aventuranças são a nossa base espiritual e paradigma (cf. Mt 5, 1-12; Lc 6, 20-23). O resultado é a concretização do que é escatológico, no aqui e agora da história (cf. Mt 25, 35-46). O projeto é fomentado pela força da Eucaristia, fonte da vida e sinal perene da fraternidade universal. O nosso testemunho é eclesial e o nosso mandamento é o amor", escreve padre Matias Soares, mestre em Teologia Moral (Gregoriana), pós-graduado em Teologia Pastoral (PUC-Minas), membro da Sociedade Brasileira de Teologia Moral (SBTM), coordenador Arquidiocesano da Pastoral Universitária e pároco da paróquia de Santo Afonso M. de Ligório, Natal-RN.
Eis o artigo.
A paróquia de Santo Afonso, desde dois mil e vinte três, desenvolve um projeto de paróquias irmãs. A partir dos princípios da Doutrina Social da Igreja e os impulsos missionários do magistério do Papa Francisco (cf. EG cap. I), a nossa comunidade paroquial tem assumido o propósito de ser, tanto interna, quanto externamente, uma Comunidade de comunidades em estado permanente de missão. Essa é a nossa meta e é este o nosso sonho. O princípio da subsidiariedade deve ser colocado em prática, não só por quem está fora das estruturas eclesiásticas, mas ainda mais por quem está envolvido nelas. A fraternidade surge, deste modo, como o estilo de vida a ser assumido pelas paróquias que estão compondo uma Igreja Particular, ou seja, a Diocese.
Em tempos passados, a nossa paróquia já vivera uma experiência, também com a paróquia de São José de Mipibu, mais propriamente na comunidade rural do Pau Brasil. Ainda tínhamos a prática, a cada final de ano, da ‘Caravana Amor Fraterno’. Eram ações isoladas, mas que foram presságios para que assumíssemos uma reorientação do que fora vivido, com muito zelo e dedicação dos irmãos de presbitério e fiéis leigos, que nos antecederam com estas ações sociais. Com a ideia que temos na atualidade de que essas práticas solidárias precisam estar inseridas no projeto amplo de evangelização, e com as investidas do Papa Francisco, numa perspectiva de uma Igreja em ‘saída missionária’, fomos aprimorando a proposta e a inserimos no projeto de pastoral de conjunto, tendo em vista a conversão missionária de toda a paróquia. De modo que, o que está sendo vivido em nossos dias, está em plena sintonia com o capítulo IV da Alegria do Evangelho e o que ele ensina sobre a dimensão social da ação evangelizadora e a ética cristã.
O nosso trabalho missionário considera as necessidades espirituais e materiais da comunidade, como as potencialidades humanas que a nossa paróquia dispõe, com tantos profissionais das diversas áreas. Esse é o nosso olhar. Os maiores e melhores recursos que temos são as pessoas. Não é recurso material, mas são as pessoas, com seus olhares e condições humanísticas que podem fazer a diferença na promoção da dignidade dos demais irmãos e irmãs, que vivem em situações e contextos sociais de vulnerabilidade. O evangelho é a nossa referência de proposta e ação. É o Reino de Deus que queremos implantar. As bem-aventuranças são a nossa base espiritual e paradigma (cf. Mt 5, 1-12; Lc 6, 20-23). O resultado é a concretização do que é escatológico, no aqui e agora da história (cf. Mt 25, 35-46). O projeto é fomentado pela força da Eucaristia, fonte da vida e sinal perene da fraternidade universal. O nosso testemunho é eclesial e o nosso mandamento é o amor.
Tendo em vista, as paróquias que têm as possibilidades que temos e as que são constituídas em situações de periferias geográficas e existenciais, ouso considerar que num ‘plano de pastoral de conjunto’, em nossa Arquidiocese, seria de grande importância a proposição e realização do modelo de ‘paróquias irmãs’. Seria também um viés para o fortalecimento da Diocesaneidade. Um sinal da adesão ao significado teológico da Igreja Local. Dentre tantas possibilidades, esse seria mais um caminho exequível para vivermos a dimensão missionária das comunidades eclesiais. É necessária a projeção de metas. O estilo deve ser o da sinodalidade, através da comunhão, da participação e da missão. É um acontecimento que nos condiciona a um processo de conversão pastoral das estruturas paroquiais. Tanto para quem oferece, como para quem recebe. Não é colonialismo paroquial. Não! Todos vivem uma permuta de aprendizagem e troca de vivências. As subjetividades entrecruzam-se e acontece o amadurecimento humano, cristão e eclesial no reconhecimento dos valores uns dos outros.
Para o desenvolvimento deste projeto se faz necessária a busca de parcerias institucionais. Todos os sujeitos sociais são importantes. Os poderes constituídos, dentro de um direcionamento de parcerias, sem subserviências político-partidárias, são sócios imprescindíveis. As universidades públicas e privadas, com seus cursos de extensão, capital de conhecimento e condições humanas, são fontes de profícuo desenvolvimento deste e de tantos outros projetos. As outras comunidades cristãs e demais pessoas de boa vontade podem ser acolhidas nas ações. A nossa preocupação é com o bem comum e a justiça social. Esse protagonismo ainda pode ser fomentado e dinamizado pela Igreja e nela para o fortalecimento do ordenamento social.
Enfim, em preparação para o Jubileu de dois mil e vinte cinco, com o chamamento feito pelo Papa Francisco à oração, com o fomento de que “somos peregrinos na Esperança”, temos a responsabilidade de coletar e incentivar a construção de sinais de esperança. Nós, cristãos, temos essa grande missão, pois somos salvos pela esperança (cf. Rm 8, 24-25). Inseridos neste contexto de grandes desafios globais, com crises climáticas, guerras e desigualdades sociais, somos evocados a testemunhar a fraternidade e a amizade social, tanto nas nossas relações com os que estão distantes das nossas comunidades, como para com os que estão na dinâmica das nossas “Comunidades de comunidades”. Assim o seja!
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Paróquias irmãs. Artigo de Matias Soares - Instituto Humanitas Unisinos - IHU